Na Arenga
Dezesseis cometi a barbaridade de assassinar nosso artista maior Ney
Matogrosso, e peço perdão não só a ele, mas também a todos os brasileiros
porque todos o amam. Agradeço a meu esperto amigo Saló-Judson a advertência
sobre o engano e a honra de dedicar parte do seu precioso tempo à leitura das
bestagens que escrevo. É que me referia às tramóias urdidas por debaixo do pano
no mundo da politicagem e misturei os nomes do deputado Clodovil que se
insurgiu contra as práticas da política brasileira (e por isso o mataram) e o
nosso Ney que criou a música de nome Por Debaixo dos Panos. É claro que o
grande artista nunca tomará conhecimento de que o matei, e nem que desejo tenha
ele muita saúde para continuar nos encantando com seu talento.
De outro
amigo, o escritor Edmilson Santos Silva Movér, também um sonhador com um mundo
melhor para as encantadoras e fofas criancinhas de hoje, recebi mensagem acompanhada
da recomendação de passá-la para os contatos, sobre o surgimento de um grande
movimento nacional de renovação política pleiteada pelo povo brasileiro
esclarecido. Como aprendi com os Grandes Mestres do Saber a pensar sobre as
coisas, estou pensando sobre este movimento do povo esclarecido, pensamentos
que se fazem acompanhar de alguma apreensão. Não resta a menor dúvida de estar
errado tudo o que aí está como certo. Em todo o mundo o que se vê são
barbaridades de assustar, uma vez que a organização mundial tem por base um
sistema tão sofisticado de exploração humana que os próprios explorados se sentem
felizes em sua escravidão. Não pode ser outra coisa senão escravo quem passa a vida
trabalhando em troca de um salário mínimo e uma velhice doentia e chorosa num corredor
de hospital e na televisão. Os escravagistas que promovem tal estado de coisas não
são civilizados porque civilização implica em convivência harmoniosa e salutar,
o que inexiste em quem infelicita uma pessoa sob qualquer pretexto,
principalmente em troca da falsa vantagem em acumular riqueza para mostrar na
Revista Forbes.
A afirmação
de ser um movimento do povo brasileiro esclarecido é que bota a pulga atrás da
orelha dos pensamentos por deixar ver um excesso de otimismo em se falar de
“povo brasileiro esclarecido” por não sermos um povo esclarecido. A situação conflituosa
em que se encontra o mundo é a mais eficiente prova de não haver povo
civilizado em parte alguma, muito menos o povo brasileiro conhecido pelas
baixas qualidades que levou o cientista Charles Darwin a declarar que “o
brasileiro não tem as qualidades que dignificam o ser humano”, como nos lembra
o jornalista Alex Ferraz da Tribuna da Bahia. Em toda sociedade há pessoas
esclarecidas realmente. Mas são tão poucas que o peso da malta de ignorantes
anula a participação do seu esclarecimento na organização da sociedade. Como de
uma mudança pode resultar uma situação pior que a anterior, não deixa de causar
apreensão o resultado de alguma mudança feita pelos brasileiros porque seu
raciocínio é elaborado na parte do corpo destinada ao requebramento e ao vaso
sanitário.
A alusão de
que o clima político a ser mudado é semelhante ao da Revolução Francesa, quando
o povo clamava por justiça, aciona também o desconfiômetro. Foi aquele
movimento de mudança que deu origem à monstruosidade da situação atual. Seu
resultado foi trocar por novos os velhos infelicitadores do povo. Se naquela
época os trabalhadores eram obrigados a sustentar uma corja de perdulários
bailarinos de valsa, atualmente os trabalhadores sustentam corja muito maior em
mordomias também maiores entre as quais se inclui até orgias no azul do céu,
implante de cabelo e palácios onde se imita a vida dos deuses do Olimpo,
incluindo templos destinados à adoração dos moradores desses palácios e à
perpetuação de sua lembrança para o caso de ter oportunidade de voltar a ser um
deus outra vez. Não se questiona a necessidade de mudança. O fato de não se
justificar mais a presença do rei/deus e nem de rei nenhum prova a necessidade
de mudança porquanto tais figuras estão por aí bem na deles. Aí está o chefe da
administração pública do Uruguai provando que a autoridade não precisa ser
nenhum deus, mas que não é diferente das outras pessoas.
Apesar da
evidência de que a continuação da situação em que vivemos vai levar à
infelicidade as crianças de hoje, é temerosa a mudança proveniente de pessoas
tão alheias à realidade que lotam igrejas para enriquecer pastores e expor a
última novidade do mundo “fashion”. A única inovação produzida pelos
brasileiros até hoje reporta apenas a novas danças e novos métodos de
criminalidade. Não se pode esperar nada de bom a partir de um povo dividido
entre quem vive de esmola, quem tem por maior aspiração fazer compras em Miami,
e quem admira tanto os estrangeiros a ponto de presenteá-los com suas riquezas
naturais. Com tal mentalidade, como esperar lucidez suficiente para organizar
uma sociedade agradável?
Conforme
pediu meu amigo, passei adiante a mensagem de convocação para o movimento de
mudança. Não podia deixar de fazê-lo porquanto ninguém anseia mais do que eu
por um ambiente onde os jovens valorizem a vida e não tenham motivos para
destruir ninguém, muito menos a si próprios, porque tal comportamento resulta
do destrambelhamento que o modo antinatural de viver lhes embaralha o sistema
nervoso. Mas, o que esperar de uma juventude tão inexperiente que desconhece a
diferença entre as palavras “come” e “comer”? A incoerência encontrada nas
crianças é a mesma dos jovens em geral. Há tempos escrevi uma bestagem
intitulada Conversa com Deus, frisando a indiferença dos jovens quanto à
necessidade de analisar as informações recebidas, aceitando-as de pronto como
verdadeiras, o que suscitou o seguinte comentário de um religioso: “Para quem
não “crer” em Deus nenhum argumento é possível; para quem “crer”, nenhum é
necessário”. Esta simples ocorrência denuncia distanciamento da realidade e é
motivo da preocupação quanto ao resultado da mudança proveniente de pessoas tão
inocentes quanto nosso religioso comentarista. O fato por mim alegado da falta
de análise sobre a informação recebida a fim de chegar à conclusão de ser falso
ou verdadeiro o conteúdo daquela informação, em vez de ser contestada como ele
pretendia, foi, ao contrário por ele confirmada ao dizer que nenhum argumento é
necessário para que o religioso seja religioso. Isso foi o que eu disse. A
religiosidade decorre exatamente da desnecessidade de se pensar a respeito das
afirmações santas. Os religiosos nem mesmo sabem o motivo pelo qual se tornou
religioso uma vez que nasceu sem ser religioso. Outra demonstração de inocência
do nosso comentarista religioso é que ele nem distingue a diferença entre
“crer” e “crê”, do mesmo modo como me disse espantado um professor ao constatar
que os jovens não sabem que a palavra “comer” termina em “r”. Além disso, não se
pode esperar outra coisa senão burrice de um povo que apoiou a mudança feita
contra ele próprio em 1964, como se pode ver através da leitura do artigo do
grande jornalista Mauro Santayana intitulado A CRISE DA RAZÃO POLÍTICA E A
MALDIÇÃO DE BRASÍLIA, à disposição dos poucos que sabem ler no amigão Google, movimento
aquele que tem tudo a ver com a infelicidade das criancinhas de hoje.
Motivo de
sobra para se desconfiar da mudança promovida por requebradores de quadris e
admiradores de “celebridades” e “famosos”. Né, não? Inté.
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