quarta-feira, 5 de março de 2014

ARENGA NÚMERO SEIS


A vida é diferente do jeito que a gente pensa que ela é; que já vem orientada de algum lugar como se fosse a faixa amarela desenhada na estrada para determinar o rumo a ser seguido. É certo que ambiente vivido dos primeiros passos ao surgimento dos primeiros sinais de barba exerce grande influência na formação da personalidade que determina o comportamento, mas esta influência não é determinante. Vai sendo modificada à medida que novos ambientes exerçam novas influências que vão resultar em novos comportamentos. Da falta de novos ambientes e novas experiências resulta a perpetuação das primeiras experiências do tempo do “Mamãe? Posso ir ali?”.

A história dos brasileiros mostra que eles nunca viveram outro ambiente que não o de festas, religiosidade, mau caratismo e desconhecimento de sociabilidade, daí que gritam ao celular, passam à frente de quem espera o elevador, tossem, espirram e soltam pum na sala de espera do consultório.

Tal comportamento não indica desinteligência. Decorre da convivência com a inseparável televisão. A influência vulgar da televisão anula até influência nobre adquirida no tempo do “Posso ir ali?”. É tão poderosa a influência corrosiva da televisão que é impossível não ter uma por perto. A televisão está para as pessoas como Mildred Rogers estava para Philip Carey, no impressionante romance Servidão Humana, de Somerset Maugham.

Da influência televisiva resulta uma juventude tão boba a ponto de se estar cogitando de ser eleita uma bunda como outro símbolo nacional brasileiro. As “celebridades” e as “famosas” cujos traseiros funcionam também como carta de apresentação devem estar discutindo se vai ser criada uma segunda bandeira brasileira ostentando um bundaço, ou se vai ser acrescentada uma bunda na bandeira existente. As coisas que saem do Brasil equivalem às que saem da bunda. Quanto maior a bunda, mais coisa sai de lá. Ambiente intelectualmente arejado para os brasileiros são festas, fazer compras em Miami, mostrar fotos tiradas na Europa e fazer bonito ao falar ingreis.

Mas essa arenga tem a ver com a afirmação inicial de sermos nós mesmos os nossos guias na vida. Vou mostrar com meu próprio exemplo e do fabuloso jornalista MAURO SANTAYANA. Pela sua biografia mostrada na amigona Wikipédia, ele também era de poucas letras como eu. O fato de ter vivido muitos ambientes, e ser dotado de muita inteligência, fez com que ele aprendesse tantas coisas que se tornou um Mestre do Saber.

Entretanto, embora lá embaixo na escala da evolução intelectual daquele grande jornalista, percebi ter aprendido a pensar com os mestres da faculdade, principalmente o filósofo Auto de Castro, de saudosa memória. Ao ler o maravilhoso artigo do não menos maravilhoso jornalista Mauro Santayana, ocorreu-me que há também outra forma de interpretar a frase histórica de Santo Agostinho citada e maravilhosamente interpretada pelo mencionado jornalista Mauro Santayana, em um dos seus brilhantes artigos intitulado A ÉTICA E A RETIDÃO. A frase é a seguinte:A diferença entre os grupos de bandidos organizados e os estados é o exercício da justiça”. A interpretação do mestre jornalista, como se vê no citado e belo artigo, bastando pedir ao amigão Google, é a de que os crimes das autoridades devem-se ao fato de não prevalecer a justiça. Pensando sobre isso, ocorreu-me o pensamento de não ser a falta, mas a interpretação do que seja justiça a causa dos crimes praticados pelas autoridades representadas na frase do Sr Agostino pela palavra “estados” e pelo jornalista a palavra “governantes”.

Sendo as autoridades, ou estados, ou governos, que fazem as leis nas quais se apóia a justiça, não haveriam de fazer leis que dessem origem a uma justiça que os apeasse do bem bom dos palácios e da vida de rei-deus.

Nunca sairá das autoridades uma lei considerando injusto que a humanidade coma o pão cuspido pelo capeta para regalo dos bancos que lucram quinze bilhões num ano.

Esta arenga sobre a capacidade e necessidade de exercitar o pensamento visa convidar a filharada dos donos do mundo a pensar aonde lhes vai levar o comportamento de seus pais. Ela voltará depois de recompostos os sacos. Inté.

 

 

    

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