A
Revista Veja publicou extensa matéria sobre maconha que confirma plenamente o
dito de que o que é do chão não quer colchão. O modo de encarar o problema das
drogas pela reportagem é digno de um povo cujo cérebro seja incapaz de elaborar
algum raciocínio por mais elementar que seja. Os comentários, então, causam
profunda tristeza a quem observa a vida e tem de conviver com pessoas tão
inexperientemente bobas. Faz crer que tudo aquilo é uma encenação
propositadamente urdida com a finalidade de enganar, como é próprio do sistema
capitalista, especialíssimo em mentiras capazes de fazer escravos contentes com
sua escravidão. Um comentarista empolgado pela babaquice da reportagem, disse:
“Veja arrasou”. Isto me lembrou uma historinha ouvida num boteco: Uma bichinha
muito rebolativa se dirigia para a igreja com a bíblia debaixo de sobaco,
quando dá com alguns rapazes que lhe fizeram uma tremenda gozação. Nesse
momento passa um carro em alta velocidade e dá um verdadeiro banho de lama nos
brincalhões. Ao se sentir vingado ou vingada, a bichonilda religiosa eleva as
mãos para o céu e exclama: “Obrigada, Jesus, você simplesmente arrasou!”.
É
impressionante e intrigante o fato de partirem de psiquiatras e psicólogos, opiniões
verdadeiramente bobas sobre o tema. A afirmação “maconha faz mal” usada várias
vezes, sugere que alguém seja tão imbecil a ponto de não saber que maconha faz
mal tanto quanto também fazem roliúde, coca-cola, açúcar, sal, sol em excesso,
água em excesso, cerveja, cachaça, uísque. Tudo isso faz mal e a maioria delas
causa tanta dependência quanto a maconha. Tais opiniões só encontram explicação
no fato de que seus emitentes não sabem nada sobre a verdade das drogas. O
sistema educacional apenas dá aos “sabichões” emitentes das opiniões infantis
informações técnicas, o que é bem diferente do conhecimento amplo sobre a problemática
que envolve tal assunto, principalmente do ponto de vista social. Tal conhecimento ultrapassa de muito o fato de
se medicar alguém que estragou seu organismo por fumar maconha.
Sociedades com nível de educação
infinitamente superior ao nosso encaram o problema das drogas com olhos
diferentes dos olhos de técnicos formados pelo sistema deseducacional desta
República de Bananas, terra de macacos que imitam apenas o lado ruim das coisas
que observam em povos com alguns milímetros na nossa frente na escala da
evolução. Nenhum dos enaltecedores das bobagens da reportagem declarou ser ou
ter sido usuário de maconha, portanto, falam apenas por ouvir falar. Como os
religiosos, nenhum deles já abriu um livro escrito por pessoa realmente
inteligente sobre a anti-religiosidade. Para eles, a religião dispensa o
raciocínio porque as coisas de Deus dispensam explicação. É porque é e tá
acabado.
A maconha é extremamente benéfica na
velhice, quando momentos inexplicavelmente desagradáveis atormentam quem se
sente infeliz por viver no meio de tanta mediocridade. Sou um destes velhos
considerados chatos para a maioria absolutíssima das pessoas incapazes de
sentir tristeza ante o quadro de uma menina-mãe na sarjeta a esmolar com outra
criança no colo. Para os frequentadores de igrejas entre os quais estarão
certamente os escritores assalariados e seus inocentes leitores e opinadores, o
sofrimento daquela criança-mãe nem sequer os faz bater a passarinha. Ela está
assim por ter se desviado o livre arbítrio. Então, que se arrume. Já para mim,
ateu, o sofrimento de todos os deserdados pela vida está simplesmente na
perversidade do sistema capitalista ferozmente defendido pelos escritores e
pela grande imprensa com seus truques de idiotizar e desviar a atenção de
inocentes para o lugar errado.
Fumar maconha, o que fiz por cerca de
quinze anos, me aliviava a tristeza de ser obrigado a ver nesse ambiente de
seres ideologicamente desprezíveis do mesmo modo como a injeção na veia me
aliviava do sofrimento da cólica renal. A maconha é prejudicial apenas para
quem não sabe se comportar racionalmente, como os jovens. A única verdade do
que disseram os opinadores é que a maconha faz mal. A mim, depois de cerca de
dez anos de uso, comecei a perceber aumentar o mal-estar já existente no
estômago. Ao concluir que realmente isto acontecia, parei de fumar. Não perco
oportunidade de dizer aos jovens que eles não devem se envolver com nenhum tipo
de droga exatamente pela falta o autocontrole que os leva à escravidão do vício
incontrolável e à ruína total.
Aqui está a opinião sobre o tema das
drogas emitida por ninguém menos que o Dr. Alexandre Vital Porto,
escritor e
diplomata. Mestre em direito pela Universidade de Harvard, que trabalhou nas
embaixadas em Santiago, Cidade do México, Washington e na missão do país junto
à ONU, em Nova York. Portanto, pessoa de conhecimento sobre problemas sociais
infinitamente maior do que o de médicos enclausurados em consultórios cuja
experiência não passa do relacionamento com um doente e emissão de receitas. O
Dr. Alexandre Vital Porto escreve aos sábados, a cada duas semanas, no caderno
"Mundo" do jornal FOLHA DE SÃO PAULO, que publicou a seguinte matéria
da autoria daquele experiente cientista social: A UTOPIA DE UM MUNDO SEM
DROGAS. Eis aqui sua opinião:
“Os
astecas comiam cogumelos alucinógenos; os antigos hindus fumavam maconha; os
romanos misturavam ópio ao vinho. Parece que nunca houve sociedade sem drogas.
Sem contar
os usuários das drogas já regulamentadas, como álcool e tabaco, atualmente,
entre 3,4% e 6,6% da população adulta do mundo utilizam drogas ilícitas, como
maconha, cocaína e anfetaminas.
A maioria
destes fará uso eventual, sem maiores consequências ao longo da vida. No
entanto, de 10% a 13% desenvolverão problemas de saúde, como dependência, ou
contaminação por HIV e doenças infecciosas. O que era para ser recreativo vira
patológico.
De cada
cem mortes no mundo, uma decorre de atividades relacionadas ao tráfico de
narcóticos. Estima-se que os custos dos problemas de saúde relacionados ao uso
de drogas ilícitas alcancem de US$ 200 bilhões a US$ 250 bilhões anualmente.
Os
prejuízos causados pela atividade ilegal – mas muito lucrativa – são absorvidos
pelo conjunto da população. É como se o povo subsidiasse os traficantes com
incentivos fiscais. É o pior de dois mundos.
Em 1961, a
ONU aprovou sua Convenção Única sobre Entorpecentes com o objetivo de combater
o problema das drogas por meio da repressão à posse, ao uso e à distribuição. O
documento, assinado por 184 países, tornou-se, em grande parte, base conceitual
para a elaboração das legislações mundiais sobre o tema.
No
entanto, mesmo em países com leis especialmente severas, como Arábia Saudita e
Cingapura, o tráfico e o consumo de drogas persistem. O exemplo clássico da
ineficácia desse enfoque, a Lei Seca, tentou proibir o consumo de álcool nos
EUA entre 1920 e 1933. O que acabou conseguindo foi transformar Chicago num
antro de crime e criar personagens da linhagem de Al Capone.
Enquanto
se persegue a utopia do mundo sem drogas, o comércio internacional de entorpecentes
movimenta cerca de US$ 300 bilhões por ano. Em lugar de contribuir com
impostos, esse dinheiro paga propinas e estimula a corrupção das instituições
democráticas.
A história
mostra que parte da população mundial vai continuar se drogando. Mesmo que,
para isso, tenha de desafiar as leis. Se políticas de repressão estrita
funcionassem, o Irã não teria uma das legislações mais severas quanto ao tema e
um dos piores índices de dependência de heroína do mundo.
Os países
que resolveram enfrentar a questão por meio de políticas inovadoras, que
consideram o tema como de saúde pública e incluem a descriminalização do
consumo de drogas leves, como a maconha, têm tido resultados encorajadores na
reabilitação de usuários e no combate à criminalidade e outras consequências
negativas da dependência.
A proibição das drogas só dá lucro
aos traficantes. Não elimina o consumo nem seus efeitos deletérios, mas impede
o controle, a tributação e potencializa o problema. Torna-se um fator de
corrupção. Mas, acima de tudo, é irrealista. É tempo de considerar que "um
mundo livre de drogas", como quis a ONU, talvez não seja possível. O jeito
é conviver com elas pagando o menor preço.”
Aí está a
opinião de alguém cuja visão ultrapassa as paredes de um consultório ou sala de
aula destinada e preparar pessoas para não pensar em outra coisa que não seja
ganhar dinheiro. É a opinião de quem entende da realidade da vida,
principalmente da vida em sociedade, coisa inalcançável por médicos como o que
tratou de mim e me disse depois ter eu ficado bom em função das graças da graça
de Deus.
Quem
nasceu para pardal jamais alçará vôos mais elevados. Inté
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