No blog
Outras Palavras, organizado ao que me parece, por um senhor chamado Antonio
Martins, podem ser lidas reportagens interessantíssimas. Vi lá uma matéria que
expõe as razões da estupidez desse povo idiotizado que só presta para o que não
presta e que considera certo aquilo que é errado. Trata a reportagem de uma
entrevista na qual um jovem declara que fumar maconha nunca lhe prejudicou em
nada, e cita o fato de só tirar notas boas “apesar de não se ligar nos livros”.
Isto é uma coisa tão assustadora que só não bota em pé os cabelos dos pais das
criancinhas rechonchudas porque eles pensam com a parte do lado de baixo do
corpo e o que sai de lá não tem serventia. O que para aquele jovem é um
comportamento correto, na verdade, é comportamento absolutamente incorreto. Embora
seja verdade que a maconha não ofusca a inteligência daquele jovem, ofusca-lhe
a saúde. Sendo inteligente, teria talvez nenhuma razão para usar droga se
vivesse em outro ambiente que não esse onde os jovens são levados à ignorância
absoluta. A juventude esperta e sadia não precisa de estímulo nenhum para viver
em paz com a vida. A satisfação de viver dos jovens é prova de que eles não
precisam do estímulo das drogas e o ar sempre feliz de suas fisionomias prova
que estão satisfeitos, e quem está satisfeito é por estar se sentindo bem, e
quem está se sentindo bem deve conservar assim seu estado de espírito. Enquanto
se é jovem as coisas fluem com aparente normalidade mesmo dentro da
anormalidade em que vivemos. Se aquele pobre garotão que não se liga nos livros
estivesse ligado neles, ah! Seu mundo não precisaria de droga para não ser
chato porque cada estímulo oriundo de cada novo aprendizado que os livros nos
dão aprimora a espiritualidade e dá a sensação de uma conquista tão agradável
que produz enlevo equivalente àquela que o jovem do meu tempo sentia nos
primeiros contatos com uma garota “diferente” que lhe agradou tanto não só pela
atração imposta pela natureza, mas também pela coincidência dos pontos de vista,
e que lhe foi tão agradavelmente receptiva. É realmente compensadora cada
conquista de novo conhecimento. Leva o aprendiz a repetidas emoções a cada vez
que se alcança mais um horizonte na caminhada em busca do esclarecimento. As
emoções que se encontram no mundo do esclarecimento são permanentes e, além
disso, são cumulativas, diferentemente da satisfação proveniente das drogas,
que desaparece e só aparece outra vez mediante outro estímulo. Porém, da
repetição dos estímulos resulta uma velhice desgraçada de tão infeliz. A redução
das atividades que o aumento da idade impõe ao corpo afeta a espiritualidade e deixa
certo vazio na vida do idoso, que às vezes dá origem a uma inquietação
inexplicável, ocasiões em que um estímulo se faz tremendamente salutar, coisa
necessária apenas no idoso em tais condições, o que não é o caso de idoso que
passou pela vida sem nada aprender nos livros porque estes, como os irracionais,
só sentem tristeza quando é vítima de algum mal que lhes impeça de se fartar de
comida.
O idoso que
aprendeu a pensar não pode se sentir bem em meio aos que não aprenderam por
serem pessoas completamente diferentes e esta circunstância deixa o idoso que
pensa um pouco isolado, o que lhe faz carente de um estímulo que só lhe será
permitido se tiver poupado um pouco de saúde na juventude para ser usada nesses
momentos. Se aquele idoso desconfortado espiritualmente jogou fora parte de sua
saúde quando jovem em busca dos estímulos desnecessários das drogas, aí aquele
idoso espiritualmente desconfortado terá de curtir seu desconforto porque a
velhice se encarrega de gastar o que sobrou de sua saúde, ficando
impossibilitado de um analgésico espiritual reconfortante pela falta daquele
pedaço de saúde jogado fora lá atrás.
Se está
errado o jovem da entrevista ao usar droga, muito mais errado estará em não se liga
nos livros. Se ligasse, estaria ainda mais satisfeito com a vida do que seu ar
risonho de satisfação demonstra. Apenas através dos livros tomamos conhecimento
do que se passou por aqui antes da nossa chegada, conhecimento que permite
aprender o que deu certo ou errado com nossos antecedentes, permitindo-nos
adotar os hábitos de boas consequências para evitar os outros. Só há vantagem
nos ensinamentos dos bons livros. Que tipo de trabalho prestará à sociedade um
profissional que não se liga nos livros? A prática criminosa de deixar e até
dar uma mãozinha para que a juventude siga por este caminho de inimizade com o
mundo da cultura é uma crueldade sem limite. Fala-se em crime hediondo quando
alguém que só aprendeu brutalidade pratica contra uma pessoa a brutalidade que
aprendeu, mas não se fala no crime praticado contra um povo inteiro ao se
deseducar a juventude e idiotizá-la tanto a ponto de torná-la inimiga do saber.
Estes coitados, pobres de conhecimento, chegarão a uma velhice tão infeliz quanto
foi sua falsa felicidade no tempo de preferir o mundo esquisito onde não há
necessidade de aprender coisa nenhuma fora daquilo de que se esteja
participando fisicamente. Como será um mundo onde o conhecimento se restringe
aos acontecimentos que ocorrem naquele momento apenas? Apesar de muito
esquisito, esse será o mundo das criancinhas de hoje a persistir esta perigosa
alienação mental da juventude. Se por um lado a falta de conhecimento do
passado tira dos jovens a necessidade de pensar, o automatismo da futucação de
aparelhos eletrônicos, por outro lado, lhes tira o pouco de inteligência que
tinham, resultando daí uma sociedade de robôs programados para fazer besteira.
E o pior é que são robôs com sentimento e que sofrem, comem e bebem.
Porém, sem
se ligar na atividade de aprender alguma coisa e pensar sobre ela, os jovens
felizes e certos de não haver necessidade de conhecimento abstrato chegarão a
uma situação em que o comer e o beber ficarão tão escassos a ponto de não se
justificar mais motivo algum para os risos. Quem não pensa não parece gente. Nem
mesmo sabe como será sua vida num mundo sem água e comida. Não sabe que cerca
de trinta por cento da água tratada em São Paulo são jogados fora entre a
estação de tratamento e a casa dos consumidores. Isto é coisa sobre a qual
todos precisam pensar. Quase um terço da água tratada a um alto custo no estado
paulista é simplesmente jogado fora.
Não é
conveniente continuar andando pelo caminho até aqui caminhado porque tudo à
volta é insensatez. É preciso mudar imediatamente desse rumo idiota. Nesse
momento está em altas discussões
aumentar a verba para educação depois que a imprensa mostrou a vergonha
que é o nível de conhecimento da juventude. Porém, quem pensa sabe
perfeitamente qual será o destino daquele dinheiro e é por isso que quem pensa
não dá certo com quem não pensa. Inté.
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