quarta-feira, 23 de abril de 2014

ARENGA NÚMERO VINTE E DOIS


 

Às vezes chego quase a querer acreditar não haver motivo para pessimismo. Vai ver não vai faltar água nem comida, nem ar, e que vai até diminuir a incidência de moléstias graves que infelicitam sobremaneira as criancinhas fofas e rechonchudas que cada vez mais estão sendo vítimas do maldito câncer. Quem pode garantir, de uma hora para outra, estejam certos os frequentadores de igreja e da frivolidade, que nada veem de anormal em orar e dançar indiferentes a um futuro resultante deste presente? As pessoas que raciocinam, aquelas que não fazem parte da manada como os Grandes Mestres do Saber, afirmam não haver motivo para o otimismo dos iletrados. Embora haja gente de credibilidade afirmando que sempre houve secas e cheias, este otimismo está em desacordo com os acontecimentos só não percebíveis porque a já escassa atividade mental está voltada para as atividades que integram o corre-corre diário de modo tão absoluto que não deixa a brutalidade humana perceber a possibilidade de se presentearem os humanos com o destino dos dinossauros.

É impressionante como pais não se incomodam com o futuro dos filhos ante a assustadora certeza de faltar água e comida. Motivo para isso está aí de montão. A escassez de alimento não pode mais ser considerada coisa duvidosa. Tudo concorre para isso. Não fosse a concentração de terras a produzir riqueza para o agribiuzinesse, tem a degradação que já desertifica grandes áreas. Ao lado disso, embora a constituição proíba, vastas áreas estão sendo adquiridas por chineses e japoneses para produzir comida a ser levada para a China e o Japão, o que ajuda a diminuir ainda mais a área de produzir comida para os habitantes deste país de triste sorte. Outras áreas imensas servem para os gringos produzir celulose com eucalipto, lavoura que esgota rapidamente o solo, o que faz com que os gringos da bunda branca o plantem aqui que é terra de ninguém.

Prestando alguma atenção aos ensinamentos dos Grandes Mestres do Saber compreende-se ser impossível ter esperança num futuro não desastroso para as crianças de hoje porque a humanidade está atolada até o pescoço no pântano para onde foi levada por práticas decorrentes de hábitos do passado distante e que continuam praticados embora se tornassem perniciosos à sociedade. Se tempos houve em que o território de cada Capitania Hereditária abrigava apenas um punhado de seres humanos, a situação atual é diferente. No entanto, proporcionalmente aos que não tem terra alguma, há fazendeirão pelaí com áreas equivalentes às das capitanias. Como disse o Mestre Thomas Paine, o antigo hábito de não pensar que uma coisa esteja errada dá a esta coisa a aparência de estar certa. Mas olha lá que é apenas a aparência. A coisa em si não deixa de estar errada. Ela tem apenas a aparência de certa e por isso é considerada sem estranheza. O hábito de tê-la como certa esconde a verdade de ser uma coisa errada como apenas uma família exercer domínio sobre uma área equivalente a uma capitania hereditária. Do mesmo modo, o hábito de ver crianças vivendo de modo inferior a cães e gatos sem despertar a atenção de ninguém, é outra coisa muitíssimo errada porque quando as crianças bem nascidas de hoje forem as madamas e os madamos terão suas vidas infelicitadas se seus pais não cuidarem daquelas criança tidas como seres de outro planeta em vez de mandar prendê-las.

Quando se diz que a causa de toda a desarrumação é a ignorância não se está dizendo que as pessoas não sabem ler. Está-se dizendo que elas ignoram o fato científico de que ao alcançar dez bilhões de pessoas, o planeta não poderá mais sustentar a vida sobre ele. Se já estamos perto dos dez bilhões, não é motivo para alegria o nascimento de mais uma criança porque a cada uma que chega apressa mais o ponteiro que se dirige para o ponto final. Ninguém pode temer algo que desconheça. Para que se tenha medo do que está caminhando em nossa direção é preciso sair do mundo da indiferença e procurar saber que tipo de água está bebendo, que comida está comendo e que ar está respirando. Apenas o convencimento da inevitabilidade do resultado danoso de um ato é capaz de eliminar a sua prática. O sujeito que não se incomoda em se servir nos restaurantes a quilo de algo sobre o qual pousou uma mosca é porque não viu aquela mosca voar da pereba da perna do mendigo lá fora na calçada e pousar em cima daquela guloseima. Se visse não a comeria. Todo caso, se tratando de brasileiro, não é de se duvidar. Entretanto, em condições normais, nenhum Mestre do Saber comeria uma comida sobre a qual aquela mosca pousou. Assim como a falta do conhecimento do lugar de onde veio a mosca e suas consequências não impede a indiferença, do mesmo modo, o desconhecimento da realidade escondida no mundo fantasioso das festas e do endeusamento das “celebridades” e “famosos”, a fixação sobre a acumulação de riqueza, enfim, o reinado da ignorância, destas causas ignoradas resultará infelicidade para ricos e pobres porque a água, a comida e o ar, em vez de saúde, estão provocando doenças de tratamento caro; a violência vai recrudescer e produzir ainda mais infelicidade; a biosfera vai ser destruída por secas e enchentes e haverá fome.

Estas são as consequências. A causa delas é uma cultura resultante dos hábitos de seres tão brutos como os seres humanos, com destaque para requebradores de quadris, causas combatíveis com uma educação que não ensine como solução dos problemas por elas criados o caminho da igreja em vez da sociabilidade e cooperação além de uma cultura que valorize as qualidades espirituais em lugar das práticas bárbaras ainda em vigor de competição de pancadaria na qual se inclui além de socos, coices que podem danificar para sempre um rim ou outro órgão qualquer. Inté.

 

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