sábado, 29 de julho de 2017

ARENGA 441


No prefácio do segundo volume do livro Histórias da Gente Brasileira, da editora Leia Editora Ltda., sua autora Mary Del Priore chama a atenção para a realidade de que ao se maravilhar ao contemplar o mar, o que se vê dele é uma insignificância em relação à imensa grandiosidade que existe escondida sob a superfície, num fervilhar de vida e movimentos marinhos que o contemplador nem faz ideia da imensidão e da beleza escondidas. O mesmo acontece com a história dos seres humanos, complementa a autora. Em nossa modesta condição de observador da vida, percebemos acontecer fenômeno idêntico não só com a história, mas também com a vida dos seres humanos, embora talvez se possa considerar sinônimo de vida a história. Os ainda bichos humanos não sabem e não querem aprender nada sobre a vida por eles vivida. Percebe-se esta realidade no fato de ainda permitirem que representantes de Deus, na verdade nada mais que falsários, lhes digam o que é a vida e como vivê-la. É nesta recusa de se desenvolver mentalmente onde se encontra a razão de se viver tão mal. Cada ser humano é responsável por sua vida individual, e o conjunto deles é responsável pela péssima qualidade de vida coletiva onde ainda há espaço para a existência de inimigos e guerras. Nada de espiritualmente evoluído pode ser encontrado entre seres mentalmente tão medíocres que encontram injustificada para ter esperança em alguma coisa de bom pelo fato do Papa beijar o pé de um infeliz sofredor. Tão fúteis são os seres humanos que  as brincadeiras e o ambiente alegre do mundo das crianças continua vida afora no mundo dos adultos enquanto houver vitalidade neles, sem se atinar para o fato de ter fim a vida, realidade sobre a qual Schopenhauer discorre com eficiência da seguinte maneira no livro Da Morte, Metafísica do Amor, Do Sofrimento do Mundo, editora Martin Claret, página 30: Pouco a pouco, com a velhice, extinguem-se as paixões e os desejos, ao mesmo tempo que a capacidade de sofrer a ação dos objetos embota; os efeitos não encontram mais nenhum estímulo, porque a força de representação vai se debilitando cada vez mais, suas imagens vão ficando cada vez mais descoradas, as impressões não aderem mais em nós, passando sem deixar traços, os dias precipitam o seu curso, os eventos perdem sua importância e tudo se reveste de um matiz pálido. O ancião carrega o peso dos anos, andando de cá prá lá, com seus passos vacilantes, ou repousa num canto, uma sombra, um fantasma do que era antes. Que resta ainda nele para ser destruído pela morte?”.

Assuntos assim não fazem parte da vida medíocre de povo porque os assuntos em que se envolvem estes seres medíocre com seus filhos escanchados no pescoço rumo às igrejas e ao futebola são sobre bolsa de valores, cotação de moedas, mercado e futilidades, coisas inteiramente insignificantes depois de se chegar à fase a que se refere o filósofo de fantasma do que era antes. Absolutamente ninguém se imagina na condição de fantasma do que era antes, embora seja o destino de quem não morre cedo, realidade também desacreditada pelos biltres humanos que de tão pouca capacidade de raciocinar se deixam levar pelo engodo de que a Coca-Cola novíssima é beleza pura para suas crianças. O mais interessante de tudo é o comportamento de fazer de conta que as consequências da perda de vitalidade pelo decorrer do tempo ou acidentalmente só mereçam atenção quando se apresentarem. Entretanto, quem é capaz de raciocinar, observa como observou Mauricio de Souza, o criador da Turma da Mônica, fazer falta uma educação sobre a velhice.

Sofre-se silenciosamente por falta de dinheiro para proporcionar os serviços públicos de que o povo necessita, sem, entretanto, despertar nele, no povo, a necessidade de averiguar se os recursos fornecidos ao governo são realmente menores do que os necessários, uma vez que as mordomias da vida faustosa em que vivem seus agentes contrasta frontalmente com falta de dinheiro. A imprensa noticiou que no palácio da justiça há funcionários cuja função é puxar a cadeira em que o ministro vai se sentar. Tá certo um negócio desse tipo? Autoridade que concorda com tamanhao absurdo não está interessado no sucesso da administração pública da instituição que integra. Mas povo é um desencanto absoluto. Para as empresas públicas, aquelas mantidas com o dinheiro do povo, não se exige a mesma seriedade, competência e habilidade de seus administradores que exigem as empresas privadas sem que o povo se manifeste contra tal absurdo. Deste critério resulta que toda empresa pública é deficitária, e não podia ser de outro modo porque seus dirigentes são colocados para terem como primeira obrigação servir aos interesses políticos do chefe que lhes empregou. Mas ao povo nada disso interessa. Por que será? Não é próprio de ninguém não se interessar pelo seu patrimônio. A explicação é o analfabetismo político que faz da coisa pública coisa de ninguém. O bicho povo demonstra esta realidade quando afirma que serviço público é de graça, que não tem custo.

O unico responsável pelo sofrimento do povo é o próprio povo em sua recusa de se desenvolver mentalmente. Imbecis em busca de contribuição para a campanha do agasalho é simplesmente revoltante. Como se pode ser tão estúpico a ponto de não perceber que esmola só beneficia a canalhice dos canalhas da política? É com esta finalidade que a irmã siamesa da política, a religião, prega a caridade. A distância que separa o povo da realidade pode ser constatada de todas as formas. No caderno Painel do Leitor, do jornal Folha de São Paulo, em matéria intitulada À CUSTA DO POVO, MANTEMOS A MORDOMIA DOS PODEROSOS, DIZ LEITOR, e cujo assunto versa sobre o aumento de verba para o ministério público, os comentários dos leitores, portanto, representantes da alma do povo, não passam de repetição enfadonha de queixas e lamentações, sem, entretanto ponderar sobre a realidade de que povo tem o destino do burro de carroça e que uma vez podendo pensar, seu comportamento deve em vez de se lamentar, deve ser o de buscar as causas de seus lamentos.

Se é a falta de dinheiro a causa das lamentações do povo, o que deve ele fazer em vez de se lamentar é procurar constatar se realmente o dinheiro dos impostos não é suficiente para não lhe faltar as coisas de que precisa, e não ficar a choramingar suas desgraças, comportamento incompatível com o festejamento que acompanha os lamentos. As pessoas sensatas não merecem um ambiente tão desgraçado como este em que vivemos, cujas notícias giram todas em torno de esporte, festas e crimes. Nesse ambiente barulhento e ignorante, porque a ignorância ainda faz parte da personalidade dos humanos, também vivem pessoas procurando superar sua ignorância atávica através de boas leituras, não sendo justo que os bárbaros impeçam que estas pessoas alcancem seu objetivo de deixar de ser povo para ser gente. A vida para o povo não difere da vida para o burro de carroça cuja felicidade começa à tardinha quando lhe são tirados do lombo os arreios para que possa pastar e descansar e termina pela manhã quando lhe são novamente colocado os arreios no lombo para trabalhar. Nova maneira de viver precisa ser engendrada porque se tem vivido vida de irracional, desperdiçando, desta forma, o fabuloso presente da natureza: A CAPACIDADE DE PENSAR. Inté.       

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

  

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