Ouvi, e
concordo de cabo a rabo com quem disse que a riqueza tem por vantagem maior a
capacidade de apagar o incêndio que as mulheres tem entre as pernas e que só
pode ser amansado com dinheiro. Mas não concordo que para ser bombeiro deste fogo
bento haja necessidade de tomar tudo que puder abarcar das outras pessoas e levar
para fazer a riqueza que dá direito a pose na revista Forbes para incrementar a
possibilidade de apagar muitos fogos pelaí. Também ouvi e não concordo que o
homem seja incendiário até aos vinte e cinco anos e vira bombeiro depois disso.
Não passa de falsos chavões papagaiados pelos lacaios do sistema perverso que
transforma seres humanos em “material humano”, “consumidor”, “operário”
“empregado” “criança de rua” (onde já se viu?). O cordão que move os papagaios com
microfone até hoje os faz estrebuchar de raiva contra aquela turma por eles denominada
de vândalos e que ameaçou balançar o coreto dos politiqueiros. Como era
composta de jovens, fica por não dito o dito de que só se é rebelde enquanto
menino. Aqueles jovens deram início a um incêndio que amedrontou os ainda não
identificados candidatos à guilhotina reluzente do governador de São Paulo. Apesar
de ainda não identificados, o desconfiômetro de alguns desses malfeitores da politicagem
anda ligado, o que foi percebido com espanto pelo povo de um lugarejo onde
apareceu um sujeito bom falante e bem afeiçoado que se preparava para “dizer
algumas palavras ao simpático povo deste lugar agradável”. Acontece que neste
lugarejo havia um cabra chamado Pegapacapá que foi chamado em voz alta por
alguém. Quando o pretendente ao discurso ouviu alguém gritar Pegapacapá,
disparou em furiosa carreira, deixando seus ouvintes boquiabertos.
Felizmente
para os mesmos de sempre, e infelizmente para o país, os protestos dos jovens
não passaram de fogo de palha porque o apelo do futebola, do axé e das igrejas
é mais forte do que o apelo mudo pela inocência, mas calado no peito dos filhos
por um futuro melhor. Este velho que escreve sem saber é uma prova de ser falso
o papagaiamento dos papagaios de microfone porquanto já viveu vinte e cinco anos
mais de três vezes, e se pudesse tacava fogo na injustiça insuportável de ver o
valor ser substituído pela nulidade através das notícias sobre “famosos” e “celebridades”,
enquanto são completamente ignorados e até perseguidos como o doutor Joaquim
Barbosa, Heloisa Helena e todos aqueles que trazem benefícios à coletividade. É
triste ter alcançado o tempo de predominância da desonra previsto por Rui
Barbosa.
Se a
humanidade sempre se comportou como barata tonta, os tempos atuais superam
qualquer insensatez humana anterior. Entre as historinhas ruins que a Editora
Escala publica em suas revistinhas de piadas há também historinhas
interessantíssimas e inteligentes. Uma delas é a cópia fiel da falta de lógica
que rege nossa sociedade. Gira a historinha em torno de um policial que ajudou
um bebão a descer de um monumento público de onde ameaçava cair. Colocando em
segurança o folgado, o policial lhe perguntou: “quem é o senhor?” ao que o
bebão respondeu: “Ué, o senhor já esqueceu? Era eu que tava lá em cima.” Esta
contradição em dar uma resposta explicando de onde vinha em lugar de explicar de
quem se tratava, apesar de ser realmente uma grande contradição, não é maior do
que a contradição existente entre a realidade da vida e o que as pessoas pensam
ser a realidade da vida. São dois polos opostos: a vida como é vivida e a vida
como deveria ser vivida. Do modo como está, nunca que vai dar certo uma vez que
o Estado não pode ser de brincadeirinha. Estado é coisa séria e nem de longe
deve desmerecer a Lei Maior que o organiza e a que jurou cumprir.
O estado
não tem outra função senão cuidar do seu povo, ocupando, portanto, o espaço de
líder maior da sociedade. Um líder que engana seus liderados está na contramão
da liderança e é por isto que nada nesta sociedade também chamada de manada respeita
o princípio da lógica ou coerência. Quando se fala, por exemplo, em ser um
grande e famoso advogado está-se referindo a alguém que ganha muito dinheiro em
troca das “arrumações” na interpretação dos textos legais como fizeram não só os
ministros do STF ao livrar os Mensaleiros do crime de formação de quadrilha,
mas também o ex-ministro Thomaz Bastos defendendo vergonhosamente um bandidão
para receptar parte do dinheiro roubado da juventude futucadora de telefone. É
uma contradição só admissível em se tratando de manada porque as leis são
feitas para proteger a sociedade. Tanto assim que o assassinato não é apenas
problema familiar como já foi. Depois da invenção do estado, um pouquinho de
sensatez percebeu que cada indivíduo é importante para o conjunto e o estado passou
a punir quem matar algum dos seus membros independentemente da vontade de sua
família. Desse modo, o poder do estado que na realidade depende do povo que
paga a conta não pode custear estudos para um sujeito do narigão para que depois
ele venha a roubar esse povo, prejudicando a sociedade como se não dependesse
dela ao proteger quem a danifica.
Que precisa
mudar, não resta dúvida. Mas como a mudança vem das ruas, qualquer mudança
vinda de lá deve trazer muitas outras espécies de “famosos” e “celebridades”
com novos embalos de axé, novos requebros e as últimas novidades sobre coices
na bola. Inté.
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