De um lado, grande sofrimento. Pessoas vitimadas por uma pandemia
infame, morrem diante de seus familiares impossibilitados de ajudá-las se são
tantas vítimas que faltam vagas nos hospitais porque o dinheiro que não foi
roubado foi empregado em estádios para brincadeiras. Não havendo como atender a todos, os médicos têm de priorizar a quem
devem socorrer e quem precisa ser abandonado à própria sorte. Não obstante tal
quadro de aflição, tem-se festa de futebola, políticos mancomunados com empresários
engendrando artimanhas para transformar em presidente da república um boneco da
Rede Globo, justiça acobertando roubo do dinheiro de comprar respiração, desaparecimento
da diferença entre homem e mulher, enobrecimento da baitolagem que explode na
Avenida Paulista e no Yahoo Notícias, polêmica a respeito de permitir ou não
permitir que pobres diabos mentais frequentem templos de recolhimento de dízimo
para pedir proteção a deus, enquanto que os próprios representantes divinos
morrem sufocados.
O que acontece com nossa sociedade, que apesar de se dizer pátria
de deus é vítima de tamanha força satânica que transforma ordem em desordem e substitui
a honestidade e honradez por desonestidade e desonra? Pior de tudo é ser tal
poder maligno protegido por segredo de sete chaves apesar de fazer tanto mal.
No programa Direto Ao Ponto, acessível no Youtube, comandado
pelo jornalista Augusto Nunes, a jornalista Lívia Zanoline entrevistando a procuradora
Thaméa Danelon, que sabe de tudo como integrante da Força Tarefa da Lava Jato,
perguntou à procuradora o motivo pelo qual aquela operação está sendo
perseguida. A procuradora tergiversou, falou de má vontade do Congresso em
aprovar leis de combate à corrupção, falou de decisões do STF também contrárias
ao trabalho da Lava Jato, sem, entretanto, dizer claramente o que é e de onde
vem a força que dá origem aos procedimentos por ele referidos contrários à
ordem e à lei que produzem o estado vigente de caos. Isso ela não disse.
No mesmo programa, entrevistando outro figurão da operação
Lava Jato que, inclusive, escreveu um livro chamado A Luta Contra A Corrução, expondo
canalhices de todos os matizes, o doutor Deltan Dallagnol, o jornalista Josias
de Souza perguntou se o STF atrapalhou a Lava Jato. Como sua colega, tergiversou,
falou em Estado de Direito e coisa e tal, mas não esclareceu o motivo pelo qual
tais coisas acontecem.
Na mesma linha de se recusar a ir direto ao ponto, acusado de
ilegalidades, o expoente da Força Tarefa Lava Jato, o doutor Sergio Moro, diferente
do juiz imponentemente corajoso, de magistrado imparcial na luta contra a
corrução, veio a público. Mas não para dizer claramente porque está sendo perseguido.
Em vez disso, feito menino birrento e resmungão, veio para dizer humildemente não
ter feito nada de errado. Por que será que também o doutor Moro se negou a
esclarecer o que realmente acontece, se teve coragem de colocar na cadeia
meliantes que apesar de chamados de poderosos se borram diante da justiça
quando séria? Por que fumaças espessas de mistério envolvem os fatos citados no
começo dessa arenga? Mistério não é porque mistério e milagre submetidos a uma
análise acurada revelam-se falsidades.
A explicação do fato é tão clara como água potável no meu
copo de cristal de tomar uísque. É o seguinte: o convencimento de estar na
riqueza a fonte da felicidade faz com que todo ser humano tenha riqueza por
objetivo maior da vida. Sendo impossível construir riqueza com trabalho
honesto, como provou com a descoberta da Mais Valia o velho Marx defenestrado
pelos maus intencionados e os enganados entre eles os religiosos, os desonestos
que acumularam riqueza, usando da habilidade em práticas desonestas que lhes é
peculiar, juntaram tal habilidade ao poder ilimitado que a riqueza confere ao
rico, cooptaram as autoridades e as conduziram para seu mundo de desonestidades,
e elas promovem a desordem que é a praia dos desonestos invertendo a ação
judicial de perseguidora para protetora de criminosos por meios de desavergonhados
institutos da Prescrição, Foro Privilegiado, Recursos Processuais, Prisão
Domiciliar. Manipulados tais instrumentos de impunibilidade por advogados
também desejosos de riqueza como todo mundo, fica a justiça impedida de alcançar
os autores de crimes. O aparente mistério em não ser revelada a verdade é nada
mais que um comportamento natural de se resguardar do mesmo destino da Lava
Jato e de Marielle.
Para encerrar a prosa desta arenga, os que a leem, e há bobos
bastante para isso, não leiam este derradeiro parágrafo caso lhes seja perigosa
uma crise de riso. Acabo de encontrar na Internete a explicação para as capas dos
Cavaleiros Negros do STF: simbolizam um escudo de moralidade contra corrupção.
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