Às vezes
chego quase a querer acreditar não haver motivo para pessimismo. Vai ver não
vai faltar água nem comida, nem ar, e que vai até diminuir a incidência de
moléstias graves que infelicitam sobremaneira as criancinhas fofas e rechonchudas
que cada vez mais estão sendo vítimas do maldito câncer. Quem pode garantir, de
uma hora para outra, estejam certos os frequentadores de igreja e da
frivolidade, que nada veem de anormal em orar e dançar indiferentes a um futuro
resultante deste presente? As pessoas que raciocinam, aquelas que não fazem
parte da manada como os Grandes Mestres do Saber, afirmam não haver motivo para
o otimismo dos iletrados. Embora haja gente de credibilidade afirmando que
sempre houve secas e cheias, este otimismo está em desacordo com os
acontecimentos só não percebíveis porque a já escassa atividade mental está
voltada para as atividades que integram o corre-corre diário de modo tão
absoluto que não deixa a brutalidade humana perceber a possibilidade de se
presentearem os humanos com o destino dos dinossauros.
É
impressionante como pais não se incomodam com o futuro dos filhos ante a
assustadora certeza de faltar água e comida. Motivo para isso está aí de montão.
A escassez de alimento não pode mais ser considerada coisa duvidosa. Tudo
concorre para isso. Não fosse a concentração de terras a produzir riqueza para o
agribiuzinesse, tem a degradação que já desertifica grandes áreas. Ao lado
disso, embora a constituição proíba, vastas áreas estão sendo adquiridas por
chineses e japoneses para produzir comida a ser levada para a China e o Japão,
o que ajuda a diminuir ainda mais a área de produzir comida para os habitantes
deste país de triste sorte. Outras áreas imensas servem para os gringos
produzir celulose com eucalipto, lavoura que esgota rapidamente o solo, o que
faz com que os gringos da bunda branca o plantem aqui que é terra de ninguém.
Prestando
alguma atenção aos ensinamentos dos Grandes Mestres do Saber compreende-se ser
impossível ter esperança num futuro não desastroso para as crianças de hoje porque
a humanidade está atolada até o pescoço no pântano para onde foi levada por
práticas decorrentes de hábitos do passado distante e que continuam praticados
embora se tornassem perniciosos à sociedade. Se tempos houve em que o
território de cada Capitania Hereditária abrigava apenas um punhado de seres
humanos, a situação atual é diferente. No entanto, proporcionalmente aos que
não tem terra alguma, há fazendeirão pelaí com áreas equivalentes às das
capitanias. Como disse o Mestre Thomas Paine, o antigo hábito de não pensar que
uma coisa esteja errada dá a esta coisa a aparência de estar certa. Mas olha lá
que é apenas a aparência. A coisa em si não deixa de estar errada. Ela tem
apenas a aparência de certa e por isso é considerada sem estranheza. O hábito
de tê-la como certa esconde a verdade de ser uma coisa errada como apenas uma
família exercer domínio sobre uma área equivalente a uma capitania hereditária.
Do mesmo modo, o hábito de ver crianças vivendo de modo inferior a cães e gatos
sem despertar a atenção de ninguém, é outra coisa muitíssimo errada porque
quando as crianças bem nascidas de hoje forem as madamas e os madamos terão
suas vidas infelicitadas se seus pais não cuidarem daquelas criança tidas como
seres de outro planeta em vez de mandar prendê-las.
Quando se
diz que a causa de toda a desarrumação é a ignorância não se está dizendo que
as pessoas não sabem ler. Está-se dizendo que elas ignoram o fato científico de
que ao alcançar dez bilhões de pessoas, o planeta não poderá mais sustentar a
vida sobre ele. Se já estamos perto dos dez bilhões, não é motivo para alegria
o nascimento de mais uma criança porque a cada uma que chega apressa mais o ponteiro
que se dirige para o ponto final. Ninguém pode temer algo que desconheça. Para
que se tenha medo do que está caminhando em nossa direção é preciso sair do mundo
da indiferença e procurar saber que tipo de água está bebendo, que comida está
comendo e que ar está respirando. Apenas o convencimento da inevitabilidade do
resultado danoso de um ato é capaz de eliminar a sua prática. O sujeito que não
se incomoda em se servir nos restaurantes a quilo de algo sobre o qual pousou
uma mosca é porque não viu aquela mosca voar da pereba da perna do mendigo lá
fora na calçada e pousar em cima daquela guloseima. Se visse não a comeria.
Todo caso, se tratando de brasileiro, não é de se duvidar. Entretanto, em
condições normais, nenhum Mestre do Saber comeria uma comida sobre a qual aquela
mosca pousou. Assim como a falta do conhecimento do lugar de onde veio a mosca e
suas consequências não impede a indiferença, do mesmo modo, o desconhecimento
da realidade escondida no mundo fantasioso das festas e do endeusamento das
“celebridades” e “famosos”, a fixação sobre a acumulação de riqueza, enfim, o
reinado da ignorância, destas causas ignoradas resultará infelicidade para
ricos e pobres porque a água, a comida e o ar, em vez de saúde, estão
provocando doenças de tratamento caro; a violência vai recrudescer e produzir
ainda mais infelicidade; a biosfera vai ser destruída por secas e enchentes e
haverá fome.
Estas são
as consequências. A causa delas é uma cultura resultante dos hábitos de seres
tão brutos como os seres humanos, com destaque para requebradores de quadris,
causas combatíveis com uma educação que não ensine como solução dos problemas
por elas criados o caminho da igreja em vez da sociabilidade e cooperação além
de uma cultura que valorize as qualidades espirituais em lugar das práticas
bárbaras ainda em vigor de competição de pancadaria na qual se inclui além de
socos, coices que podem danificar para sempre um rim ou outro órgão qualquer.
Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário