quinta-feira, 17 de abril de 2014

ARENGA NÚMERO DEZOITO


Sempre houve seres humanos de mente evoluída o bastante para concluir que a humanidade pode viver de modo infinitamente melhor do que vive, mas suas opiniões não encontram ressonância porque é como falar para irracionais uma vez que a absolutíssima maioria dos seres humanos não passa de malta tão ignorante que mereceu o qualificativo de manada pelo poeta. Há mais de duzentos anos, um destes sujeitos que não fazem parte de nenhuma manada, chamado Thomas Paine, observou o que também seria mais tarde observado pelo também pensado Rui Barbosa, quando afirmou que todos os males da humanidade decorrem exclusivamente da ignorância. Paine lembrava a distinção entre sociedade e governo. Afirmava corretamente que a sociedade decorre da necessidade que tem os seres humanos uns dos outros, sendo, portanto, um bem.  Realmente, não podemos viver isolados e não passa de mera fantasia a pretensão burra de quem acredita ser possível comprar com dinheiro seu mundinho de paz em maio a uma sociedade em guerra. Na eterna conflagração em que sempre viveram as bestas humanas está a origem dos tormentos que as infelicitam, e esta desarmonia nasce exatamente do desconhecimento (fato de ignorar) como proceder para se viver bem. Nem podia ser de outro modo uma vez que a juventude se nega a tirar o pé do mundo da ignorância para dar um passo rumo ao caminho da elevação espiritual alcançável mediante aprendizado com quem tem coisas boas para ensinar. Entretanto, por mais esquisito que pareça, e para total tristeza de quem pensa, os jovens se ligam mesmo é em figuras completamente inúteis para nos ajudar a perceber melhor as verdadeiras verdades da vida real e a possibilidade de agir de acordo com tais verdades. As grandes personalidades para os jovens são uns tais de “celebridades” e “famosos” com quem a única coisa que se pode aprender é amar dinheiro acima de todas as coisas, inclusive da dignidade. O que podem ensinar estas intelectualmente inúteis e espiritualmente pobres figuras? Absolutamente nada, e é daí que nasce a monumental ignorância à qual os pensadores atribuem a atribulação em que vivemos.

Não há limite para o estado de burrice de quem prefere a mentalidade de uma “celebridade” à mentalidade de pessoas inteligentes e sensatas como Thomas Paine. Ele afirmou algo que dá mesmo o que pensar quando disse que o governo é produto da nossa maldade. Será que alguma “celebridade” se liga nesses assuntos? Se não, o que está a juventude fazendo em sua companhia? Uma sociedade feita de jovens para quem “fashion” é coisa importante e criança em sofrimento não é nada, tem de ser uma sociedade de freqüentadores de briga de galo, de igreja, de terreiros de axé e de futebola, além de choradores no corredor do hospital, tipo de gente incapaz de formar um grupo que possa ser qualificado de civilizado.  Ao contrário, os bichos humanos agem sempre de modo a produzir sua própria infelicidade. Por só saber o que é ensinado pelo exemplo das “celebridades” é que as coisas mais importantes na vida para as bestas humanas são as coisas mais insignificantes como fazer compras. Investem furiosamente contra a natureza em busca de matéria prima para produzir coisas inúteis a serem compradas e até mesmo para evitar o envelhecimento, como se isso fosse possível. Através dos bruxos do bisturi que lhes arrancam a parte da pele que perdeu a sustentação do músculo a fim de mascarar do lado de fora a marcha implacável do tempo que ocorre do lado de dentro. É esse tipo de ensinamento que se aprende com as “celebridades”, companhia preferida da juventude, o que explica a monumental ignorância humana.

Boa companhia é aquela que mostra realidades como a possibilidade de se intervir no funcionamento da natureza e da vida a fim de melhor nos adaptarmos às inevitáveis reviravoltas que nos chegam desses dois lados. Se interferimos no funcionamento dos diversos engenhos mecânicos que nos facilitam viver, por que, então, não interferir nas engrenagens da própria vida para tornar melhor seu funcionamento? Para fazer isso é necessário conhecer como é que funciona esta engrenagem. Percebe-se, entretanto, que ela não está funcionando no sentido de produzir bem-estar porque construção de máquinas de matar e ingestão de venenos não entram no receituário da arte de viver que tem por finalidade a comodidade e a busca da paz.

 Esta é a razão pela qual o mundo está tão ruim a ponto de haver fome e guerra. É porque a maior força do mundo, sua juventude, não conhece o funcionamento da engrenagem da vida e por isso mesmo não pode interferir para melhorá-lo. Decorre dessa falta de intervenção o desgaste cada vez maior das peças da engrenagem que algum dia chegará à exaustão. Portanto, antes que seja tarde, trate a juventude de passar para a companhia de Thomas Paine porque sem saber onde leva esse caminho por onde caminha, a juventude vai dar numa toca de bode do diabo. Não se deve andar às cegas. A sabedoria está em escolher o melhor caminho para se caminhar mesmo porque a natureza nos abriga a procurar comodidade, o que nunca conseguirá quem continua caminhando por este caminho margeado por corpos esquartejados, igrejas, terreiros para todo tipo de festa, crianças esquálidas, palácios monumentais e uma ignorância ainda mais monumental que os palácios do capitalismo procurando superar a fracassada demonstração de poder tentada na construção da Torre de Babel.  

Thomas Paine nos ensina também que o hábito de não pensar que uma coisa esteja errada, dá-lhe aparência de estar certa. Não dá para entender como a juventude prefere as “celebridades” em vez das CELEBRIDADES. Desse ensinamento do Mestre do Saber podemos perceber estarmos habituados a acreditar estar certo toda esta infelicidade espalhada mundo afora, o que é contrário à própria natureza que nos impulsiona sempre na direção do bem-estar, não obstante os empecilhos com os quais a própria natureza nos prejudica o bem-estar, como o cálculo renal, o câncer e a dor de dente. O certo, entretanto, é não haver quem não pretenda chegar em paz à velhice, mas nesse sentido estamos caminhando em sentido contrário à pretensão porque o rumo seguido leva a uma velhice infeliz aceita unicamente porque ainda não se pensou em corrigir o funcionamento da engrenagem da vida de modo a produzir felicidade em vez de infelicidade. Basta ligar a televisão, o rádio, ler o jornal, ouvir conversa na rua, o assunto é sobre infelicidade. Ora é pedaço de corpo humano pela rua, ora é choradeira no corredor do hospital, outra hora é roubo. Nas páginas policiais é onde se escreve a história humana. Se tal situação de desassossego só tem feito aumentar, é porque o funcionamento da engrenagem de produzir bem-estar precisa de intervenção. Não podemos avançar mais um passo por esse caminho porque a imbecilidade predomina sobre a inteligência de perceber que os bens materiais estão sendo supervalorizados a ponto de superar o apreço à própria vida, o bem maior. Inté.  

 

 

 

 

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