sábado, 8 de julho de 2017

ARENGA 432


Quando um poderoso leão abate uma presa de grandes proporções, embora a comida seja várias vezes superior à sua capacidade de consumir, mesmo assim se enfurece, ataca e mata qualquer outro animal também faminto que se aproxima. Entretanto, como a união faz a força, quando o intruso em vez de apenas um, é uma matilha de cachorros selvagens, de modo que o poder da força resultante de sua união supera o poder do leão sozinho, eles expulsam o leão simplesmente, mas não o matam, e passam a comer. Este comportamento de irracionais é superior do ponto de vista da atividade de viver do que o comportamento dos seres humanos, a obra prima de Deus, segundo a estupidez que os caracteriza, visto que estes sempre promoveram morticínios mesmo depois de já terem tomado o que imaginavam precisar. Embora se possa alegar imprecisão no exemplo, porquanto a matilha também atacaria outro animal faminto que se aproximasse, mesmo havendo alimento suficiente para todos, ainda assim esse contra argumento não invalidaria o exemplo pelo fato de se tratar de irracionais. Serve perfeitamente o exemplo para levar à reflexão sobre a solidariedade entre eles, embora irracionais, e que não existe entre os humanos, embora racionais. A solidariedade existente no corporativismo entre os politiqueiros só se mantém até surgir oportunidade de passar a perna no que está em posição mais elevada.

Existem no mundo recursos materiais suficientes para que tenham absolutamente todos os seres humanos a possibilidade de viver dignamente, condição tão justa quanto necessária, uma vez que as necessidades não atendidas põem os necessitados contra aqueles que os impedem de atendê-las, gerando, desta forma, conflitos que inviabilizam a tranquilidade que deve ser o primeiro objetivo visado por seres que apesar de pensantes, não pensam no que deveriam pensar, haja vista se auto conduzir para a extinção. Dois são os erros crassos cometidos pela raça humana: religiosidade e indiferença política. Aliás, a primeira, apesar da seriedade com que se apresenta, tanto quanto as brincadeiras dos “famosos” e das “celebridades”, faz parte do pão e circo, fonte do analfabetismo ou indiferença política ao qual, se referiu Bertold Brecht como o pior tipo de analfabeto por estar nele a fonte dos males que colocam obstáculos no caminho rumo à civilização. Enquanto o analfabeto político diz ter nojo da política, o Grande Mestre do Saber Giorgio Agamben, diz: “A tarefa que nos espera consiste em pensar de cabo a cabo a “vida política”.

Os seres humanos carecem da compreensão da necessidade de um espírito de irmandade que una todos em torno de um sentimento de irmandade porque, na verdade, somos todos irmãos. Independentemente das diferenças físicas, temos o mesmo começo, o mesmo fim e as mesmas necessidades. A compreensão desta realidade é o que basta para tudo o mais se normalizar porque enquanto não houver uma participação direta de todos os interessados numa sociedade menos desigual, deixando esta responsabilidade a cargo de falsos líderes, enquanto perdurar esta inexplicável insensatez, não haverá a mínima possibilidade de terem os recursos públicos o destino que devem ter, ou seja, promover meios para que todos vivam com dignidade, o que exclui e existência de quem não possa ter alimentação, assistência à saúde, educação, segurança contra o vandalismo humano, e à moradia satisfatória. A conveniência do analfabetismo político é permitir que as leis abriguem subterfúgios ardilosamente engendrados a fim de serem burladas impunemente pelos privilegiados, daí e necessidade da extinção dos privilégios, o que jamais acontecerá sem que haja interesse coletivo nesse sentido.

Por acaso, na internete, dei com a sugestão para conhecer os dez aviões mais caros do mundo, pertencentes a governantes. É simplesmente estarrecedor! O primeiro deles, o da Arábia Saudita, o mais caro de todos, foi motivo de notícias da imprensa do mundo pela exuberância da comitiva que transportava, mas todas as notícias, evidentemente, sem tecer comentário quanto ao espalhafato perdulário. A ninguém ocorre atinar com a realidade de resultar desta cultura de desperdício a impossibilidade que tem o povo de atender as necessidades mínimas, principalmente aquelas que a velhice impõe. E aqueles que acreditam estar agindo normalmente, ainda que pessoas idosas, são incapazes de perceber que tal disparidade não condiz com sociedade. Em termos de comunidade, nada, absolutamente nada, pode justificar coisas assim: O rei saudita Salman al-Saud chegou à Indonésia esta quarta-feira para uma visita de Estado de um mês à Ásia, que terá o objetivo de estreitar laços económicos com o continente. Negócios à parte, foram os luxos da visita real que saltaram à vista da comunidade internacional. Segundo o "The New York Times", a comitiva do rei chegou à capital do país, Jacarta, em sete jatos privados e num avião miliar com 506 toneladas de carga. Dessas, 63 foram descarregadas em Jacarta e 396 vão ser descarregadas só em Bali - para onde Salman vai a seguir. "Na mala", vieram limusines e dois veículos elétricos para uso pessoal e exclusivo do monarca de 81 anos. À chegada ao aeroporto de Jacarta, Salman al-Saud desceu por uma escada rolante dourada de um jato pintado com as palavras "Deus vos abençoe".

É uma bobagem do tamanho do mundo manter uma série de palácios e uma casta de semideuses a consumir fábulas de dinheiro. Os privilégios que o povo dá às autoridades não devem ir além dos que as empresas privadas dão a seus funcionários. Por mais importante que seja o administrador de uma empresa privada, ninguém o chama de excelência, e olhe lá que esse pessoal trabalha realmente em prol da empresa que lhe paga, ao contrário das “excelências” que são pagas para fazer de conta que trabalham, quando não para roubar, simplesmente. Há realmente algo de muito, mas realmente de muito esquisito no comportamento do povo. Aliás, tem nada de errado, não. Afinal, povo existe para levar cacete e chorar na televisão. Até quando? Inté.

 

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