segunda-feira, 24 de março de 2014

ESQUINA DA VERDADE


Um dia, sem quê nem prá quê, numa esquina da vida, destampei com a realidade também chamada de “A VERDADE”. Fui levado àquela esquina pela observação das coisas que vejo há três quartos de século com estes dois olhos da cara que até hoje ainda são elogiados pelas mulheres que ora os acham verdes, ora azuis. Mas ela, “a verdade”, não é o que as pessoas pensam que ela é. Ao contrário, é coisa bem diferente. Há muito que eu já desconfiava de haver algo estranho nos ensinamentos que ensinam prá gente. Depois de aprender com os Grandes Mestres do Saber haver vantagem em se pensar sobre o que se escuta, desde então analiso as informações que me chegam e nenhuma delas corresponde à realidade. É muito esquisito que as pessoas de um modo geral sentem que há alguma coisa errada em algum lugar, mas não querem saber de que lugar está vindo essa coisa errada prá ir lá e fazer ela parar.

A “verdade” com a qual esbarrei, me explicou tim-tim por tim-tim como é que as coisas são. Disse que tudo aquilo que aprendemos como verdade, é tudo mentira. E ainda disse mais: disse que não pode ser encontrada por quem não analisa as informações que recebe, acatando-as só por estar acostumado a agir desse modo. Fiquei feliz de constatar a coincidência entre meu modo de pensar e o modo de pensar de “a verdade” porque depois que comecei a ler bons livros nunca mais deixei de analisar as informações que me chegam, e que depois de bem pensadas mostram-se incompatíveis com a realidade porque do ponto de vista de quem pensa, a realidade para as pessoas comuns equivale à realidade do surdo vendo os casais dançar. A falta de conexão decorre do fato de que as pessoas estão papagueando em vez de conversando.

 Como papagaio, ouve e fala sem nenhuma vinculação com a realidade. Por exemplo, fala-se que todos devemos fazer orações para provar amor a um Deus do qual só se ouve falar. Jamais visto por ninguém ainda vivo, tudo que se sabe a respeito desse Deus é por ouvir falar e, assim mesmo, em situações esquisitas como conversar escondido dentro de um fogaréu. Fala-se na existência de um imenso contingente de divindades encarregadas de zelar pela paz e felicidade das pessoas, mas o que se vê são guerras e infelicidade. Fala-se ser necessário frequentar igrejas, e ser religioso, mas o que se tem encontrado nas igrejas e na religião é a morte e muito sofrimento. Fala-se em “constitucionalidade”, “respeito à constituição”, mas entre os preceitos constitucionais e a realidade há uma distância espetacular como a afirmação de serem todos iguais perante a lei. Fala-se nas excelências de um tal de regime democrático, mas a realidade não confirma estas falas. Não pode ser ideal um regime que permite chegar aos altos postos de mando não as pessoas intelectualmente munidas dos conhecimentos que lhes capacitem o bom desempenho do ofício. Em vez disso, postos de legisladores são ocupados por pessoas qualificadas para dar socos, coices em bola e provocar risos com palhaçadas. A verdade é que é mentira ser ideal uma situação em que alguém como Eliana Calmon dispute de igual para igual uma vaga no Senado Federal com Romário ou Tiririca, e muito menos ainda de aceitar a realidade de que ela perderia se concorresse com Pelé ou Neymar.

A minha verdade me disse que as pessoas nem percebem quando se deparam com uma verdade que seja realmente verdade como aquela que diz que “a democracia só é o melhor regime político porque não existe outro melhor”. Esta afirmação, quando é lembrada, é em termos de troça. Se, entretanto, fosse pensada e repensada, levaria à conclusão de haver necessidade de algo melhor do que a democracia uma vez que ela só existe porque ainda não se criou algo melhor. Há necessidade urgente de um método menos involuído de escolher as autoridades porque quem o faz é a massa que tem a mente no lugar de requebrar, o que resulta nas escolhas conhecidas.

E não foi só isso que “a verdade” me falou, não. Falou coisa do arco da velha sobre nossa situação de eternos colonos, e ainda muito mais. Inté.      

 

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