A vida é diferente do jeito que a gente pensa
que ela é; que já vem orientada de algum lugar como se fosse a faixa amarela
desenhada na estrada para determinar o rumo a ser seguido. É certo que ambiente
vivido dos primeiros passos ao surgimento dos primeiros sinais de barba exerce
grande influência na formação da personalidade que determina o comportamento, mas
esta influência não é determinante. Vai sendo modificada à medida que novos
ambientes exerçam novas influências que vão resultar em novos comportamentos. Da
falta de novos ambientes e novas experiências resulta a perpetuação das
primeiras experiências do tempo do “Mamãe? Posso ir ali?”.
A história dos brasileiros mostra que eles nunca
viveram outro ambiente que não o de festas, religiosidade, mau caratismo e
desconhecimento de sociabilidade, daí que gritam ao celular, passam à frente de
quem espera o elevador, tossem, espirram e soltam pum na sala de espera do
consultório.
Tal comportamento não indica desinteligência. Decorre
da convivência com a inseparável televisão. A influência vulgar da televisão
anula até influência nobre adquirida no tempo do “Posso ir ali?”. É tão
poderosa a influência corrosiva da televisão que é impossível não ter uma por
perto. A televisão está para as pessoas como Mildred Rogers estava para Philip
Carey, no impressionante romance Servidão Humana, de Somerset Maugham.
Da influência televisiva resulta uma juventude
tão boba a ponto de se estar cogitando de ser eleita uma bunda como outro
símbolo nacional brasileiro. As “celebridades” e as “famosas” cujos traseiros
funcionam também como carta de apresentação devem estar discutindo se vai ser criada
uma segunda bandeira brasileira ostentando um bundaço, ou se vai ser
acrescentada uma bunda na bandeira existente. As coisas que saem do Brasil
equivalem às que saem da bunda. Quanto maior a bunda, mais coisa sai de lá. Ambiente
intelectualmente arejado para os brasileiros são festas, fazer compras em
Miami, mostrar fotos tiradas na Europa e fazer bonito ao falar ingreis.
Mas essa arenga tem a ver com a afirmação
inicial de sermos nós mesmos os nossos guias na vida. Vou mostrar com meu
próprio exemplo e do fabuloso jornalista MAURO SANTAYANA. Pela sua biografia
mostrada na amigona Wikipédia, ele também era de poucas letras como eu. O fato
de ter vivido muitos ambientes, e ser dotado de muita inteligência, fez com que
ele aprendesse tantas coisas que se tornou um Mestre do Saber.
Entretanto, embora lá embaixo na escala
da evolução intelectual daquele grande jornalista, percebi ter aprendido a
pensar com os mestres da faculdade, principalmente o filósofo Auto de Castro,
de saudosa memória. Ao ler o maravilhoso artigo do não menos maravilhoso jornalista
Mauro Santayana, ocorreu-me que há também outra forma de interpretar a frase histórica
de Santo Agostinho citada e maravilhosamente interpretada pelo mencionado
jornalista Mauro Santayana, em um dos seus brilhantes artigos intitulado A
ÉTICA E A RETIDÃO. A frase é a seguinte: “A
diferença entre os grupos de bandidos organizados e os estados é o exercício da
justiça”. A interpretação do mestre jornalista, como se vê no citado e belo
artigo, bastando pedir ao amigão Google, é a de que os crimes das autoridades
devem-se ao fato de não prevalecer a justiça. Pensando sobre isso, ocorreu-me o
pensamento de não ser a falta, mas a interpretação do que seja justiça a causa dos
crimes praticados pelas autoridades representadas na frase do Sr Agostino pela
palavra “estados” e pelo jornalista a palavra “governantes”.
Sendo as autoridades, ou estados, ou governos,
que fazem as leis nas quais se apóia a justiça, não haveriam de
fazer leis que dessem origem a uma justiça que os apeasse do bem bom dos
palácios e da vida de rei-deus.
Nunca sairá das autoridades uma lei
considerando injusto que a humanidade coma o pão cuspido pelo capeta para
regalo dos bancos que lucram quinze bilhões num ano.
Esta arenga sobre a capacidade e
necessidade de exercitar o pensamento visa convidar a filharada dos donos do
mundo a pensar aonde lhes vai levar o comportamento de seus pais. Ela voltará
depois de recompostos os sacos. Inté.
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