Entre os
significados apresentados pelo Aurélio para a palavra “civilizar” estão: “integrar
à vida humana em sociedade”, “dar cultura ou refinamento”, “educar”, “tornar
mais culto ou instruído”. Sendo assim, não se pode falar em civilização porque
nada disto existe em nenhum lugar do mundo. Os seres humanos não estão integrados
a uma vida social, muito ao contrário. Nem precisa ser sabido para saber que vivemos
num mundo de monstros, e não numa sociedade de pessoas educadas, instruídas, ou
preparadas para formar um grupo que respeite a vida humana. Pode-se formar uma
sociedade de brutos. Estão aí as quadrilhas de bandidos declaradamente
bandidos, as de bandidos enrustidos em politiqueiros, as torcidas organizadas,
os clubes de boxeadores, os ajuntamentos de apreciadores do barulho de motos ou
carros de corrida, as multidões de requebradores de quadris e apreciadores do
saco de Michel Jackson, enfim, sociedades desse tipo abundam mundo afora.
Entretanto, não são sociedades de pessoas capazes de formar uma sociedade
verdadeiramente civilizada e com objetivo de construir um modo de vida menos
atormentado pelas agruras que a natureza impõe aos seres vivos. Seria no
sentido de construir benefícios para seus componentes que se formaria uma
sociedade de pessoas civilizadas se houvesse esse tipo de pessoas. É por isso
que o dicionário coloca o ato de educar, que é a mesma coisa de dar a
compreensão necessária para se viver bem em coletividade. Como em nenhum lugar
do mundo se vive bem, fica evidente o fato de não haver civilização em nenhuma
parte do mundo porque em todo canto há mais destruição do que construção. Tanto
quanto nos tempos denominados de bárbaros, quando destruir sociedades fazia
parte da cultura de então, quanto nos dias atuais, a destruição nunca deixou de
estar presente. A barbárie de matar para se apossar de bens pertencentes a
outrem continua a pleno vapor. Assim, não se pode falar em CIVILIZAÇÃO. As feras
que depois de se fartarem permitem que outras feras participem dos restos da
presa por elas conquistada formam uma sociedade menos bruta do que a sociedade
humana onde predomina o individualismo incompatível com vida social.
Não se pode
viver em grupo sem noção de sociabilidade, ou conhecimento da necessidade de se
observar um condicionamento dos instintos a regras de convivência. Embora haja
diversidades, embora haja quem prefira a violência em lugar da paz, tais
caracteres devem se constituir em exceções. São comportamentos particulares que
não podem impor sua preferência à preferência do coletivo.
A verdade é
que todos desejam o bem-estar. Até os violentos acreditam encontrá-lo através
da violência, mas, mais cedo ou mais tarde, chegarão à certeza de não ser por
aí que o alcançarão. A sabedoria existe. Não é certo que o sábio é quem sabe
que nada sabe. O sábio é o que sabe, e não o que não sabe. Errou quem produziu
tal sentença, mesmo sendo um sábio porque os sábios também cometem erros. Eles
já garantiram que a terra era quadrada e que o sol girava à sua volta.
Como diz
meu irmão Leopoldo, a informação é uma coisa bem diferente do conhecimento. Refletindo
sobra esta afirmação, conclui-se que o conhecimento se traduz em sabedoria
porque é através do conhecimento que se pode separar das coisas boas as coisas
ruins, e a sabedoria está exatamente na capacidade de tornar menos sofrível o
período da existência, o que não é observado por pessoas equipadas apenas com
informações, visto que muitas pessoas deste tipo são produtoras de
infelicidade, inclusive para si próprias ao acreditar haver bem-estar na posse
de riqueza material. São pessoas muitíssimo bem informadas sobre assuntos técnicos,
mas que demonstram completa falta do conhecimento da arte de viver em paz, daí
os conflitos, principalmente os internos que levam pessoas a disparar armas
sobre outras pessoas. A falta de visão da vida leva, por exemplo, o físico
Marcelo Gleiser, homem dotado e inúmeras informações sobre o mundo da física, a
afirmar que o homem precisa de Deus, o que está longe da realidade da vida. Sem
nenhum Deus por ser ateu, tive enfarto como também tem inúmeras pessoas que
pensam precisar de Deus, mas, ao contrário delas, não precisei ser operado.
Tive depressão, como um pastor daqui desta cidade que, embora contando com
Deus, sofreu durante um ano inteiro e foi objeto de festa religiosa onde
inúmeros pastores pronunciaram discursos inúteis em agradecimento a um Deus inexistente
por ter tirado o seu colega daquele sofrimento. Pois eu, que só conto comigo
mesmo, venci a depressão sozinho em apenas um mês, e também não precisei de
Deus para deixar de fumar maconha quando senti que aumentava meu sofrimento dos
males de estômago, razão pela qual procuro mostrar aos jovens o perigo das
drogas para eles cuja inexperiência da vida não lhes deu ainda conhecimento e
força para não se tornar escravo de nada.
Também são
portadores apenas de informações em vez de conhecimento ou sabedoria os construtores
que falsificam planos de construção por economia e constroem prédios que desabam,
nem tem sabedoria um regime que legitima a mentira através da profissão da
advocacia e não vê imoralidade no fato tenebroso em que advogados se mancomunam
com ladrões do dinheiro de tirar do sofrimento as criancinhas abandonadas para
ficar com parte do roubo. Um advogado já me mandou dizer que não fiz uma coisa
que fiz, o que recusei. Não tem sabedoria médicos como o falecido (para
segurança de muitos) Dr. Valter Pinotti, que quase exauriu nossos recursos ao
mentir que tinha cura a doença de nossa mãe e nos fez interná-la no Hospital
Nove de Julho em São Paulo, ou o Dr. Nilzon não sei de quê, do Hospital Santa
Izabel, de Salvador, ao afirmar mentirosamente ser necessária implantação de
ponte de safena em meu coração, apenas para ganhar mais dinheiro, nem tem sabedoria
o Dr. Rui Cunha, um médico e pastor ao mesmo tempo, que diagnosticou
necessidade de cirurgia de catarata em meus olhos, o que faria por treze mil e
quatrocentos reais. A Sabedoria está em saber viver. Quem aumenta o sofrimento
de quem já sofre em troca de dinheiro é por não ter sabedoria alguma e é exatamente
por isso que não há nem vislumbre de sabedoria na forma como vive a humanidade.
O que há são informações sobre a arte de produzir dinheiro e infelicidade.
Embora haja
portadores de sabedoria no mundo, sua influência é nenhuma porque o caminho a
ser seguido por todos é determinado pela sociedade formada de brutos cujo peso faz
a concha da balança da vida pender para o lado da brutalidade vigente em que os
homens modernos qualificam de bárbaros os tempos em que os homens se atacavam
com machados, lanças, flechas, instrumentos rudimentares diversos, mas sua
cegueira mental não lhes permite ver que a diferença daqueles tempos para os
tempos atuais só existe quanto à sofisticação dos instrumentos usados modernamente
para matar. Como no conceito de CIVILIZAR, no Aurélio, não há espaço para
barbaridades, não podemos falar em homem civilizado em qualquer lugar onde
ainda se mata, principalmente por riqueza para ser transformada em poder de
matar ainda mais. Na China milenar, por exemplo, se hoje trabalhadores são
soterrados aos montes nas minas num trabalho de escravo para fazer a riqueza
dos ricos, não era diferente em outros tempos como mostra o historiador
Geoffrey Blainey no livro Uma Breve História do Mundo, pag. 76, onde se lê: “Os
governantes dentro dos maiores Estados da China viviam no luxo e serviam-se da
riqueza produzida pelos camponeses e artesãos que trabalhavam duro. Quando
morria um rei, até quarenta pessoas podiam ser enterradas com ele. Nos séculos
anteriores, estas pessoas eram enterradas com a crença de que poderiam servi-lo
na vida depois da morte. Para isso, também enterravam instrumentos de trabalho.
Além disso, para também evitar o conhecimento das intricadas câmaras e
roubassem os tesouros”.
Se qualquer
criança normal pode perceber a inutilidade deste proceder, não se admite que
adultos não percebam a semelhança entre aquele desperdício, apreço exagerado a
autoridades, crendice e desprezo à vida humana ainda, costumes vigentes ainda
hoje nas construções de templos de vários tipos para nada, consumindo-se
fabulosos recursos para homenagear vários tipos de parasitas do povo, entre
elas as divindades. Até continuam sendo enterrados nas minas de carvão os
trabalhadores chineses para produzir a energia usada na produção da riqueza de
seus patrões.
Se o
caráter se forma no berço, o berço em que foi formado o caráter da sociedade
humana e do modo desorganizacional de administração pública que desorganiza a
possibilidade de paz no mundo, chamado de capitalismo, foi formado num berço
forjado na oficina do satanás. Sob base de sangue, lágrimas e muito sofrimento
fundou-se o sistema capitalista monstruoso que levará os seres humanos à ruína.
Como esta
prosa está também uma prosa, Inté.
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