sábado, 12 de abril de 2014

ARENGA NÚMERO QUINZE


 

Alguém contestou minha afirmação de não haver ente vivo sem uma propulsão natural de buscar o bem-estar. Contestou com o argumento de ser o suicídio uma prova de haver quem busque o mal-estar da morte. Deixei prá lá o assunto por se tratar de quem ainda procura seu bem-estar indo à igreja. Mas, por não ter ainda aprendido a pensar, como tudo o mais nesse povo de cérebro no requebrador, o requebrador que me contestou tem certeza de estar certo, estando errado. E eu, que para ele estou errado, estou certo. Linháis, nesse país de reboladores é sempre assim. O que é tido por certo não é certo, como também não é certo que o suicida seja uma exceção à regra da natureza segundo a qual todos buscam comodidade. Mestre Machado de Assis costumava definir esta sensação de comodidade como “estar a gosto”. Quando o suicida deixa a vida, é porque não estava “a gosto” e buscava se livrar dos tormentos que o infelicitavam, portanto, buscando bem-estar. As leis naturais não podem ser burladas como as dos seres humanos. Não por haver inteligência na natureza, mas por haver excesso de burrice entre os homens.

Naquela arenga sobre dona Dilma afirmar haver vantagem no agribiuzinesse é tão falsa a afirmação quanto o raciocínio de quem acredita haver exceção para as exigências da natureza. A capacidade de raciocinar foi anulada e até os poetas, certamente levados por qualquer motivo à ânsia de concluir seu trabalho, fazem afirmações completamente equivocadas. O Mestre Vinícius ofendeu as mulheres que não atendem ao padrão estabelecido de beleza chamando-as de feias. De um poeta não se espera grosseria. Os seres humanos devem merecer apreço pelo seu caráter, e não porque o mundo dos ricos mandou dizer que beleza mesmo é com o corpo coberto de “fashion” e de gosmas que vão apressar o envelhecimento e a intervenção dos bruxos do bisturi, o que apressará ainda mais. Também os poetas seresteiros Tonico e Tinoco, fizeram uma bela canção chamada Cabocla Tereza, mas se equivocaram ao afirmar que a dita cabocla não quis a felicidade. Sinônima de bem-estar, a felicidade é exigência da natureza e como tal não pode ser dispensada. Todos a querem. De um modo ou de outro, mas todos buscam felicidade. Como não há inteligência na natureza, alguém é por ela convencido de que sua felicidade depende da posse de algo ou de alguém. Quando esse algo ou esse alguém não está disponível para ser possuído, aí a porca torce o rabo da infelicidade através de uma doença chamada paixão, sobre a qual tivemos há muito tempo uma arenga chamada PAIXÃO. A indiferença à felicidade atribuída à cabocla Tereza ao abandonar o caboclo com quem vivia para fugir com outro caboclo encontra explicação no fato de estar ela estava convicta de que sua felicidade dependia da companhia do outro caboclo com o qual fugiu. Fugiu exatamente em busca de sua felicidade. Não por não querer a felicidade como afirmam os poetas. Ninguém escapa a essa regra de almejar felicidade, palavra que já nem tem mais sentido.

Entretanto, com toda a esquisitice do comportamento de buscar seu próprio mal-estar, ao se juntarem, ao substituir a individualidade pela necessária coletividade, os seres humanos passaram a agir na busca da própria infelicidade. Mas isso não configura burla à lei natural por ser uma convenção resultante da união de seres estupidamente estúpidos. A estupidez humana não lhe deixa perceber nada aos lados da pista pavimentada por onde escoa a riqueza na qual imagina estar seu bem-estar, quando ele está mesmo é em lugar bem diferente. Urge (que palavrinha disgraçada), pois, que o coletivo observe a necessidade de perseguir outro objetivo além do individualista de encontrar apenas o próprio bem-estar, pelo simples motivo de ser impossível haver um bem-estar ilhado por um mar de mal-estar. Como um bem-estar duradouro é melhor que um passageiro, é hora de um comportamento que leve todos ao objetivo de alcançar um bem-estar social porque sem ele todas as supostas ilhas de bem-estar não passam de fantasia e serão submersas pelo mar da ignorância que os ricos donos do mundo colocaram no lugar de uma educação que orientasse as pessoas no sentido de saber conviver sem brigar, no que fizeram uma grande bobagem.

Desde que pense, qualquer Zé Mané pode perceber que isso tudo aí não vai dar certo de nenhum jeito. Basta atentar para o fato de indiscutível insensatez uma situação em que as pessoas mais insignificantes em termos de contribuição cultural são exatamente as que recebem maior reconhecimento social. O comportamento humano em relação ao “estar a gosto” de sua sociedade é o mesmo comportamento de quem constrói e mora com a família num edifício de quarenta andares construído apenas pela orientação dos mestres-de-obras. Assim é como procedeu a humanidade até este momento, mas é preciso que a juventude  enquanto rebola o lado de baixo aprenda a rebolar também o lado de cima porque com o menor dos raciocínios chega-se à conclusão lógica e absolutamente correta de estar tudo errado o que está sendo vivido. É próprio da juventude traçar planos para o futuro, mas não o futuro que terão os atuais jovens enquanto permanecerem rebolando apenas a parte de baixo. É mais que necessário para o bem das criancinhas de hoje uma tomada de posição na luta pelo esclarecimento capaz de produzir um ambiente pacífico onde a vida tenha um sentido diferente do prometido pela religião porque deve ser um tremendo saco viver nas nuvens a orar e suportar anjinhos chatos zumbindo asas de abelha com suas bundinhas roliças e rosadas. Inté.  

 

 

 

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