O hábito de
acatar o que se houve sem examinar sua conveniência, e, principalmente, sua
inconveniência não deve ser encarado com tanta tranquilidade. O horroroso
massacre na boate de Paris estava sendo noticiado por um papagaio de microfone
que, em seguida, passou a falar naturalmente de futebola. Isto não dá o quê
pensar? A morte só não deve ser motivo de assombro quando é natural. Por
assassinato, ainda mais naquelas condições, deve ser assunto para merecer muita
reflexão a respeito. Entretanto, graças à cultura do individualismo, o papagaio
de microfone mistura um acontecimento tão escabroso e tristonho com a brincadeira
do futebola. Não deve ser assim. Como disse Hemingway em Por Quem os Sinos
Dobram, morre um pouco de cada um a cada vez que morre um. Como pode o ser
humano ser indiferente ao sofrimento de outro ser humano? Na fazenda onde nasci
e me criei, quando se abatia uma rês para nosso consumo, várias outras rezes se
ajuntavam no lugar do abate e tinham um comportamento estranho como se
estivessem a lamentar a morte do outro animal. Por que será, então, que para um
ser humano a morte de outro ser humano só afeta se houver laço afetivo? Se os
seres humanos substituíssem a preocupação e o tempo gasto em saber como foi
feito o universo, qual a origem do homem e qual será o seu fim, dedicando esse
tempo buscando saber a causa da miséria e o motivo pelo qual os momentos
infelizes são mais frequentes do que os momentos felizes, o mundo seria melhor
do que é porque as aflições decorrem unicamente da indiferença com tais
assuntos. Apesar de decorrido tanto tempo desde que ficou de pé, a
espiritualidade no ser humano permanece em tempos ainda bárbaros quando matar
fazia parte do cotidiano. O que produz no povo sensação de bem-estar são coisas
tão estúpidas quanto a reclamação de alguém sobre uma transmissão de corrida de
carros que não lhe permitia ouvir bem o ronco das Ferraris. Pior de tudo é que
tal mentalidade não é algo isolado. A genialidade de Platão, através do Mito da
Caverna, mostrou o quanto é difícil fazer o povo perceber a realidade da vida.
Talvez seja mais fácil fazer um jumento escrever uma carta do que convencer
seres mendigos de espiritualidade da realidade de viverem num mundo de
fantasias infantis. Em conversa, eu disse a um espécime da espécie povo que os
ateus são pessoas convictas de que o bem-estar social depende apenas de uma
administração pública correta, de modo que se todas as pessoas do mundo
pensassem e agissem assim, a vida seria melhor. Como a palavra “ateu” foi
mencionada, o perfeito exemplar de povo deu um risinho irônico e disse “SERÁ?”.
Como pode alguém ter dúvida de resultar em bem-estar social uma administração
pública sadia que não permitisse a devastação da natureza e a existência de
desprovidos de dignidade? Pois, apesar disso, para o bicho povo, a paz ou o
bem-estar só pode ser alcançada por intervenção divina. Entretanto, a depender
disto aí, é como se diz pelaí ESPERE SENTADO! Inté.
Será necessário haver tanta pobreza, choro, sofrimento? Que jovens pobres tenham que se endividar para estudar? Estará certa a conduta tradicional de terem as pessoas de trabalhar para sustentar as autoridades vivendo em palácios e com todas as suas necessidades pagas, inclusive riqueza pessoal para levar quando deixarem seus postos de trabalho? Há necessidade de tantas autoridades? Que tal matutarmos sobre estas coisas? Este é o objetivo deste blog. Nenhum mal haverá de fazer.
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