Os elefantes
se relacionam mais sutilmente com o mundo dos seres humanos do que os seres
humanos se relacionam com o mundo da espiritualidade. As bestas humanas e suas
mesuras, paramentos e templos onde são celebrados rituais ridículos, medievais
e inúteis em muitos dos quais são usados entorpecentes, sangue e cadáveres
humanos ou de animais. Fui convidado a participar de determinado culto
religioso onde se toma um chá alucinógeno para melhor permitir a comunhão com a
espiritualidade. Conversar com estátuas e até se mortificar com chibatas e
mesmo com a total destruição de si próprio faz parte do ritual através do qual
os seres humanos pensam estabelecer relacionamento com o mundo da
espiritualidade, coisa inteiramente impossível de acontecer porque no mundo da
espiritualidade o ambiente é de paz e não de violência. Certa vez Thomas Morus,
autor de A Utopia, tecia elogios a uma pessoa a quem ele admirava por suas
excelentes qualidades morais e intelectuais. De repente, encerrou o que dizia,
afirmando que seus elogios não tinham a capacidade de expressar o valor da
pessoa a quem ele se referia e comparou sua tentativa à de alguém que
procurasse ofuscar com uma candeia a luz do sol. A humildade é própria dos
grandes espíritos. Com que simplicidade aquele grande pensador compara seus
elogios à luz de uma candeia em comparação à luz do sol à qual ele compara a
grandeza das qualidades da pessoa admirada. As palavras do grande pensador caem
como luva do tamanho certo da mão porque servem perfeitamente de aviso para
avisar da inutilidade do resultado das tentativas de entrosamento com o mundo da
espiritualidade por parte dos bárbaros seres humanos, estes, sim, ainda
inferiores à luz da candeia em relação ao esplendor do mundo da
espiritualidade, este, sim, verdadeiramente superior à luminosidade do sol. Não
fossem tão bichos, já teriam percebido os seres humanos que sua comunicação com
o mundo da espiritualidade é tão falha que a resposta às suas solicitações de
paz tem sido a guerra, e a infelicidade no lugar da felicidade tão implorada.
Como a
religião dispensa o raciocínio através do engodo do “mistério não se explica”,
palavras totalmente sem nexo são articuladas ao vento sem necessidade de se
estabelecer conexão alguma com a realidade. Quando alguém diz ter uma dívida é
por ter assumido um compromisso, coisa que não podia ter acontecido sem sua
anuência. Por menos inteligente que seja uma pessoa na vida real, ao tomar conhecimento
de dever algo, quererá saber a origem de tal dívida. Já na fantasia da religiosidade,
graças à desnecessidade de pensar, como papagaios, idiotas vão rolando entre os
dedos várias continhas que lhes dizem que palavras devem ser ditas à medida que
elas (as continhas) vão sendo roladas. Entre estas palavras as mais
pronunciadas são para pedir perdão por dívidas. Mas as pessoas nada veem de
estranho em ter assumido uma dívida sem saber. Além disso, dívida é para ser
paga e não para ser perdoada como fez o Congresso Nacional ao perdoar dois
bilhões de reais devidos pelos Planos de Saúde à sociedade que chora no
corredor do hospital a falta desses dois bi e ainda muito mais.
Sendo a dívida
ato volitivo, como pode alguém dever algo sem saber o quê e nem a quem? Se nem
mesmo se tem participação no processo da existência, como pode alguém chegar
pelado e já devendo alguma coisa? As dívidas fazem parte do mundo real porque o
poeta já disse que temos de pagar prá nascer, pagar prá viver e pagar prá
morrer. Mas isso é cá no mundo dos bichos.
Ao
contrário do que dizem os religiosos, não é pela ausência de Deus que o mundo
vai mal, mas sim pela presença Dele. É Ele que faz com que não se pense sobre o
que se faz, e graças a Ele pobres coitados fazem até sacrifício para enriquecer
Seus representantes malandros que fazem pose na Revista Forbes depois de tomar
até as propriedades de alguns de abestaiados. Mas os religiosos não são despertados
para a necessidade de se defender porque lhes foi anulada a capacidade de
pensar pela recomendação de não haver necessidade de comparar com a realidade
da vida a informação que se recebe. Até acreditam os inocentes que Deus, apesar
da pureza, castigou o primeiro homem por ter conhecido uma verdadezinha de
nada. Embora o corredor molhado de lágrima do hospital mostre o contrário, os
pobres estão absolutamente convictos de serem os preferidos de Deus, e que isto
lhes basta, não havendo portanto motivo para insatisfação. É desta indiferença
ante a realidade da vida que nascem as causas de tanta lágrima. Não se pode
viver fora da realidade quando não se está no cinema, mas é assim o jeito de
viver, e em consequência desta distonia as criancinhas rechonchudas irão sofrer
pela indiferença de seus pais à realidade que os cerca.
Não há
razão para tanta infelicidade na vida de ninguém. Os sofrimentos devem ficar
limitados aos impostos pela natureza em seu cego caminhar. Ninguém deve ser
infeliz por não ter os meios com que atender às exigências do organismo, e
muito menos por ter tomado deles os meios que eles tinham. Se a humanidade está
cada dia pior, é preciso pensar no futuro das crianças porque ninguém as quer
infelizes. Mas, nas perspectivas de futuro que vão ter, há maiores chances de
serem infelizes se a materialidade não der lugar à verdadeira espiritualidade,
aquela que faz com que as pessoas realmente desejam para as outras pessoas o
que desejam para si mesmas, única forma de se viver em paz, mas isto só pode acontecer
quando os briguentos seres humanos aprenderem a viver em harmonia entre si e
entre cada um deles e a natureza. Isto é inteiramente possível de se fazer desde
que seja sentida a necessidade de que seja feito. Mas, para se perceber a
necessidade de cuidar das criancinhas rechonchudas é preciso ativar a
capacidade de pensar em coisas que as “celebridades” e “famosos” não tem
capacidade de compreender porque o alcance de suas mentalidades não chegam à
altura da parte da frente do solado do sapato. Inté.
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