É burrice sem tamanho querer combater o efeito
de algo que incomoda e deixar intacta a fábrica que produz aquele “algo que
incomoda”, porque ela, a fábrica, também chamada de causa, fabricará ou causará
outros “algos que incomodam” para substituir aquele “algo que incomodava” e que
deixou de incomodar. É algo assim como
uma fábrica de sapatos e as pessoas que compram sapatos. Por mais que sapatos
sejam comprados, nunca falta sapato para ser comprado porque a causa de haver
sapatos são as fábricas de sapatos. Caso os sapatos fossem problema em vez de
solução, o problema sapato não poderia ser resolvido sem acabar com a produção de
sapato nem que se tivesse de demolir as fábricas de sapato.
Com nosso corpo físico acontece a mesma coisa.
Se infecção no dedão produz dor na cabeça, cepar fora o dedão resolve o
incômodo da dor de cabeça. Tomar analgésico não resolve porque o dedão
continuará produzindo a dor que ressurgirá na cabeça quando passar o efeito do
analgésico. Da mesma forma, também acontece no âmbito social. Quando a imensa
maioria do povo brasileiro, constituída de inocentes religiosos, bailarinos de
axé, fanáticos por futebola, alimentadores da jogatina no Cassino Caixa
Econômica Federal, admiradores de BBB, Fazenda, veneradores das “celebridades”
e “famosos” do tipo das que temos nas pessoas de verdadeiros ignorantes e
desprovidos do sentimento de solidariedade humana, pessoas capazes de trocar
dignidade por dinheiro, enquanto prevalecer este ambiente de baixo astral essa
gente continuará incorrendo no equívoco de eliminar o efeito em vez da causa
que produz o medo de violência que lhes atormenta como faz ao pretender paz e segurança
encarcerando a infeliz garotada levada à marginalidade.
Esta garotada é só o efeito. A causa é o
enorme contingente da população vivendo em condições de deplorável
miserabilidade enquanto posudos disputam na Revista Forbes quem tem a maior
montanha de riqueza. Esta é a causa de toda a violência. Enquanto não se mudar
essa forma absurda de sociedade não será possível paz porque os bolsões de
miséria são não apenas uma fábrica, mas uma verdadeira indústria da violência
que perturba o sossego dos inocentes que se acham seguros escondidos debaixo de
suas riquezas imensas, sem tempo para enxergar ao seu lado crianças e mais
crianças em situação tão miserável que invejam a vida levada pelos cachorros e
gatos.
Jeitão
seguro de ter paz e segurança é transformar em cidadãos toda esta criançada e
promover os meios pelos quais possam ter acesso à dignidade de prover suas
necessidades independentemente de esmola.
A capacidade de aprender é inerente aos seres
vivos. Se às crianças é ensinado que pessoas importantes são esses tipos
rasteiros de ignorância monumental, ávidos por dinheiro, a quem a imprensa se
refere como “famosos” e “celebridades”, sociedade desse tipo não pode ser
diferente da nossa sociedade. Entretanto, ensinando às crianças as verdadeiras
qualidades que devem integrar a personalidade de alguém a fim de ser
considerada uma pessoa importante, o resultado dessa aprendizagem será de
homens e mulheres capazes de pensar, raciocinar e chegar à conclusão de estar
tudo errado como realmente está.
Ao ser cultivado um ambiente educado a tendência
é ficar ainda cada vez mais educado. Do mesmo modo, cultivando-se um ambiente
onde qualquer chutador de bola ou requebrador de quadris é mais importante do
que o professor, tal ambiente será sempre próprio para palhaçadas, igrejas e
presídios lotados, além de muito desassossego e choro no corredor do hospital.
Enquanto não houver sentimento de
sociabilidade seremos infelizes. Esse negócio de Revista Forbes de um lado e
favelas do outro lado nunca dará certo. Os descendentes dos ricos inocentes de
hoje perceberão isso a duras penas. Infelizmente. Inté.
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