O mundo
carece de valores espirituais. Acreditam os seres humanos que a espiritualidade
está nas igrejas ou nas seções espíritas, lugares onde não há nem sombra dela.
A espiritualidade está em cada um de nós, mas é simplesmente ignorada e por
isso não se manifesta. Ela não está presente em seres brutos. A expressão
espiritualidade indica a disposição ou ânimo que orienta o comportamento. O
comportamento de quem busca paz dirigindo seu pensamento a uma entidade
imaginária e distante está em dissintonia com a realidade porque tal pessoa
vive uma fantasia uma vez que os problemas estão à sua volta. A única causa de
infelicidade é exatamente a falta de ligação com a realidade. A realidade é que
nunca haverá a humanidade de viver em paz enquanto dissociada das causas que
produzem os dissabores. Se não há quem não queira se dar bem na vida, também
não há quem tenha o ânimo de agir nesse sentido. Das atitudes humanas provém
dissociação em vez de união e esta é a causa de todos os tormentos porque é
impossível haver um mundinho particular para quem quer que seja. Temos
obrigatoriamente de viver em comunidade, o que exclui a privacidade.
Espiritualidade,
pois, só há quando se alcança um nível mais elevado, um refinamento, no modo de
agir dentro do grupo, o que está muito longe do comportamento humano. Os
agrupamentos humanos formados pelas pessoas tidas como as mais civilizadas,
como o grupo formado pelo povo americano, inclui em seu seio jovens que
disputam quem é capaz de derrubar com apenas um soco no rosto alguém que passa
desavisadamente pela rua, não importando de se tratar de homem, mulher, ou
idoso. Não precisa ser sabido para saber ser o comportamento destes jovens
orientado por total desconhecimento de sociabilidade, superando de muito a
brutalidade do comportamento dos animais tidos como inferiores. Se o
comportamento é orientado pelo ambiente em que se foi criança, outro
comportamento não pode ter adultos que foram crianças em meio à brutalidade e à
valorização das coisas medíocres em detrimento das coisas realmente valorosas e
capazes de produzir elevação espiritual. Ao contrário, a humanidade caminha
para uma degradação moral e espiritual nunca vistas nem mesmo nas épocas
chamadas bárbaras porque em nenhuma época anterior a humanidade agiu
conscientemente no sentido de sua autodestruição.
Os
instintos bestiais que ainda não deixaram o homem nunca foram motivo de orgulho
e promoção social, coisa agora verificada. As distorções de conduta que eram
erradamente censuradas porque cada um deve ser senhor de suas vontades, se já
foram ainda que indevidamente motivo de vergonha, atualmente é motivo de
orgulho, o que também não está certo. Como encarará a vida social uma criança que
vê sua avó alardeando que deseja ser engravidada por outra mulher? Ou um pai
que se fecha num quarto onde vai se deitar com outro homem? Certamente ficará
sem entender quando ouvir que a fantasia da sacralidade bíblica condena tal
procedimento.
Pela
superioridade que a natureza concedeu aos seres humanos eles tem o dever de se
comportarem com a superioridade de viver em paz em vez de se igualarem aos
bichos que precisam se destruir mutuamente. Esta superioridade, entretanto, só
pode ser alcançada pela nobreza espiritual difícil de ser alcançada porque as
pessoas dentro dos agrupamentos humanos mais admiradas e merecedoras de louros
são exatamente as pessoas mais desprovidas de nobreza espiritual. Ao contrário,
quanto mais insignificante do ponto de vista da sociabilidade, maior valor a
sociedade atribui a tais pessoas. Se o sujeito adquire massa muscular
suficiente para destruir seres humanos, ou se é capaz de escoicear uma bola
dando-lhe forte impulso, ou se fica bom na arte de requebrar os quadris com uma
guitarra dependurada no pescoço, ou se adquire habilidade para espetar espetos
em um pobre touro até matá-lo, ou se dirige um carro mais rápido do que seus
companheiros de idiotice, ou se consegue ajuntar de qualquer maneira uma montanha
de dinheiro, passam tais pessoas a merecer o título de celebridade, respeito e
admiração da sociedade, embora todas sejam prejudiciais à ascensão espiritual necessária
a uma vida menos estúpida e, consequentemente, digna do ser humano.
Se a vida
não precisa nem deve ser encarada com pessimismo e atitudes negativas, também
não deve ser vivida apenas em brincadeiras e fantasias porque se chega
inevitavelmente ao momento de se encarar a realidade da morte, coisa refutada
pela fantasia. Age-se como se não se tivesse de encarar esta realidade. As
únicas coisas merecedoras de reflexão dentro da cultura humana são as
atividades relacionadas com bens materiais e esta é uma atitude geradora de
infelicidade depois de passada a fase de requebramento de quadris ou a
disposição para juntar dinheiro. Se a fantasia é fluida porque feita de
enfeites e abstrações, a realidade é feita de concreto e permanente. Inté.
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