sexta-feira, 7 de julho de 2017

ARENGA 431


Como o pai que castiga os filhos para evitar-lhes sofrimentos futuros, não é outra a intenção de impropérios que por vezes pintam por aqui dirigidos aos jovens, mas sem pretensão de desrespeitá-los ou ofendê-los. Na verdade, a juventude é para nós uma filha maltratada pelos estupradores da sociedade em sua infinita maldade e que em vez de cadeia ocupam postos de mando nesta sociedade que parece amaldiçoada face a tantos infortúnios. Um destes infortúnios é ouvir o ministro dizer ser preciso apoiar o governo Temer a fim de não perder tudo que já foi conquistado. A primeira parte da declaração do senhor ministro está só nas linhas porque sendo ministro não haveria de dizer outra coisa para não deixar de ser ministro. Mas, nas entrelinhas, está a seguinte dúvida: O que é que já foi conquistado pelo governo, senão celas nas prisões? A juventude não é mais que uma criança a ser protegida porque não tem ainda discernimento para compreender a insustentabilidade que caracteriza sua sociedade de modo tão evidente e perigoso a ponto de ter perdido a noção de tranquilidade. É, pois, em defesa desta filha infeliz que nem mesmo sabe ser infeliz, face à inaceitabilidade de ser a indecência, a falta de caráter e pudor, a característica de sua sociedade de modo tão evidente que valoriza as mediocridades e as trata por excelências e reis enquanto despreza e até mesmo persegue seus verdadeiros valores. De tanto ver o sucesso das qualidades negativas em detrimentos das positivas, de tanto ouvir falar ser preciso fazer isso e aquilo, mas só de falar sem que nada se faça em prol de uma vida descente, talvez envaidecido pelo fato de ter o professor, pesquisador e escritor de primeira grandeza Durval Lemos Menezes me elevado à categoria de escritor quando incluiu um texto de minha modesta autoria em um de seus livros, A República dos Miguelenses, mais um dos seus abnegados trabalhos de interessantíssimo devorteio  cultural sobre a formação e desenvolvimento de nossa região, e pelos incentivos de outro escritor, Edimilson Santos Silva Movér, ou do advogado e poeta Raimundo Cunha, como também por ter merecido gratificante dedicatória num dos seus livros que me foi presenteado pelo professor e escritor Evandro Gomes Brito, e também pela presença de quem nos honra com sua visita (em média mil por dia), tudo isto somado a uma vontade muito grande de levar até à juventude algo da experiência de quase um século de observação da vida, deixo de lado a dificuldade com o vernáculo, assumo o mesmo ar de superioridade de quando resolvi mandar e efetivamente mandei a depressão para os quintos dos infernos, e sigo de peito estufado na tarefa de tentar mostrar à juventude, considerada uma filha maltratada pela pusilanimidade de falsos líderes, a necessidade de cuidar melhor de si e de seus filhos.

Para começar o puxão de orelha, faz-se necessário antes de tudo que os jovens saibam da urgência em se fazer com que as normas de comportamento estabelecidas pelas leis sejam observadas por absolutamente todos os membros da sociedade, e, com a mesma importância, que as punições nelas previstas também punam a todos indistintamente, não se justificando sob hipótese alguma que ninguém a elas se sobreponha. Os jovens devem atentar serem eles os maiores prejudicados com os desmandos dos quais resulta o célebre “sabe com quem está falando?”. Esta cultura revela o estado crônico de ignorância de sociabilidade em que ainda se encontra a humanidade, e que precisa ser superado, tarefa para a juventude. Nota-se que os seres humanos ainda têm muito da infantilidade dos tempos em que os fenômenos da natureza representavam mistérios. Esta infantilidade se manifesta de forma mais visível nas mulheres por afetar o universo feminino, enquanto entre os homens, nem todos sentem necessidade de abrir um buraco na orelha para espetar uma argola, embora grande quantidade de homens o façam, até mesmo senhores grisalhos ou comentaristas de politicagem. A capacidade de raciocinar já amadureceu o bastante para continuar tendo razão o historiador Henry Thomas quando chegou à conclusão que o levou a afirmar ser o homem uma criatura estúpida e que seu progresso tem sido muito lento (Henry Thomas, História da Raça Humana, página 16). Desta forma, que se apresse o passo para se afastar a estupidez de se manter submisso aos desmandos. Não há porque estar de acordo com eles. As imposições das leis têm necessariamente de ser observadas por todos, do trabalhador ao bacana. No entanto, não passando de piada a afirmação legal de serem todos iguais perante a lei, inviabiliza-se o bem-estar por todos almejado. Apesar desta realidade, a ninguém ocorre dar à legislação caráter de seriedade. Lembrando a conclusão de outro pensador por aqui citada por mais de uma vez, de não ser possível resolver um problema enquanto perduram as circunstâncias que lhe dão origem, tem-se que as circunstâncias que dão origem ao problema do descumprimento das normas que visam o equilíbrio social é um problema duplo: Serem as autoridades que elaboram as leis aqueles que as infringem com maiores danos sociais, e o fato de serem estes fraudadores que escolhem os aplicadores das sanções impostas. Desta situação resulta não passar de quimera a esperança de justiça comumente implorada por sofredores em lágrimas na televisão.

 A vida tem sido tocada na base da mentira, da falsidade e do engodo. Acreditar na imparcialidade dos aplicadores da lei equivale a acreditar em Papai Noel porquanto é supor haver seres humanos com elevação espiritual capaz de abnegação bastante, o que demanda firmeza de caráter e espírito de solidariedade para conter-se diante de um tesouro sem lhe meter as mãos. Como isto ainda é incompatível com a barbárie atual, aí estão advogados deputados, senadores e ministros jurando aos pés da cruz que bandido não é bandido. Nem podia ser de outra forma, vez que o tesouro está entregue às pessoas que ainda não conseguem se segurar por lhes ter sido inculcada a cleptomania na personalidade, juntamente com os nutrientes da amamentação.

Com exceção de raros gatos pingados, os julgadores estão ligados aos julgados por laços de amizade ou de companheirismo nas falcatruas, resultando daí que os julgamentos são um faz de conta. Quando um governo em julgamento transforma o ministro da justiça em ministro do STF, busca a proteção do companheirismo, o que leva à conclusão inevitável da necessidade de haver participação dos administrados na administração para que haja a necessária transparência nos atos das autoridades. Enquanto as autoridades só tiverem a si mesmas a quem prestar contas, pode tirar o cavalo da chuva que a malandragem própria de todos os seres humanos sem nenhuma distinção continuará fazendo crer que as autoridades sejam realmente excelências e merecedoras da vida de regalias que o povo alheio a tudo lhes dá.

O egoísmo, próprio de todo ser vivo, para ser contido, exige elevação espiritual impossível de ser encontrada em seres tão brutos que se matam entre si. Mas tais elucubrações nem passam pela mente de quem vive a correr atrás de dinheiro. Enquanto for assim, predominará a brutalidade que identifica a sociedade humana com a dos irracionais. Portanto, chega de falar em mudança por trocar de governo por ser apenas trocar a vestimenta das malandragens. A maior de todas as malandragens é a de apontar defeito na Operação Lava Jato. Ela representa o começo da verdadeira mudança ao mostrar ser impossível deixar a riqueza pública à mercê das autoridades, simplesmente por ser impossível haver quem mereça confiança. Dinheiro é roubado aqui, ali e acolá. A imprensa, embora se beneficiando dos desmandos, tendo por ofício dar notícias, noticia a roubalheira escancarada entre administradores públicos e as grandes empresas, merecendo da população apenas comentários indignados, às vezes até mesmo em tom de brincadeiras, sem nunca merecer uma discussão séria sobre como resolver o problema. É preciso mais do que qualquer outra coisa se atentar para o fato de não haver escassez de dinheiro para coisa alguma. PARA COISA ALGUMA! No entanto, falta dinheiro para tudo. Onde estaria ele? Usando daquilo que a juventude mais entende, o futebola, levantada a bola, fica o resto por conta dos jovens, os mais prejudicados.

Estes pobres e inocentes jovens atarantados, lutando ansiosamente por um lugarzinho ao sol, precisam ser  despertados para a realidade de lutarem uma luta inglória porque a recompensa pela luta que eles lutam não passará de evitar cair no rol dos excluídos uma vez que este lugarzinho ao sol está reservado para ladrões do dinheiro público, profissionais da esquisita profissão de dizer que ladrão confesso é inocente, lugares estes de tal relevo que seus ocupantes são elevados à categoria de EXCELÊNCIAS. A estes privilegiados donos dos lugares onde o sol é mais brilhante e a vida uma beleza, encontra-se outra categoria de privilegiados que são os empregados do pão e circo, cuja importância eleva seus ocupantes à categoria de REIS, FAMOSOS E CELEBRIDADES. Por conta de tamanha distorção é que a juventude carece de proteção. Não se pode deixar uma criancinha vagar no meio do trânsito caótico de abastadas inutilidades que ocupam o lugar das poucas pessoas nobres. Inté.

 

 

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