Como o pai
que castiga os filhos para evitar-lhes sofrimentos futuros, não é outra a
intenção de impropérios que por vezes pintam por aqui dirigidos aos jovens, mas
sem pretensão de desrespeitá-los ou ofendê-los. Na verdade, a juventude é para
nós uma filha maltratada pelos estupradores da sociedade em sua infinita
maldade e que em vez de cadeia ocupam postos de mando nesta sociedade que
parece amaldiçoada face a tantos infortúnios. Um destes infortúnios é ouvir o
ministro dizer ser preciso apoiar o governo Temer a fim de não perder tudo que
já foi conquistado. A primeira parte da declaração do senhor ministro está só
nas linhas porque sendo ministro não haveria de dizer outra coisa para não
deixar de ser ministro. Mas, nas entrelinhas, está a seguinte dúvida: O que é
que já foi conquistado pelo governo, senão celas nas prisões? A juventude não é
mais que uma criança a ser protegida porque não tem ainda discernimento para
compreender a insustentabilidade que caracteriza sua sociedade de modo tão evidente
e perigoso a ponto de ter perdido a noção de tranquilidade. É, pois, em defesa
desta filha infeliz que nem mesmo sabe ser infeliz, face à inaceitabilidade de
ser a indecência, a falta de caráter e pudor, a característica de sua sociedade
de modo tão evidente que valoriza as mediocridades e as trata por excelências e
reis enquanto despreza e até mesmo persegue seus verdadeiros valores. De tanto
ver o sucesso das qualidades negativas em detrimentos das positivas, de tanto
ouvir falar ser preciso fazer isso e aquilo, mas só de falar sem que nada se
faça em prol de uma vida descente, talvez envaidecido pelo fato de ter o
professor, pesquisador e escritor de primeira grandeza Durval Lemos Menezes me
elevado à categoria de escritor quando incluiu um texto de minha modesta
autoria em um de seus livros, A República dos Miguelenses, mais um dos seus
abnegados trabalhos de interessantíssimo devorteio cultural sobre a formação e desenvolvimento
de nossa região, e pelos incentivos de outro escritor, Edimilson Santos Silva
Movér, ou do advogado e poeta Raimundo Cunha, como também por ter merecido
gratificante dedicatória num dos seus livros que me foi presenteado pelo
professor e escritor Evandro Gomes Brito, e também pela presença de quem nos honra
com sua visita (em média mil por dia), tudo isto somado a uma vontade muito
grande de levar até à juventude algo da experiência de quase um século de
observação da vida, deixo de lado a dificuldade com o vernáculo, assumo o mesmo
ar de superioridade de quando resolvi mandar e efetivamente mandei a depressão
para os quintos dos infernos, e sigo de peito estufado na tarefa de tentar
mostrar à juventude, considerada uma filha maltratada pela pusilanimidade de
falsos líderes, a necessidade de cuidar melhor de si e de seus filhos.
Para
começar o puxão de orelha, faz-se necessário antes de tudo que os jovens saibam
da urgência em se fazer com que as normas de comportamento estabelecidas pelas
leis sejam observadas por absolutamente todos os membros da sociedade, e, com a
mesma importância, que as punições nelas previstas também punam a todos indistintamente,
não se justificando sob hipótese alguma que ninguém a elas se sobreponha. Os
jovens devem atentar serem eles os maiores prejudicados com os desmandos dos
quais resulta o célebre “sabe com quem está falando?”. Esta cultura revela o
estado crônico de ignorância de sociabilidade em que ainda se encontra a
humanidade, e que precisa ser superado, tarefa para a juventude. Nota-se que os
seres humanos ainda têm muito da infantilidade dos tempos em que os fenômenos
da natureza representavam mistérios. Esta infantilidade se manifesta de forma
mais visível nas mulheres por afetar o universo feminino, enquanto entre os
homens, nem todos sentem necessidade de abrir um buraco na orelha para espetar
uma argola, embora grande quantidade de homens o façam, até mesmo senhores
grisalhos ou comentaristas de politicagem. A capacidade de raciocinar já amadureceu
o bastante para continuar tendo razão o historiador Henry Thomas quando chegou
à conclusão que o levou a afirmar ser o homem uma criatura estúpida e que seu
progresso tem sido muito lento (Henry Thomas, História da Raça Humana, página
16). Desta forma, que se apresse o passo para se afastar a estupidez de se
manter submisso aos desmandos. Não há porque estar de acordo com eles. As
imposições das leis têm necessariamente de ser observadas por todos, do
trabalhador ao bacana. No entanto, não passando de piada a afirmação legal de
serem todos iguais perante a lei, inviabiliza-se o bem-estar por todos
almejado. Apesar desta realidade, a ninguém ocorre dar à legislação caráter de
seriedade. Lembrando a conclusão de outro pensador por aqui citada por mais de
uma vez, de não ser possível resolver um problema enquanto perduram as
circunstâncias que lhe dão origem, tem-se que as circunstâncias que dão origem
ao problema do descumprimento das normas que visam o equilíbrio social é um
problema duplo: Serem as autoridades que elaboram as leis aqueles que as
infringem com maiores danos sociais, e o fato de serem estes fraudadores que
escolhem os aplicadores das sanções impostas. Desta situação resulta não passar
de quimera a esperança de justiça comumente implorada por sofredores em
lágrimas na televisão.
A vida tem sido tocada na base da mentira, da
falsidade e do engodo. Acreditar na imparcialidade dos aplicadores da lei
equivale a acreditar em Papai Noel porquanto é supor haver seres humanos com
elevação espiritual capaz de abnegação bastante, o que demanda firmeza de caráter
e espírito de solidariedade para conter-se diante de um tesouro sem lhe meter
as mãos. Como isto ainda é incompatível com a barbárie atual, aí estão
advogados deputados, senadores e ministros jurando aos pés da cruz que bandido
não é bandido. Nem podia ser de outra forma, vez que o tesouro está entregue às
pessoas que ainda não conseguem se segurar por lhes ter sido inculcada a
cleptomania na personalidade, juntamente com os nutrientes da amamentação.
Com exceção
de raros gatos pingados, os julgadores estão ligados aos julgados por laços de
amizade ou de companheirismo nas falcatruas, resultando daí que os julgamentos
são um faz de conta. Quando um governo em julgamento transforma o ministro da
justiça em ministro do STF, busca a proteção do companheirismo, o que leva à
conclusão inevitável da necessidade de haver participação dos administrados na
administração para que haja a necessária transparência nos atos das
autoridades. Enquanto as autoridades só tiverem a si mesmas a quem prestar
contas, pode tirar o cavalo da chuva que a malandragem própria de todos os
seres humanos sem nenhuma distinção continuará fazendo crer que as autoridades
sejam realmente excelências e merecedoras da vida de regalias que o povo alheio
a tudo lhes dá.
O egoísmo,
próprio de todo ser vivo, para ser contido, exige elevação espiritual
impossível de ser encontrada em seres tão brutos que se matam entre si. Mas
tais elucubrações nem passam pela mente de quem vive a correr atrás de
dinheiro. Enquanto for assim, predominará a brutalidade que identifica a
sociedade humana com a dos irracionais. Portanto, chega de falar em mudança por
trocar de governo por ser apenas trocar a vestimenta das malandragens. A maior
de todas as malandragens é a de apontar defeito na Operação Lava Jato. Ela
representa o começo da verdadeira mudança ao mostrar ser impossível deixar a
riqueza pública à mercê das autoridades, simplesmente por ser impossível haver
quem mereça confiança. Dinheiro é roubado aqui, ali e acolá. A imprensa, embora
se beneficiando dos desmandos, tendo por ofício dar notícias, noticia a
roubalheira escancarada entre administradores públicos e as grandes empresas,
merecendo da população apenas comentários indignados, às vezes até mesmo em tom
de brincadeiras, sem nunca merecer uma discussão séria sobre como resolver o
problema. É preciso mais do que qualquer outra coisa se atentar para o fato de
não haver escassez de dinheiro para coisa alguma. PARA COISA ALGUMA! No
entanto, falta dinheiro para tudo. Onde estaria ele? Usando daquilo que a
juventude mais entende, o futebola, levantada a bola, fica o resto por conta
dos jovens, os mais prejudicados.
Estes
pobres e inocentes jovens atarantados, lutando ansiosamente por um lugarzinho
ao sol, precisam ser despertados para a
realidade de lutarem uma luta inglória porque a recompensa pela luta que eles
lutam não passará de evitar cair no rol dos excluídos uma vez que este
lugarzinho ao sol está reservado para ladrões do dinheiro público,
profissionais da esquisita profissão de dizer que ladrão confesso é inocente,
lugares estes de tal relevo que seus ocupantes são elevados à categoria de
EXCELÊNCIAS. A estes privilegiados donos dos lugares onde o sol é mais
brilhante e a vida uma beleza, encontra-se outra categoria de privilegiados que
são os empregados do pão e circo, cuja importância eleva seus ocupantes à
categoria de REIS, FAMOSOS E CELEBRIDADES. Por conta de tamanha distorção é que
a juventude carece de proteção. Não se pode deixar uma criancinha vagar no meio
do trânsito caótico de abastadas inutilidades que ocupam o lugar das poucas
pessoas nobres. Inté.
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