domingo, 27 de abril de 2014

ARENGA VINTE E QUATRO


 

No blog Outras Palavras, organizado ao que me parece, por um senhor chamado Antonio Martins, podem ser lidas reportagens interessantíssimas. Vi lá uma matéria que expõe as razões da estupidez desse povo idiotizado que só presta para o que não presta e que considera certo aquilo que é errado. Trata a reportagem de uma entrevista na qual um jovem declara que fumar maconha nunca lhe prejudicou em nada, e cita o fato de só tirar notas boas “apesar de não se ligar nos livros”. Isto é uma coisa tão assustadora que só não bota em pé os cabelos dos pais das criancinhas rechonchudas porque eles pensam com a parte do lado de baixo do corpo e o que sai de lá não tem serventia. O que para aquele jovem é um comportamento correto, na verdade, é comportamento absolutamente incorreto. Embora seja verdade que a maconha não ofusca a inteligência daquele jovem, ofusca-lhe a saúde. Sendo inteligente, teria talvez nenhuma razão para usar droga se vivesse em outro ambiente que não esse onde os jovens são levados à ignorância absoluta. A juventude esperta e sadia não precisa de estímulo nenhum para viver em paz com a vida. A satisfação de viver dos jovens é prova de que eles não precisam do estímulo das drogas e o ar sempre feliz de suas fisionomias prova que estão satisfeitos, e quem está satisfeito é por estar se sentindo bem, e quem está se sentindo bem deve conservar assim seu estado de espírito. Enquanto se é jovem as coisas fluem com aparente normalidade mesmo dentro da anormalidade em que vivemos. Se aquele pobre garotão que não se liga nos livros estivesse ligado neles, ah! Seu mundo não precisaria de droga para não ser chato porque cada estímulo oriundo de cada novo aprendizado que os livros nos dão aprimora a espiritualidade e dá a sensação de uma conquista tão agradável que produz enlevo equivalente àquela que o jovem do meu tempo sentia nos primeiros contatos com uma garota “diferente” que lhe agradou tanto não só pela atração imposta pela natureza, mas também pela coincidência dos pontos de vista, e que lhe foi tão agradavelmente receptiva. É realmente compensadora cada conquista de novo conhecimento. Leva o aprendiz a repetidas emoções a cada vez que se alcança mais um horizonte na caminhada em busca do esclarecimento. As emoções que se encontram no mundo do esclarecimento são permanentes e, além disso, são cumulativas, diferentemente da satisfação proveniente das drogas, que desaparece e só aparece outra vez mediante outro estímulo. Porém, da repetição dos estímulos resulta uma velhice desgraçada de tão infeliz. A redução das atividades que o aumento da idade impõe ao corpo afeta a espiritualidade e deixa certo vazio na vida do idoso, que às vezes dá origem a uma inquietação inexplicável, ocasiões em que um estímulo se faz tremendamente salutar, coisa necessária apenas no idoso em tais condições, o que não é o caso de idoso que passou pela vida sem nada aprender nos livros porque estes, como os irracionais, só sentem tristeza quando é vítima de algum mal que lhes impeça de se fartar de comida.

O idoso que aprendeu a pensar não pode se sentir bem em meio aos que não aprenderam por serem pessoas completamente diferentes e esta circunstância deixa o idoso que pensa um pouco isolado, o que lhe faz carente de um estímulo que só lhe será permitido se tiver poupado um pouco de saúde na juventude para ser usada nesses momentos. Se aquele idoso desconfortado espiritualmente jogou fora parte de sua saúde quando jovem em busca dos estímulos desnecessários das drogas, aí aquele idoso espiritualmente desconfortado terá de curtir seu desconforto porque a velhice se encarrega de gastar o que sobrou de sua saúde, ficando impossibilitado de um analgésico espiritual reconfortante pela falta daquele pedaço de saúde jogado fora lá atrás.

Se está errado o jovem da entrevista ao usar droga, muito mais errado estará em não se liga nos livros. Se ligasse, estaria ainda mais satisfeito com a vida do que seu ar risonho de satisfação demonstra. Apenas através dos livros tomamos conhecimento do que se passou por aqui antes da nossa chegada, conhecimento que permite aprender o que deu certo ou errado com nossos antecedentes, permitindo-nos adotar os hábitos de boas consequências para evitar os outros. Só há vantagem nos ensinamentos dos bons livros. Que tipo de trabalho prestará à sociedade um profissional que não se liga nos livros? A prática criminosa de deixar e até dar uma mãozinha para que a juventude siga por este caminho de inimizade com o mundo da cultura é uma crueldade sem limite. Fala-se em crime hediondo quando alguém que só aprendeu brutalidade pratica contra uma pessoa a brutalidade que aprendeu, mas não se fala no crime praticado contra um povo inteiro ao se deseducar a juventude e idiotizá-la tanto a ponto de torná-la inimiga do saber. Estes coitados, pobres de conhecimento, chegarão a uma velhice tão infeliz quanto foi sua falsa felicidade no tempo de preferir o mundo esquisito onde não há necessidade de aprender coisa nenhuma fora daquilo de que se esteja participando fisicamente. Como será um mundo onde o conhecimento se restringe aos acontecimentos que ocorrem naquele momento apenas? Apesar de muito esquisito, esse será o mundo das criancinhas de hoje a persistir esta perigosa alienação mental da juventude. Se por um lado a falta de conhecimento do passado tira dos jovens a necessidade de pensar, o automatismo da futucação de aparelhos eletrônicos, por outro lado, lhes tira o pouco de inteligência que tinham, resultando daí uma sociedade de robôs programados para fazer besteira. E o pior é que são robôs com sentimento e que sofrem, comem e bebem.

Porém, sem se ligar na atividade de aprender alguma coisa e pensar sobre ela, os jovens felizes e certos de não haver necessidade de conhecimento abstrato chegarão a uma situação em que o comer e o beber ficarão tão escassos a ponto de não se justificar mais motivo algum para os risos. Quem não pensa não parece gente. Nem mesmo sabe como será sua vida num mundo sem água e comida. Não sabe que cerca de trinta por cento da água tratada em São Paulo são jogados fora entre a estação de tratamento e a casa dos consumidores. Isto é coisa sobre a qual todos precisam pensar. Quase um terço da água tratada a um alto custo no estado paulista é simplesmente jogado fora.

Não é conveniente continuar andando pelo caminho até aqui caminhado porque tudo à volta é insensatez. É preciso mudar imediatamente desse rumo idiota. Nesse momento está em altas discussões  aumentar a verba para educação depois que a imprensa mostrou a vergonha que é o nível de conhecimento da juventude. Porém, quem pensa sabe perfeitamente qual será o destino daquele dinheiro e é por isso que quem pensa não dá certo com quem não pensa. Inté.  

  

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