Alguém contestou
minha afirmação de não haver ente vivo sem uma propulsão natural de buscar o
bem-estar. Contestou com o argumento de ser o suicídio uma prova de haver quem
busque o mal-estar da morte. Deixei prá lá o assunto por se tratar de quem
ainda procura seu bem-estar indo à igreja. Mas, por não ter ainda aprendido a
pensar, como tudo o mais nesse povo de cérebro no requebrador, o requebrador que
me contestou tem certeza de estar certo, estando errado. E eu, que para ele estou
errado, estou certo. Linháis, nesse país de reboladores é sempre assim. O que é
tido por certo não é certo, como também não é certo que o suicida seja uma
exceção à regra da natureza segundo a qual todos buscam comodidade. Mestre
Machado de Assis costumava definir esta sensação de comodidade como “estar a
gosto”. Quando o suicida deixa a vida, é porque não estava “a gosto” e buscava se
livrar dos tormentos que o infelicitavam, portanto, buscando bem-estar. As leis
naturais não podem ser burladas como as dos seres humanos. Não por haver
inteligência na natureza, mas por haver excesso de burrice entre os homens.
Naquela
arenga sobre dona Dilma afirmar haver vantagem no agribiuzinesse é tão falsa a
afirmação quanto o raciocínio de quem acredita haver exceção para as exigências
da natureza. A capacidade de raciocinar foi anulada e até os poetas, certamente
levados por qualquer motivo à ânsia de concluir seu trabalho, fazem afirmações
completamente equivocadas. O Mestre Vinícius ofendeu as mulheres que não
atendem ao padrão estabelecido de beleza chamando-as de feias. De um poeta não
se espera grosseria. Os seres humanos devem merecer apreço pelo seu caráter, e
não porque o mundo dos ricos mandou dizer que beleza mesmo é com o corpo coberto
de “fashion” e de gosmas que vão apressar o envelhecimento e a intervenção dos
bruxos do bisturi, o que apressará ainda mais. Também os poetas seresteiros
Tonico e Tinoco, fizeram uma bela canção chamada Cabocla Tereza, mas se
equivocaram ao afirmar que a dita cabocla não quis a felicidade. Sinônima de
bem-estar, a felicidade é exigência da natureza e como tal não pode ser
dispensada. Todos a querem. De um modo ou de outro, mas todos buscam
felicidade. Como não há inteligência na natureza, alguém é por ela convencido de
que sua felicidade depende da posse de algo ou de alguém. Quando esse algo ou
esse alguém não está disponível para ser possuído, aí a porca torce o rabo da
infelicidade através de uma doença chamada paixão, sobre a qual tivemos há
muito tempo uma arenga chamada PAIXÃO. A indiferença à felicidade atribuída à
cabocla Tereza ao abandonar o caboclo com quem vivia para fugir com outro
caboclo encontra explicação no fato de estar ela estava convicta de que sua
felicidade dependia da companhia do outro caboclo com o qual fugiu. Fugiu
exatamente em busca de sua felicidade. Não por não querer a felicidade como
afirmam os poetas. Ninguém escapa a essa regra de almejar felicidade, palavra que
já nem tem mais sentido.
Entretanto,
com toda a esquisitice do comportamento de buscar seu próprio mal-estar, ao se
juntarem, ao substituir a individualidade pela necessária coletividade, os
seres humanos passaram a agir na busca da própria infelicidade. Mas isso não
configura burla à lei natural por ser uma convenção resultante da união de
seres estupidamente estúpidos. A estupidez humana não lhe deixa perceber nada
aos lados da pista pavimentada por onde escoa a riqueza na qual imagina estar
seu bem-estar, quando ele está mesmo é em lugar bem diferente. Urge (que
palavrinha disgraçada), pois, que o coletivo observe a necessidade de perseguir
outro objetivo além do individualista de encontrar apenas o próprio bem-estar,
pelo simples motivo de ser impossível haver um bem-estar ilhado por um mar de
mal-estar. Como um bem-estar duradouro é melhor que um passageiro, é hora de um
comportamento que leve todos ao objetivo de alcançar um bem-estar social porque
sem ele todas as supostas ilhas de bem-estar não passam de fantasia e serão
submersas pelo mar da ignorância que os ricos donos do mundo colocaram no lugar
de uma educação que orientasse as pessoas no sentido de saber conviver sem
brigar, no que fizeram uma grande bobagem.
Desde que
pense, qualquer Zé Mané pode perceber que isso tudo aí não vai dar certo de
nenhum jeito. Basta atentar para o fato de indiscutível insensatez uma situação
em que as pessoas mais insignificantes em termos de contribuição cultural são
exatamente as que recebem maior reconhecimento social. O comportamento humano
em relação ao “estar a gosto” de sua sociedade é o mesmo comportamento de quem
constrói e mora com a família num edifício de quarenta andares construído
apenas pela orientação dos mestres-de-obras. Assim é como procedeu a humanidade
até este momento, mas é preciso que a juventude enquanto rebola o lado de baixo aprenda a
rebolar também o lado de cima porque com o menor dos raciocínios chega-se à
conclusão lógica e absolutamente correta de estar tudo errado o que está sendo
vivido. É próprio da juventude traçar planos para o futuro, mas não o futuro que
terão os atuais jovens enquanto permanecerem rebolando apenas a parte de baixo.
É mais que necessário para o bem das criancinhas de hoje uma tomada de posição
na luta pelo esclarecimento capaz de produzir um ambiente pacífico onde a vida
tenha um sentido diferente do prometido pela religião porque deve ser um
tremendo saco viver nas nuvens a orar e suportar anjinhos chatos zumbindo asas
de abelha com suas bundinhas roliças e rosadas. Inté.
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