A história
do capitalismo e das religiões, se espremida, sai sangue e lamúrias. DE ONDE
VEM O DINHEIRO? É o título do capítulo XIV do livro HISTÓRIA DA RIQUEZA DO
HOMEM, onde seu autor, o escritor Leo Huberman dá uma noção da monstruosidade
da forma como se estabeleceu a base desse sistema nefasto que orienta a
humanidade de forma tão anti-humana que uma parte dos seres humanos está sendo
orientada para a idiotia e outra parte para a monstruosidade de desprezar seus
semelhantes e amar os bens materiais porquanto a essência deste sistema
perverso é a exploração da humanidade por outros seres humanos dotados de tal
presunção e equívoco que se julgam tão especiais a ponto de estarem convictos
de que apenas eles devem desfrutar dos avanços que a tecnologia cria para
melhorar as condições de vida. A religião sempre esteve de mãos dadas com esta
monstruosidade, apresentando-se como intermediária entre um Deus que nunca
existiu e o sofrimento de uma humanidade que acredita ser feliz por força da
tapeação a que a mantém iludida, acreditando, como crianças, em Papai Noel,
sujeitando-se a todos os tipos de desmandos, mas muitíssimo satisfeita com a
recompensa à sua espera no céu. Neste exato momento, num cantinho do mundo
chamado República das Filipinas, a natureza foi levada pela ação desastrosa do
sistema capitalista a produzir um desastre climático sobre seu povo, matando
tanta gente que ficou impossível o resgate dos cadáveres cujo mau cheiro impede
a respiração dos que não morreram, havendo entre estes quem saqueia as
infelizes vítimas já sobejamente infelicitadas. Entretanto, nada, absolutamente
nada, é capaz de convencer a humanidade de que nós somos os senhores do nosso
destino e que, portanto, devemos produzir nossa própria proteção em vez de
buscá-la nas igrejas e orações inúteis. Os lugares onde mais se reza são os
lugares mais infelizes.
A religião
e o capitalismo constituem as duas pragas de onde provém toda a infelicidade
humana. O sistema capitalista desumano e a religião se fundamentam na posse de
riqueza. Da simplicidade primitiva de ausência de propriedade privada,
descobriu-se que ser dono de alguma coisa tinha vantagem, e que ser dono de
muita coisa tinha mais vantagem ainda. Assim, quem era proprietário de algo,
passou a usar esse algo como meio de estender sua propriedade sobre mais
coisas, dando origem à inversão do procedimento antigo quando o homem descobriu
que havia mais vantagem em enfrentar na companhia de outros homens as
dificuldades que a vida lhes impunha, e essa novidade que viria a se mostrar
prejudicial à humanidade grassou de tal forma que tornou os homens inimigos uns
dos outros. Aqueles que dispunham de armas, passaram a usá-las não mais para
caçar animais, mas para matar outros homens e lhes tomar o que tivessem
conseguido ajuntar.
Numa
desumanidade tão grande quanto a dos monstros que tomam dos moribundos lá na
República das Filipinas o pouco que lhes resta, assim também, monstros vindos
do continente europeu, mais velho e, portanto, com armas mais sofisticadas do
que os tacapes e as flechas dos nativos do continente americano, massacraram
estes povos e se abarrotaram das riquezas existentes em suas terras,
devidamente apoiados pela religião. As Cruzadas são um exemplo fantástico desta
parceria demoníaca. O autor citado lá em cima registra uma pequena amostra do
caráter de vandalismo quando os holandeses subornaram o governador português da
cidade de Malaca para não oferecer resistência à sua invasão, mas em vez de
pagar o suborno, mataram o governador para se abster do pagamento. Esta atitude
dá bem uma amostra de como os brutos ajuntaram o dinheiro com o qual foi
estabelecido o sistema capitalista vigente para infelicidade humana. A
transformação em mercadoria de seres humanos aprisionados na África e lançados
em porões insalubres dos navios negreiros devia ser suficiente para convencer a
humanidade da inexistência de um Deus protetor. Mas, qual o quê, nada tira da
mente humana esta fantasia perniciosa que convence haver vantagem no
sofrimento, farsa montada pela parte também inocente da humanidade que acredita
na vantagem de manter a outra parte enganada e convencida de estar bem, quando,
na realidade, está tão escravizada quanto estavam os antigos escravos negros cujo
comércio era tão desumanamente rendoso que a rainha Elizabete da Inglaterra,
entusiasmada com o lucro obtido na primeira viagem do negreiro John Hawkins,
tornou-se sua sócia no macabro negócio e o transformou no cavalheiro Sir John
Hawkins, fornecendo-lhe para o transporte de seres humanos considerados bichos
um navio chamado Jesus.
O velho
Marx afirmou que se o dinheiro vem ao mundo manchado de sangue, o capital vem
pingando sangue e lama. Razão tem o pensador. Não há comparação em termos de
desumanidade um sistema onde, por exemplo, caso se descubra o processo de cura
para o câncer, será ele impedido de ser aplicado para salvar vidas a fim de não
prejudicar que se locupletem os monstros da indústria da saúde. É a tal
monstruosidade que se submete a humanidade indiferente à realidade e ligada em
fantasias. Embora o futuro esteja seriamente comprometido com uma população
exagerada não só num compra-compra desembestado, mas também em relação aos
recursos que o planeta dispõe. Ainda assim, as pessoas continuam reproduzindo
insensatamente a ponto de logo se chegar à cifra inimaginável de nove bilhões de
seres humanos a demandar comida, água e energia cada vez mais insuficientes.
Mesmo assim, ostentam orgulhosamente suas barrigas estufadas as mulheres para
quem ser mãe é sofrer num paraíso onde em breve faltará até o ar para respirar.
Depois de
dizimar populações inteiras a fim de saquear as riquezas que vieram a formar o
Capital, como mostra a História da qual o historiador referido nessa prosa nos
conta, a província de Banju Waing, de Java, tinha em 1750 mais de oitenta mil
habitantes, mas que em 1811 aquela população estava reduzida apenas a dezoito
mil pessoas. A Inglaterra não deixou por menos na mortandade sobre os indianos.
Milhares de nativos morreram de fome porque os ingleses compraram todo o
estoque de arroz para especular e só vendiam a um preço tão elevado que eles
não podiam pagar.
Enriquecidos
por estes meios, os ricos precisavam encontrar novas formas de aumentar suas
riquezas e inventaram o capitalismo que foi impulsionado quando da invenção das
máquinas ocorrida na Inglaterra. Como as máquinas precisassem de pessoas para
pô-las em funcionamento, deram um jeito de tomar as terras dos pequenos
proprietários ou posseiros, expulsando-os para as cidades onde teriam de se
submeter a um regime escravagista de trabalhar nas indústrias para não morrer
de fome. Até criancinhas tenras trabalhavam para atender à gana de riqueza dos
monstruosos senhores capitalistas.
É a isto
que os escritores assalariados se prostituem para garantir às pessoas inocentes
ser beleza pura. Inté.
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