segunda-feira, 11 de novembro de 2013

INCIVILIZAÇÃO


 

Entre os significados apresentados pelo Aurélio para a palavra “civilizar” estão: “integrar à vida humana em sociedade”, “dar cultura ou refinamento”, “educar”, “tornar mais culto ou instruído”. Sendo assim, não se pode falar em civilização porque nada disto existe em nenhum lugar do mundo. Os seres humanos não estão integrados a uma vida social, muito ao contrário. Nem precisa ser sabido para saber que vivemos num mundo de monstros, e não numa sociedade de pessoas educadas, instruídas, ou preparadas para formar um grupo que respeite a vida humana. Pode-se formar uma sociedade de brutos. Estão aí as quadrilhas de bandidos declaradamente bandidos, as de bandidos enrustidos em politiqueiros, as torcidas organizadas, os clubes de boxeadores, os ajuntamentos de apreciadores do barulho de motos ou carros de corrida, as multidões de requebradores de quadris e apreciadores do saco de Michel Jackson, enfim, sociedades desse tipo abundam mundo afora. Entretanto, não são sociedades de pessoas capazes de formar uma sociedade verdadeiramente civilizada e com objetivo de construir um modo de vida menos atormentado pelas agruras que a natureza impõe aos seres vivos. Seria no sentido de construir benefícios para seus componentes que se formaria uma sociedade de pessoas civilizadas se houvesse esse tipo de pessoas. É por isso que o dicionário coloca o ato de educar, que é a mesma coisa de dar a compreensão necessária para se viver bem em coletividade. Como em nenhum lugar do mundo se vive bem, fica evidente o fato de não haver civilização em nenhuma parte do mundo porque em todo canto há mais destruição do que construção. Tanto quanto nos tempos denominados de bárbaros, quando destruir sociedades fazia parte da cultura de então, quanto nos dias atuais, a destruição nunca deixou de estar presente. A barbárie de matar para se apossar de bens pertencentes a outrem continua a pleno vapor. Assim, não se pode falar em CIVILIZAÇÃO. As feras que depois de se fartarem permitem que outras feras participem dos restos da presa por elas conquistada formam uma sociedade menos bruta do que a sociedade humana onde predomina o individualismo incompatível com vida social.

Não se pode viver em grupo sem noção de sociabilidade, ou conhecimento da necessidade de se observar um condicionamento dos instintos a regras de convivência. Embora haja diversidades, embora haja quem prefira a violência em lugar da paz, tais caracteres devem se constituir em exceções. São comportamentos particulares que não podem impor sua preferência à preferência do coletivo.

A verdade é que todos desejam o bem-estar. Até os violentos acreditam encontrá-lo através da violência, mas, mais cedo ou mais tarde, chegarão à certeza de não ser por aí que o alcançarão. A sabedoria existe. Não é certo que o sábio é quem sabe que nada sabe. O sábio é o que sabe, e não o que não sabe. Errou quem produziu tal sentença, mesmo sendo um sábio porque os sábios também cometem erros. Eles já garantiram que a terra era quadrada e que o sol girava à sua volta.

Como diz meu irmão Leopoldo, a informação é uma coisa bem diferente do conhecimento. Refletindo sobra esta afirmação, conclui-se que o conhecimento se traduz em sabedoria porque é através do conhecimento que se pode separar das coisas boas as coisas ruins, e a sabedoria está exatamente na capacidade de tornar menos sofrível o período da existência, o que não é observado por pessoas equipadas apenas com informações, visto que muitas pessoas deste tipo são produtoras de infelicidade, inclusive para si próprias ao acreditar haver bem-estar na posse de riqueza material. São pessoas muitíssimo bem informadas sobre assuntos técnicos, mas que demonstram completa falta do conhecimento da arte de viver em paz, daí os conflitos, principalmente os internos que levam pessoas a disparar armas sobre outras pessoas. A falta de visão da vida leva, por exemplo, o físico Marcelo Gleiser, homem dotado e inúmeras informações sobre o mundo da física, a afirmar que o homem precisa de Deus, o que está longe da realidade da vida. Sem nenhum Deus por ser ateu, tive enfarto como também tem inúmeras pessoas que pensam precisar de Deus, mas, ao contrário delas, não precisei ser operado. Tive depressão, como um pastor daqui desta cidade que, embora contando com Deus, sofreu durante um ano inteiro e foi objeto de festa religiosa onde inúmeros pastores pronunciaram discursos inúteis em agradecimento a um Deus inexistente por ter tirado o seu colega daquele sofrimento. Pois eu, que só conto comigo mesmo, venci a depressão sozinho em apenas um mês, e também não precisei de Deus para deixar de fumar maconha quando senti que aumentava meu sofrimento dos males de estômago, razão pela qual procuro mostrar aos jovens o perigo das drogas para eles cuja inexperiência da vida não lhes deu ainda conhecimento e força para não se tornar escravo de nada.

Também são portadores apenas de informações em vez de conhecimento ou sabedoria os construtores que falsificam planos de construção por economia e constroem prédios que desabam, nem tem sabedoria um regime que legitima a mentira através da profissão da advocacia e não vê imoralidade no fato tenebroso em que advogados se mancomunam com ladrões do dinheiro de tirar do sofrimento as criancinhas abandonadas para ficar com parte do roubo. Um advogado já me mandou dizer que não fiz uma coisa que fiz, o que recusei. Não tem sabedoria médicos como o falecido (para segurança de muitos) Dr. Valter Pinotti, que quase exauriu nossos recursos ao mentir que tinha cura a doença de nossa mãe e nos fez interná-la no Hospital Nove de Julho em São Paulo, ou o Dr. Nilzon não sei de quê, do Hospital Santa Izabel, de Salvador, ao afirmar mentirosamente ser necessária implantação de ponte de safena em meu coração, apenas para ganhar mais dinheiro, nem tem sabedoria o Dr. Rui Cunha, um médico e pastor ao mesmo tempo, que diagnosticou necessidade de cirurgia de catarata em meus olhos, o que faria por treze mil e quatrocentos reais. A Sabedoria está em saber viver. Quem aumenta o sofrimento de quem já sofre em troca de dinheiro é por não ter sabedoria alguma e é exatamente por isso que não há nem vislumbre de sabedoria na forma como vive a humanidade. O que há são informações sobre a arte de produzir dinheiro e infelicidade.

Embora haja portadores de sabedoria no mundo, sua influência é nenhuma porque o caminho a ser seguido por todos é determinado pela sociedade formada de brutos cujo peso faz a concha da balança da vida pender para o lado da brutalidade vigente em que os homens modernos qualificam de bárbaros os tempos em que os homens se atacavam com machados, lanças, flechas, instrumentos rudimentares diversos, mas sua cegueira mental não lhes permite ver que a diferença daqueles tempos para os tempos atuais só existe quanto à sofisticação dos instrumentos usados modernamente para matar. Como no conceito de CIVILIZAR, no Aurélio, não há espaço para barbaridades, não podemos falar em homem civilizado em qualquer lugar onde ainda se mata, principalmente por riqueza para ser transformada em poder de matar ainda mais. Na China milenar, por exemplo, se hoje trabalhadores são soterrados aos montes nas minas num trabalho de escravo para fazer a riqueza dos ricos, não era diferente em outros tempos como mostra o historiador Geoffrey Blainey no livro Uma Breve História do Mundo, pag. 76, onde se lê: “Os governantes dentro dos maiores Estados da China viviam no luxo e serviam-se da riqueza produzida pelos camponeses e artesãos que trabalhavam duro. Quando morria um rei, até quarenta pessoas podiam ser enterradas com ele. Nos séculos anteriores, estas pessoas eram enterradas com a crença de que poderiam servi-lo na vida depois da morte. Para isso, também enterravam instrumentos de trabalho. Além disso, para também evitar o conhecimento das intricadas câmaras e roubassem os tesouros”.

Se qualquer criança normal pode perceber a inutilidade deste proceder, não se admite que adultos não percebam a semelhança entre aquele desperdício, apreço exagerado a autoridades, crendice e desprezo à vida humana ainda, costumes vigentes ainda hoje nas construções de templos de vários tipos para nada, consumindo-se fabulosos recursos para homenagear vários tipos de parasitas do povo, entre elas as divindades. Até continuam sendo enterrados nas minas de carvão os trabalhadores chineses para produzir a energia usada na produção da riqueza de seus patrões.  

Se o caráter se forma no berço, o berço em que foi formado o caráter da sociedade humana e do modo desorganizacional de administração pública que desorganiza a possibilidade de paz no mundo, chamado de capitalismo, foi formado num berço forjado na oficina do satanás. Sob base de sangue, lágrimas e muito sofrimento fundou-se o sistema capitalista monstruoso que levará os seres humanos à ruína.

Como esta prosa está também uma prosa, Inté.

 

 

 

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