quinta-feira, 27 de julho de 2017

ARENGA 440


O mundo dos intelectuais é um mundo à parte. Enquanto as notícias giram unicamente sobre crimes, bandidos travestidos de autoridades, nudez e futilidades, intelectuais escrevem livros como A POLÍTICA EM TEMPOS DE INDIGNAÇÃO, de Daniel Innerarity com trezentas e três páginas das quais menos de uma contém assunto relevante no que diz respeito aos males da política dos quais decorrem os males que afligem a sociedade. As outras mais de trezentas e duas páginas são pura baboseira de intelectual. Coisas assim: “Um dos sintomas da nossa confusão política torna-se evidente no fato de não conseguirmos entrar em acordo acerca do âmbito em que devem ser tomadas as decisões: partidários da subsidiariedade, estatistas, constitucionalistas, federalistas, secessionistas, internacionalistas, todos fazem apelo a um princípio democrático, e é precisamente esse apelo democrático que torna especialmente inviáveis tais discussões.” De toda esta baboseira, entretanto, fica o ensinamento de que na Grécia antiga, idiota era quem não se interessava pelos assuntos relacionados à vida pública e que o grande pensador Péricles deplorava que em Atenas houvesse idiotas que não se preocupavam com aquilo que devia dizer respeito a todos. Aproveitando esta “deixa” o autor analisa com sabedoria que a palavra idiota hoje qualifica pessoas de pouco talento, quando, na verdade, idiotas são aqueles que só pensam em si próprios. Desta análise podemos também tirar nossa conclusão de que as pessoas tidas como idiotas ou de pouco talento seriam aquelas de vida modesta, ao contrário das pessoas tidas como espertas, arrojadas, que seriam aquelas que alcançam fortunas, o que só pode ser feito mediante os crimes contra a sociedade, dos quais se arrependem Sergio Cabral, Eduardo Cunha, e os demais que estão na cadeia e os que ainda irão para lá caso a juventude se emparelhe com a Operação Lava Jato denegrida por interesses escusos, mas, na realidade, um fenômeno social que desnudou a podridão do sistema político e a necessidade de sua substituição por algo que cabe a uma juventude mentalmente sadia dizer o que é porque no vazio não se pode ficar. Em minha modesta biblioteca há alguns livros que nada dizem. Não os jogo no lixo prá fazer bonito com mais livros nas prateleiras.

Em apenas três linhas da página 21, na introdução, do livro citado acima, o autor define todo o problema do desvirtuamento da política: ““Poderosos agentes econômicos ou impostores dos meios de comunicação estão muito interessados, por razões óbvias, em que a política não funcione bem ou não funcione em absoluto”. Pronto. Aí está o problema inteiro que impede a política de cumprir seu dever de cuidar do bem-estar social uma vez que “poderosos agentes econômicos” dos quais emanam as tais forças ocultas que a Lava Jato vem desocultando, por meio do fabuloso poder do dinheiro que tira da sociedade e divide com os meios de comunicação, estas forças satânicas estão empenhados em que a política não funcione em absoluto, no que sempre teve sucesso, até quando não se sabe.

Há, entretanto, livros dos quais nenhum resultado prático se observa. São divagações cujo objetivo é mostrar intelectualidade e fazer volume de páginas. Em minha modesta biblioteca existem alguns deles como Fissurar o Capitalismo, de John Holloway e Transcendentalismo e Dialética, de João Carlos Brum Torres. Do primeiro temos que “O casaco é valor-de-uso que satisfaz uma necessidade particular. Para produzi-lo, precisa-se de certo tipo de atividade produtiva, determinada por seu fim, modo de operar, objeto sobre o qual opera, seus meios e seu resultado. Chamamos simplesmente de trabalho útil aquele cuja utilidade se patenteia no valor-de-uso do seu produto ou cujo produto é um valor-de-uso”. Do segundo temos que “O trabalho é constituído pela separação ou abstração da atividade vital às exigências do trabalho. A atividade vital (ter filhos, cuidar deles, conseguir comida e prepara-la, e assim por diante) continua a existir fora da denominação imediata da produção de valor, mas a sua subordinação ao trabalho é assegurada através da sua dependência ao salário do trabalhador (ou da venda de outras mercadorias produzidas)”. Por acaso, isto tem algo a ver com crianças mortas ainda na barriga da mãe por balas perdidas? O mundo dos intelectuais é tão irreal que há intelectual ganhador de Prêmio Nobel que afirme ter o socialismo fracassado em proporcionar bem-estar social e que o capitalismo teve êxito. Como entender tal afirmação se do capitalismo resultou um minúsculo ponto de riqueza num mundo de pobreza, e se o socialismo no sentido de extinguir a miséria nunca foi implantado porque o capitalismo não deixa?

Não é de intelectualidade que o mundo padece, mas de racionalidade, de se pôr na posição do pensador de Rodin para se chegar à conclusão de estar na religião e na deturpação da finalidade da política a causa de absolutamente todo o mal da humanidade. Embora nascidas do mesmo parto, o da maldade, política e religião têm signos diferentes. De peculato, a política, e de estelionato, a religião. Em torno das duas giram tantas palavras inúteis que se encamboadas formariam uma corda que se rudiada em torno do planeta daria para cobri-lo de ponta a ponta. A ignorância é a força motriz que mantém a política e a religião em atividade, razão pela qual nada de bom se pode esperar nem de uma nem da outra. Estranho é que os intelectuais não se dediquem a expor esta realidade. É um círculo vicioso: a política e a religião alimentam a ignorância que alimenta de volta a política e a religião. O único problema dos quais emanam todos os outros é o desinteresse pela vida pública fomentado tanto pela política como pela religião uma vez que ambas têm muito a lucrar com isso. Desviada a atenção do povo do interesse relacionado à coletividade, o que fica é o interesse no particular. Daí o impasse de cada indivíduo se preocupar apenas consigo e os seus, embora dependendo de todos. Por todos os meios se impede que o povo saia da massa bruto de povo para se tornar esclarecido o bastante a fim de perceber o que há por trás de coisas como a notícia de que o governo vai liberar treze milhões para o carnaval do Rio de Janeiro, onde funcionários públicos estão sem receber salários por falta de dinheiro.

Através da história, as instituições que esfolam o rabo do povo não caem por ação inteligente de autodefesa do povo. Caem por terem apodrecido a ponto de não mais se sustentarem de pé. Na religião, apodreceram as crenças de ser o rei um deus, de condenar mulher à morte por crime de bruxaria, da inquisição, da submissão do Estado ao Papa, as procissões nas grandes cidades onde o tráfego não dá espaço, entre outras. Na política, apodreceram os direitos de se divertir com o espetáculo engraçadíssimo de fazer rolar de rir olhar leões devorando pessoas do povo que se conformavam em rezar no momento de serem devoradas. Também apodreceu a decisão unilateral do governante sobre a vida das pessoas, a de se beijar a mão do governante, embora se diga pelaí que um ministro brasileiro beijou a mão de um candidato à presidência dos Estados Unidos, o que deve ser verdade porque atualmente é de causar nojo as expressões ridículas de submissão e babaovismo com que Michel Temer e José Serra olham embevecidos para a cara de cavalo daquele secretário americano em fotos nos jornais. Tem sido muito triste o destino desta pátria desamada, onde o peculato da política e o estelionato da religião encontram campo fértil e abundante em consequência de ser maior a ignorância daqui do que a ignorância dos outros lugares onde o povo pensa que é civilizado.

Tudo que se diz e escreve em torno de política e religião pode ser jogado na latrina e puxar o cordão da descarga. No tocante à religiosidade, para se constatar tratar-se do maior engodo do mundo é suficiente subir num murundu e olhar à volta para se ver exatamente o contrário da irmandade pregada pela religião. Do lado da política, basta olhar os jornais para se constatar ser exatamente o contrário o resultado daquele que dizem os responsáveis pela ação política. Não afirmam eles que as leis existem para beneficiar o povo? Pois a declaração do agente político testa de ferro dos banqueiros, Henrique Meireles, no Jornal do Brasil, declarando que o aumento dos tributos sobre combustíveis está dentro da lei prova que a lei existe para prejudicar e não para beneficiar o povo.

Outra realidade que escapa ao interesse dos intelectuais é a independência política do Estado em relação à submissão ao poder da religião. Desde a laicização que o Estado tem poder de conduzir a educação, mas não faz uso desse poder para impor a antirreligiosidade perniciosa ao surgimento de ideias novas, do mesmo modo como impôs o cristianismo no império romano. Não poderá haver sociedade civilizada sem o povo saber que é da política que depende sua qualidade de vida. Mas a porca torce dois rabos é para acontecer uma política voltada para os interesses do bicho povo uma vez que a política foi apropriada pelos avarentos e inescrupulosos ricos donos do mundo, e a favor de seus interesses mesquinhos e criminosos é exercida. É por isso que todo o converseiro em torno de progredir uma melhor qualidade de vida social é desperdiçado e inútil porque a política tem intensões bem outras que passam a anos luz da fingida preocupação com o povo. Se a confusão serve para proteger o meliante contra a ação da polícia na rua, o que não falta na política é confusão da qual muito se beneficiam as “excelências” dos cargos públicos. O livro Representantes de Quem? do cientista Político Jairo Nicolau expõe com precisão a teia de aranha que a malandragem fez da política. Uma amostra: Cláusula de Barreira – Cláusula de Desempenho – Distritão – Distrito Misto – Fundo Partidário – Janela Partidária – Lista Aberta – Lista Fechada – Lista Flexível – Quociente Eleitoral – Regra da Verticalização – Representação Proporcional – Voto Distrital – Sobras – Presidencialismo – Bicameralismo – Federalismo – Representação Proporcional, entre outras como, por exemplo, o fato do voto do eleitor de Roraima valer nove vezes o voto do eleitor paulista. As ponderações sobre a política brasileira do professor Jairo lança a pá de cal sobre a esperança numa política autêntica quando diz ser virtude da democracia ter o povo o direito de avaliar os políticos, podendo, assim, punir os maus políticos na eleição seguinte. Ora, o grande mal da democracia é justamente o povo. As únicas coisas capazes de despertar interesso no povo são igreja, axé e futebola. Paulo Maluf é o exemplo perfeito da indiferença política do bicho povo. Condenado à prisão em outros países, o senhor Paulo Maluf, é reconduzido pelo povo paulista ao posto de mau político quantas vezes se candidate. Como, então, esperar que o povo tenha discernimento bastante para uma escolha inteligente? Foi o povo que deixou de escolher Eloisa Helena para o senado e escolheu Collor em seu lugar. Todo o problema vem da despolitização do povo. Depender a política de decisões tomadas por falsos líderes, sem que ninguém se interesse em saber a quem beneficiam tais decisões e o que estão fazendo do erário é alguma coisa de estupidez ilimitada só admissível por se tratar do bicho povo.

Nenhuma dificuldade há em saber o porquê de estar tudo errado. Pode parecer difícil colocar as coisas em seus devidos lugares. Da política emanando bons fluidos sobre a sociedade, hospitais atendendo indistintamente a todos que dele necessitem, escolas ensinando indistintamente a brancos, pretos, verdes e amarelos a importância da política e a desimportância da religiosidade. Em poucas palavras pode ser dita a realidade de estar tudo podre em termos de administração pública e que só uma juventude mentalmente sadia é capaz de engendrar algo capaz de promover o desenvolvimento espiritual necessário a um sentimento de irmandade. Inté.    

 

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