segunda-feira, 20 de outubro de 2014

ARENGA SESSENTA E CINCO


Ouvi, e concordo de cabo a rabo com quem disse que a riqueza tem por vantagem maior a capacidade de apagar o incêndio que as mulheres tem entre as pernas e que só pode ser amansado com dinheiro. Mas não concordo que para ser bombeiro deste fogo bento haja necessidade de tomar tudo que puder abarcar das outras pessoas e levar para fazer a riqueza que dá direito a pose na revista Forbes para incrementar a possibilidade de apagar muitos fogos pelaí. Também ouvi e não concordo que o homem seja incendiário até aos vinte e cinco anos e vira bombeiro depois disso. Não passa de falsos chavões papagaiados pelos lacaios do sistema perverso que transforma seres humanos em “material humano”, “consumidor”, “operário” “empregado” “criança de rua” (onde já se viu?). O cordão que move os papagaios com microfone até hoje os faz estrebuchar de raiva contra aquela turma por eles denominada de vândalos e que ameaçou balançar o coreto dos politiqueiros. Como era composta de jovens, fica por não dito o dito de que só se é rebelde enquanto menino. Aqueles jovens deram início a um incêndio que amedrontou os ainda não identificados candidatos à guilhotina reluzente do governador de São Paulo. Apesar de ainda não identificados, o desconfiômetro de alguns desses malfeitores da politicagem anda ligado, o que foi percebido com espanto pelo povo de um lugarejo onde apareceu um sujeito bom falante e bem afeiçoado que se preparava para “dizer algumas palavras ao simpático povo deste lugar agradável”. Acontece que neste lugarejo havia um cabra chamado Pegapacapá que foi chamado em voz alta por alguém. Quando o pretendente ao discurso ouviu alguém gritar Pegapacapá, disparou em furiosa carreira, deixando seus ouvintes boquiabertos.

Felizmente para os mesmos de sempre, e infelizmente para o país, os protestos dos jovens não passaram de fogo de palha porque o apelo do futebola, do axé e das igrejas é mais forte do que o apelo mudo pela inocência, mas calado no peito dos filhos por um futuro melhor. Este velho que escreve sem saber é uma prova de ser falso o papagaiamento dos papagaios de microfone porquanto já viveu vinte e cinco anos mais de três vezes, e se pudesse tacava fogo na injustiça insuportável de ver o valor ser substituído pela nulidade através das notícias sobre “famosos” e “celebridades”, enquanto são completamente ignorados e até perseguidos como o doutor Joaquim Barbosa, Heloisa Helena e todos aqueles que trazem benefícios à coletividade. É triste ter alcançado o tempo de predominância da desonra previsto por Rui Barbosa.

Se a humanidade sempre se comportou como barata tonta, os tempos atuais superam qualquer insensatez humana anterior. Entre as historinhas ruins que a Editora Escala publica em suas revistinhas de piadas há também historinhas interessantíssimas e inteligentes. Uma delas é a cópia fiel da falta de lógica que rege nossa sociedade. Gira a historinha em torno de um policial que ajudou um bebão a descer de um monumento público de onde ameaçava cair. Colocando em segurança o folgado, o policial lhe perguntou: “quem é o senhor?” ao que o bebão respondeu: “Ué, o senhor já esqueceu? Era eu que tava lá em cima.” Esta contradição em dar uma resposta explicando de onde vinha em lugar de explicar de quem se tratava, apesar de ser realmente uma grande contradição, não é maior do que a contradição existente entre a realidade da vida e o que as pessoas pensam ser a realidade da vida. São dois polos opostos: a vida como é vivida e a vida como deveria ser vivida. Do modo como está, nunca que vai dar certo uma vez que o Estado não pode ser de brincadeirinha. Estado é coisa séria e nem de longe deve desmerecer a Lei Maior que o organiza e a que jurou cumprir.

O estado não tem outra função senão cuidar do seu povo, ocupando, portanto, o espaço de líder maior da sociedade. Um líder que engana seus liderados está na contramão da liderança e é por isto que nada nesta sociedade também chamada de manada respeita o princípio da lógica ou coerência. Quando se fala, por exemplo, em ser um grande e famoso advogado está-se referindo a alguém que ganha muito dinheiro em troca das “arrumações” na interpretação dos textos legais como fizeram não só os ministros do STF ao livrar os Mensaleiros do crime de formação de quadrilha, mas também o ex-ministro Thomaz Bastos defendendo vergonhosamente um bandidão para receptar parte do dinheiro roubado da juventude futucadora de telefone. É uma contradição só admissível em se tratando de manada porque as leis são feitas para proteger a sociedade. Tanto assim que o assassinato não é apenas problema familiar como já foi. Depois da invenção do estado, um pouquinho de sensatez percebeu que cada indivíduo é importante para o conjunto e o estado passou a punir quem matar algum dos seus membros independentemente da vontade de sua família. Desse modo, o poder do estado que na realidade depende do povo que paga a conta não pode custear estudos para um sujeito do narigão para que depois ele venha a roubar esse povo, prejudicando a sociedade como se não dependesse dela ao proteger quem a danifica.

Que precisa mudar, não resta dúvida. Mas como a mudança vem das ruas, qualquer mudança vinda de lá deve trazer muitas outras espécies de “famosos” e “celebridades” com novos embalos de axé, novos requebros e as últimas novidades sobre coices na bola. Inté.

 

 

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