Um dia, sem quê nem prá quê, numa esquina da
vida, destampei com a realidade também chamada de “A VERDADE”. Fui levado
àquela esquina pela observação das coisas que vejo há três quartos de século
com estes dois olhos da cara que até hoje ainda são elogiados pelas mulheres
que ora os acham verdes, ora azuis. Mas ela, “a verdade”, não é o que as
pessoas pensam que ela é. Ao contrário, é coisa bem diferente. Há muito que eu
já desconfiava de haver algo estranho nos ensinamentos que ensinam prá gente. Depois
de aprender com os Grandes Mestres do Saber haver vantagem em se pensar sobre o
que se escuta, desde então analiso as informações que me chegam e nenhuma delas
corresponde à realidade. É muito esquisito que as pessoas de um modo geral
sentem que há alguma coisa errada em algum lugar, mas não querem saber de que
lugar está vindo essa coisa errada prá ir lá e fazer ela parar.
A “verdade” com a qual esbarrei, me explicou
tim-tim por tim-tim como é que as coisas são. Disse que tudo aquilo que
aprendemos como verdade, é tudo mentira. E ainda disse mais: disse que não pode
ser encontrada por quem não analisa as informações que recebe, acatando-as só
por estar acostumado a agir desse modo. Fiquei feliz de constatar a
coincidência entre meu modo de pensar e o modo de pensar de “a verdade” porque
depois que comecei a ler bons livros nunca mais deixei de analisar as
informações que me chegam, e que depois de bem pensadas mostram-se incompatíveis
com a realidade porque do ponto de vista de quem pensa, a realidade para as
pessoas comuns equivale à realidade do surdo vendo os casais dançar. A falta de
conexão decorre do fato de que as pessoas estão papagueando em vez de
conversando.
Como
papagaio, ouve e fala sem nenhuma vinculação com a realidade. Por exemplo, fala-se
que todos devemos fazer orações para provar amor a um Deus do qual só se ouve
falar. Jamais visto por ninguém ainda vivo, tudo que se sabe a respeito desse
Deus é por ouvir falar e, assim mesmo, em situações esquisitas como conversar
escondido dentro de um fogaréu. Fala-se na existência de um imenso contingente
de divindades encarregadas de zelar pela paz e felicidade das pessoas, mas o
que se vê são guerras e infelicidade. Fala-se ser necessário frequentar
igrejas, e ser religioso, mas o que se tem encontrado nas igrejas e na religião
é a morte e muito sofrimento. Fala-se em “constitucionalidade”, “respeito à
constituição”, mas entre os preceitos constitucionais e a realidade há uma
distância espetacular como a afirmação de serem todos iguais perante a lei.
Fala-se nas excelências de um tal de regime democrático, mas a realidade não
confirma estas falas. Não pode ser ideal um regime que permite chegar aos altos
postos de mando não as pessoas intelectualmente munidas dos conhecimentos que
lhes capacitem o bom desempenho do ofício. Em vez disso, postos de legisladores
são ocupados por pessoas qualificadas para dar socos, coices em bola e provocar
risos com palhaçadas. A verdade é que é mentira ser ideal uma situação em que alguém
como Eliana Calmon dispute de igual para igual uma vaga no Senado Federal com
Romário ou Tiririca, e muito menos ainda de aceitar a realidade de que ela
perderia se concorresse com Pelé ou Neymar.
A minha verdade me disse que as pessoas nem
percebem quando se deparam com uma verdade que seja realmente verdade como
aquela que diz que “a democracia só é o melhor regime político porque não
existe outro melhor”. Esta afirmação, quando é lembrada, é em termos de troça.
Se, entretanto, fosse pensada e repensada, levaria à conclusão de haver
necessidade de algo melhor do que a democracia uma vez que ela só existe porque
ainda não se criou algo melhor. Há necessidade urgente de um método menos
involuído de escolher as autoridades porque quem o faz é a massa que tem a
mente no lugar de requebrar, o que resulta nas escolhas conhecidas.
E não foi só isso que “a verdade” me falou,
não. Falou coisa do arco da velha sobre nossa situação de eternos colonos, e
ainda muito mais. Inté.
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