Sempre
houve seres humanos de mente evoluída o bastante para concluir que a humanidade
pode viver de modo infinitamente melhor do que vive, mas suas opiniões não
encontram ressonância porque é como falar para irracionais uma vez que a
absolutíssima maioria dos seres humanos não passa de malta tão ignorante que
mereceu o qualificativo de manada pelo poeta. Há mais de duzentos anos, um
destes sujeitos que não fazem parte de nenhuma manada, chamado Thomas Paine,
observou o que também seria mais tarde observado pelo também pensado Rui
Barbosa, quando afirmou que todos os males da humanidade decorrem
exclusivamente da ignorância. Paine lembrava a distinção entre sociedade e
governo. Afirmava corretamente que a sociedade decorre da necessidade que tem
os seres humanos uns dos outros, sendo, portanto, um bem. Realmente, não podemos viver isolados e não
passa de mera fantasia a pretensão burra de quem acredita ser possível comprar com
dinheiro seu mundinho de paz em maio a uma sociedade em guerra. Na eterna
conflagração em que sempre viveram as bestas humanas está a origem dos tormentos
que as infelicitam, e esta desarmonia nasce exatamente do desconhecimento (fato
de ignorar) como proceder para se viver bem. Nem podia ser de outro modo uma
vez que a juventude se nega a tirar o pé do mundo da ignorância para dar um
passo rumo ao caminho da elevação espiritual alcançável mediante aprendizado
com quem tem coisas boas para ensinar. Entretanto, por mais esquisito que
pareça, e para total tristeza de quem pensa, os jovens se ligam mesmo é em
figuras completamente inúteis para nos ajudar a perceber melhor as verdadeiras
verdades da vida real e a possibilidade de agir de acordo com tais verdades. As
grandes personalidades para os jovens são uns tais de “celebridades” e
“famosos” com quem a única coisa que se pode aprender é amar dinheiro acima de
todas as coisas, inclusive da dignidade. O que podem ensinar estas intelectualmente
inúteis e espiritualmente pobres figuras? Absolutamente nada, e é daí que nasce
a monumental ignorância à qual os pensadores atribuem a atribulação em que
vivemos.
Não há
limite para o estado de burrice de quem prefere a mentalidade de uma
“celebridade” à mentalidade de pessoas inteligentes e sensatas como Thomas
Paine. Ele afirmou algo que dá mesmo o que pensar quando disse que o governo é
produto da nossa maldade. Será que alguma “celebridade” se liga nesses
assuntos? Se não, o que está a juventude fazendo em sua companhia? Uma
sociedade feita de jovens para quem “fashion” é coisa importante e criança em
sofrimento não é nada, tem de ser uma sociedade de freqüentadores de briga de
galo, de igreja, de terreiros de axé e de futebola, além de choradores no
corredor do hospital, tipo de gente incapaz de formar um grupo que possa ser
qualificado de civilizado. Ao contrário,
os bichos humanos agem sempre de modo a produzir sua própria infelicidade. Por
só saber o que é ensinado pelo exemplo das “celebridades” é que as coisas mais
importantes na vida para as bestas humanas são as coisas mais insignificantes como
fazer compras. Investem furiosamente contra a natureza em busca de matéria
prima para produzir coisas inúteis a serem compradas e até mesmo para evitar o
envelhecimento, como se isso fosse possível. Através dos bruxos do bisturi que
lhes arrancam a parte da pele que perdeu a sustentação do músculo a fim de
mascarar do lado de fora a marcha implacável do tempo que ocorre do lado de
dentro. É esse tipo de ensinamento que se aprende com as “celebridades”, companhia
preferida da juventude, o que explica a monumental ignorância humana.
Boa
companhia é aquela que mostra realidades como a possibilidade de se intervir no
funcionamento da natureza e da vida a fim de melhor nos adaptarmos às
inevitáveis reviravoltas que nos chegam desses dois lados. Se interferimos no
funcionamento dos diversos engenhos mecânicos que nos facilitam viver, por que,
então, não interferir nas engrenagens da própria vida para tornar melhor seu
funcionamento? Para fazer isso é necessário conhecer como é que funciona esta
engrenagem. Percebe-se, entretanto, que ela não está funcionando no sentido de
produzir bem-estar porque construção de máquinas de matar e ingestão de venenos
não entram no receituário da arte de viver que tem por finalidade a comodidade
e a busca da paz.
Esta é a razão pela qual o mundo está tão ruim
a ponto de haver fome e guerra. É porque a maior força do mundo, sua juventude,
não conhece o funcionamento da engrenagem da vida e por isso mesmo não pode
interferir para melhorá-lo. Decorre dessa falta de intervenção o desgaste cada
vez maior das peças da engrenagem que algum dia chegará à exaustão. Portanto, antes
que seja tarde, trate a juventude de passar para a companhia de Thomas Paine
porque sem saber onde leva esse caminho por onde caminha, a juventude vai dar
numa toca de bode do diabo. Não se deve andar às cegas. A sabedoria está em
escolher o melhor caminho para se caminhar mesmo porque a natureza nos abriga a
procurar comodidade, o que nunca conseguirá quem continua caminhando por este
caminho margeado por corpos esquartejados, igrejas, terreiros para todo tipo de
festa, crianças esquálidas, palácios monumentais e uma ignorância ainda mais
monumental que os palácios do capitalismo procurando superar a fracassada demonstração
de poder tentada na construção da Torre de Babel.
Thomas
Paine nos ensina também que o hábito de não pensar que uma coisa esteja errada,
dá-lhe aparência de estar certa. Não dá para entender como a juventude prefere
as “celebridades” em vez das CELEBRIDADES. Desse ensinamento do Mestre do Saber
podemos perceber estarmos habituados a acreditar estar certo toda esta
infelicidade espalhada mundo afora, o que é contrário à própria natureza que
nos impulsiona sempre na direção do bem-estar, não obstante os empecilhos com
os quais a própria natureza nos prejudica o bem-estar, como o cálculo renal, o
câncer e a dor de dente. O certo, entretanto, é não haver quem não pretenda
chegar em paz à velhice, mas nesse sentido estamos caminhando em sentido
contrário à pretensão porque o rumo seguido leva a uma velhice infeliz aceita
unicamente porque ainda não se pensou em corrigir o funcionamento da engrenagem
da vida de modo a produzir felicidade em vez de infelicidade. Basta ligar a
televisão, o rádio, ler o jornal, ouvir conversa na rua, o assunto é sobre
infelicidade. Ora é pedaço de corpo humano pela rua, ora é choradeira no
corredor do hospital, outra hora é roubo. Nas páginas policiais é onde se
escreve a história humana. Se tal situação de desassossego só tem feito
aumentar, é porque o funcionamento da engrenagem de produzir bem-estar precisa
de intervenção. Não podemos avançar mais um passo por esse caminho porque a
imbecilidade predomina sobre a inteligência de perceber que os bens materiais
estão sendo supervalorizados a ponto de superar o apreço à própria vida, o bem
maior. Inté.
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