sábado, 19 de abril de 2014

ARENGA NÚMERO VINTE


Os elefantes se relacionam mais sutilmente com o mundo dos seres humanos do que os seres humanos se relacionam com o mundo da espiritualidade. As bestas humanas e suas mesuras, paramentos e templos onde são celebrados rituais ridículos, medievais e inúteis em muitos dos quais são usados entorpecentes, sangue e cadáveres humanos ou de animais. Fui convidado a participar de determinado culto religioso onde se toma um chá alucinógeno para melhor permitir a comunhão com a espiritualidade. Conversar com estátuas e até se mortificar com chibatas e mesmo com a total destruição de si próprio faz parte do ritual através do qual os seres humanos pensam estabelecer relacionamento com o mundo da espiritualidade, coisa inteiramente impossível de acontecer porque no mundo da espiritualidade o ambiente é de paz e não de violência. Certa vez Thomas Morus, autor de A Utopia, tecia elogios a uma pessoa a quem ele admirava por suas excelentes qualidades morais e intelectuais. De repente, encerrou o que dizia, afirmando que seus elogios não tinham a capacidade de expressar o valor da pessoa a quem ele se referia e comparou sua tentativa à de alguém que procurasse ofuscar com uma candeia a luz do sol. A humildade é própria dos grandes espíritos. Com que simplicidade aquele grande pensador compara seus elogios à luz de uma candeia em comparação à luz do sol à qual ele compara a grandeza das qualidades da pessoa admirada. As palavras do grande pensador caem como luva do tamanho certo da mão porque servem perfeitamente de aviso para avisar da inutilidade do resultado das tentativas de entrosamento com o mundo da espiritualidade por parte dos bárbaros seres humanos, estes, sim, ainda inferiores à luz da candeia em relação ao esplendor do mundo da espiritualidade, este, sim, verdadeiramente superior à luminosidade do sol. Não fossem tão bichos, já teriam percebido os seres humanos que sua comunicação com o mundo da espiritualidade é tão falha que a resposta às suas solicitações de paz tem sido a guerra, e a infelicidade no lugar da felicidade tão implorada.

Como a religião dispensa o raciocínio através do engodo do “mistério não se explica”, palavras totalmente sem nexo são articuladas ao vento sem necessidade de se estabelecer conexão alguma com a realidade. Quando alguém diz ter uma dívida é por ter assumido um compromisso, coisa que não podia ter acontecido sem sua anuência. Por menos inteligente que seja uma pessoa na vida real, ao tomar conhecimento de dever algo, quererá saber a origem de tal dívida. Já na fantasia da religiosidade, graças à desnecessidade de pensar, como papagaios, idiotas vão rolando entre os dedos várias continhas que lhes dizem que palavras devem ser ditas à medida que elas (as continhas) vão sendo roladas. Entre estas palavras as mais pronunciadas são para pedir perdão por dívidas. Mas as pessoas nada veem de estranho em ter assumido uma dívida sem saber. Além disso, dívida é para ser paga e não para ser perdoada como fez o Congresso Nacional ao perdoar dois bilhões de reais devidos pelos Planos de Saúde à sociedade que chora no corredor do hospital a falta desses dois bi e ainda muito mais.

Sendo a dívida ato volitivo, como pode alguém dever algo sem saber o quê e nem a quem? Se nem mesmo se tem participação no processo da existência, como pode alguém chegar pelado e já devendo alguma coisa? As dívidas fazem parte do mundo real porque o poeta já disse que temos de pagar prá nascer, pagar prá viver e pagar prá morrer. Mas isso é cá no mundo dos bichos.

Ao contrário do que dizem os religiosos, não é pela ausência de Deus que o mundo vai mal, mas sim pela presença Dele. É Ele que faz com que não se pense sobre o que se faz, e graças a Ele pobres coitados fazem até sacrifício para enriquecer Seus representantes malandros que fazem pose na Revista Forbes depois de tomar até as propriedades de alguns de abestaiados. Mas os religiosos não são despertados para a necessidade de se defender porque lhes foi anulada a capacidade de pensar pela recomendação de não haver necessidade de comparar com a realidade da vida a informação que se recebe. Até acreditam os inocentes que Deus, apesar da pureza, castigou o primeiro homem por ter conhecido uma verdadezinha de nada. Embora o corredor molhado de lágrima do hospital mostre o contrário, os pobres estão absolutamente convictos de serem os preferidos de Deus, e que isto lhes basta, não havendo portanto motivo para insatisfação. É desta indiferença ante a realidade da vida que nascem as causas de tanta lágrima. Não se pode viver fora da realidade quando não se está no cinema, mas é assim o jeito de viver, e em consequência desta distonia as criancinhas rechonchudas irão sofrer pela indiferença de seus pais à realidade que os cerca.

Não há razão para tanta infelicidade na vida de ninguém. Os sofrimentos devem ficar limitados aos impostos pela natureza em seu cego caminhar. Ninguém deve ser infeliz por não ter os meios com que atender às exigências do organismo, e muito menos por ter tomado deles os meios que eles tinham. Se a humanidade está cada dia pior, é preciso pensar no futuro das crianças porque ninguém as quer infelizes. Mas, nas perspectivas de futuro que vão ter, há maiores chances de serem infelizes se a materialidade não der lugar à verdadeira espiritualidade, aquela que faz com que as pessoas realmente desejam para as outras pessoas o que desejam para si mesmas, única forma de se viver em paz, mas isto só pode acontecer quando os briguentos seres humanos aprenderem a viver em harmonia entre si e entre cada um deles e a natureza. Isto é inteiramente possível de se fazer desde que seja sentida a necessidade de que seja feito. Mas, para se perceber a necessidade de cuidar das criancinhas rechonchudas é preciso ativar a capacidade de pensar em coisas que as “celebridades” e “famosos” não tem capacidade de compreender porque o alcance de suas mentalidades não chegam à altura da parte da frente do solado do sapato. Inté.  

 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário