Quando um
poderoso leão abate uma presa de grandes proporções, embora a comida seja
várias vezes superior à sua capacidade de consumir, mesmo assim se enfurece,
ataca e mata qualquer outro animal também faminto que se aproxima. Entretanto,
como a união faz a força, quando o intruso em vez de apenas um, é uma matilha
de cachorros selvagens, de modo que o poder da força resultante de sua união
supera o poder do leão sozinho, eles expulsam o leão simplesmente, mas não o
matam, e passam a comer. Este comportamento de irracionais é superior do ponto
de vista da atividade de viver do que o comportamento dos seres humanos, a obra
prima de Deus, segundo a estupidez que os caracteriza, visto que estes sempre
promoveram morticínios mesmo depois de já terem tomado o que imaginavam
precisar. Embora se possa alegar imprecisão no exemplo, porquanto a matilha
também atacaria outro animal faminto que se aproximasse, mesmo havendo alimento
suficiente para todos, ainda assim esse contra argumento não invalidaria o
exemplo pelo fato de se tratar de irracionais. Serve perfeitamente o exemplo
para levar à reflexão sobre a solidariedade entre eles, embora irracionais, e
que não existe entre os humanos, embora racionais. A solidariedade existente no
corporativismo entre os politiqueiros só se mantém até surgir oportunidade de
passar a perna no que está em posição mais elevada.
Existem no
mundo recursos materiais suficientes para que tenham absolutamente todos os
seres humanos a possibilidade de viver dignamente, condição tão justa quanto
necessária, uma vez que as necessidades não atendidas põem os necessitados
contra aqueles que os impedem de atendê-las, gerando, desta forma, conflitos
que inviabilizam a tranquilidade que deve ser o primeiro objetivo visado por
seres que apesar de pensantes, não pensam no que deveriam pensar, haja vista se
auto conduzir para a extinção. Dois são os erros crassos cometidos pela raça
humana: religiosidade e indiferença política. Aliás, a primeira, apesar da
seriedade com que se apresenta, tanto quanto as brincadeiras dos “famosos” e
das “celebridades”, faz parte do pão e circo, fonte do analfabetismo ou
indiferença política ao qual, se referiu Bertold Brecht como o pior tipo de
analfabeto por estar nele a fonte dos males que colocam obstáculos no caminho
rumo à civilização. Enquanto o analfabeto político diz ter nojo da política, o
Grande Mestre do Saber Giorgio Agamben, diz: “A tarefa que nos espera
consiste em pensar de cabo a cabo a “vida política”.
Os seres
humanos carecem da compreensão da necessidade de um espírito de irmandade que
una todos em torno de um sentimento de irmandade porque, na verdade, somos
todos irmãos. Independentemente das diferenças físicas, temos o mesmo começo, o
mesmo fim e as mesmas necessidades. A compreensão desta realidade é o que basta
para tudo o mais se normalizar porque enquanto não houver uma participação
direta de todos os interessados numa sociedade menos desigual, deixando esta
responsabilidade a cargo de falsos líderes, enquanto perdurar esta inexplicável
insensatez, não haverá a mínima possibilidade de terem os recursos públicos o
destino que devem ter, ou seja, promover meios para que todos vivam com
dignidade, o que exclui e existência de quem não possa ter alimentação,
assistência à saúde, educação, segurança contra o vandalismo humano, e à
moradia satisfatória. A conveniência do analfabetismo político é permitir que
as leis abriguem subterfúgios ardilosamente engendrados a fim de serem burladas
impunemente pelos privilegiados, daí e necessidade da extinção dos privilégios,
o que jamais acontecerá sem que haja interesse coletivo nesse sentido.
Por acaso,
na internete, dei com a sugestão para conhecer os dez aviões mais caros do
mundo, pertencentes a governantes. É simplesmente estarrecedor! O primeiro
deles, o da Arábia Saudita, o mais caro de todos, foi motivo de notícias da
imprensa do mundo pela exuberância da comitiva que transportava, mas todas as
notícias, evidentemente, sem tecer comentário quanto ao espalhafato perdulário.
A ninguém ocorre atinar com a realidade de resultar desta cultura de
desperdício a impossibilidade que tem o povo de atender as necessidades
mínimas, principalmente aquelas que a velhice impõe. E aqueles que acreditam
estar agindo normalmente, ainda que pessoas idosas, são incapazes de perceber
que tal disparidade não condiz com sociedade. Em termos de comunidade, nada,
absolutamente nada, pode justificar coisas assim: O rei saudita Salman al-Saud chegou à Indonésia esta quarta-feira para uma
visita de Estado de um mês à Ásia, que terá o objetivo de estreitar laços
económicos com o continente. Negócios à parte, foram os luxos da visita real
que saltaram à vista da comunidade internacional. Segundo o "The New York Times", a comitiva do rei chegou à
capital do país, Jacarta, em sete jatos privados e num avião miliar com 506
toneladas de carga. Dessas, 63 foram descarregadas em Jacarta e 396 vão ser
descarregadas só em Bali - para onde Salman vai a seguir. "Na mala",
vieram limusines e dois veículos elétricos para uso pessoal e exclusivo do monarca
de 81 anos. À chegada ao aeroporto de Jacarta, Salman al-Saud desceu por uma
escada rolante dourada de um jato pintado com as palavras "Deus vos
abençoe".
É uma
bobagem do tamanho do mundo manter uma série de palácios e uma casta de
semideuses a consumir fábulas de dinheiro. Os privilégios que o povo dá às
autoridades não devem ir além dos que as empresas privadas dão a seus
funcionários. Por mais importante que seja o administrador de uma empresa
privada, ninguém o chama de excelência, e olhe lá que esse pessoal trabalha
realmente em prol da empresa que lhe paga, ao contrário das “excelências” que
são pagas para fazer de conta que trabalham, quando não para roubar,
simplesmente. Há realmente algo de muito, mas realmente de muito esquisito no
comportamento do povo. Aliás, tem nada de errado, não. Afinal, povo existe para
levar cacete e chorar na televisão. Até quando? Inté.
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