domingo, 23 de julho de 2017

ARENGA 438


Nenhuma sociedade funciona a contento se seus associados se limitam a pagar as mensalidades. Ao contrário, tão importante quanto as mensalidades para atender as despesas, é também a participação dos associados no tocante aos destinos de sua sociedade. É por isto que o melhor sócio de um clube não é aquele que paga suas mensalidades pontualmente, mas aquele que além de pagá-las frequenta seu clube com assiduidade, além de opinar sobre possíveis mudanças para melhor funcionamento da instituição. Deixar o dinheiro e desaparecer é fazer papel de bobo poque ainda não existe absolutamente ninguém no mundo capaz de resistir à tentação de usar em seu benefício um dinheiro que mesmo não sendo seu, está em seu poder e o dono não se interessa pelo destino dele. Não se pode saber quem é mais estúpido no que diz respeito à sociabilidade, se o que rouba ou o que se deixa roubar. É fartíssima a literatura sobre contos do vigário. Imbecis compram carros por telefone, pagam a entrada, e quando vão buscá-los já portando tinta e pincel para escrever nele o anúncio de ter sido um presente de Deus, descobrem terem sido vítimas de roubo, o que é muito bem feito. Se for perguntado a um destes imbecis o motivo pelo qual Deus não presenteia ninguém com um Lamborghini como os de Collor e Eike Batista, responderá que quem pode comprar é rico e que Deus só ajuda a quem precisa. E à pergunta sobre o porquê de Deus não ajudar as criancinhas que morrem de fome ou que são lançadas nas praias geladas ao fugirem da brutalidade humana e que precisam tanto de ajuda, responderá que os mistérios de Deus não são para serem discutidos. E é assim que caminha a humanidade, embora de olhos desimpedidos não enxerga a realidade, enquanto a justiça, mesmo com os olhos vendados, enxerga que é uma beleza onde há ouro.

Fora das exceções que existem para encher o saco contrariando as regras, em absolutamente nenhum palmo da Terra existe alguém dotado de elevação espiritual suficiente para a compreensão do sentimento de irmandade que deveria unir os seres humanos em torno de um modo de vida agradável para todos. O tremendo espalhafato que se faz em torno de alguém pelo fato de devolver ao dono um valor que ele perdeu, prova a falta de solidariedade da qual resulta a infelicidade das guerras. A necessidade de guerras é a prova irrefutável do estado de animalidade em que ainda se encontram os seres humanos perdidos em tamanha confusão em torno de seus problemas que giram como baratas chumbadas por detefon ou como o cachorro querendo pegar o próprio rabo, sem o discernimento que lhes permitisse atinar com as causas destes problemas. Na verdade, os seres humanos se portam como se não houvesse problema algum em torno de si. Os jovens, a parcela mais importante da sociedade, embora sendo a força motriz que dá vida e faz funcionar a sociedade, em vez de recompensa por esta atividade que lhe consome as energias, irão amargar uma velhice sem os cuidados que ela exige por falta do dinheiro que os asseguraria e que é usado com seu consentimento para pagar salários de cerca de dez milhões por mês a jogador de futebola. Mas em vez de se ligarem em seu futuro de prometidos horrores, por não botarem fé na velhice, estão os jovens certos de ser eterna a juventude. Assim, graças e esse erro monumental, só não se arrependerão de sua estupidez no futuro por lhes faltar o necessário discernimento para entender a possibilidade de conquistar uma vida com dignidade, inteiramente possível de ser conquistada. Afinal, nenhum jumento acha ruim sua vida de jumento.

Se a juventude está conformada com sua vida do jeito como ela se apresenta, as outras duas parcelas que completam a sociedade dos bichos humanos, velhos e crianças, estão também impossibilitados de contribuíram para a formação de uma sociedade civilizada porque os velhos são os jovens de ontem, com o mesmo grau de animalidade da qual provém a indiferença quanto à qualidade de vida, o que demonstram com a influência deletéria que exercem contra a sociedade. Quando no exercício de cargos públicos, invertem a posição de protetores para agressores da sociedade, tornando-se assim, o pior tido de ladrão que segundo observou Lima Barreto em Os Bruzundangas é aquele ladrão a quem a sociedade encarrega de protegê-la dos ladrões. Quanto às crianças, crianças que mães satisfeitas com vida paquidérmica despejam em cascata num mundo de doenças e candidato a passar fome e sede, estas futuras infelizes criaturinhas às quais se ensinam o caminho da igreja, do futebola e ojeriza à política, estão destinadas a serem os jovens de amanhã, conformados como os de hoje com canga no cangote e ferro no rabo.

Assim como grande número de igrejas e farmácias denunciam uma sociedade doente de corpo e alma, também de corpo e alma se pode conhecer a sociedade pelas notícias da imprensa. Vejamos algumas: 1 - “O acordo de delação firmado entre o publicitário Marcos Valério e a Polícia Federal, que detalha um esquema conhecido como Mensalão Tucano também atinge os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP), além dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB)”. 2 -  “Em uma das noites mais frias do ano, moradores de rua de SP são acordados com jatos d'água”. 3 - Juiz decide que pagamento de propina na Petrobras não é dano ao Erário. 4 -  A pobreza, o desempregado, o morador de rua, até mesmo os delinquentes da delinquência comum, são a consequência do que fizeram contra o país os grandes delinquentes que, no passado, eram chamados de "colarinho branco. Uma campanha eleitoral custa muito mais do que um político ganha em salários e benefícios em 20 anos de mandato.

Por que será que o candidato se propõe, a querer um cargo que lhe renderá apenas um quinto do que terá de gastar para ocupá-lo? Por que será que riquíssimos empresários querem ser funcionários públicos? Porque será que uma empresa dá prejuízo quando é pública e passa a dar lucro quando privatizada? Quem souber levanta a mão. Não vale nenhum dos jovens presentes soprar porque todos os jovens sabem a resposta na ponta da língua em virtude do seu altíssimo esclarecimento político. Inté.

 

 

 

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