segunda-feira, 13 de outubro de 2014

ARENGA SESSENTA E UM


Quem se sente a gosto em determinada posição resiste a mudar para outra posição sem a garantia de ficar ainda mais a gosto. Esta é uma lei da natureza na qual nem os juristas que perseguem o doutor Joaquim Babosa conseguem nela fazer o malabarismo permitido nas leis da sociedade para driblar a condenação de ladrões do erário e receptar parte do roubo. É pela impossibilidade de fraudar a lei da comodidade que nos obriga a procurar conforto sempre que demonstram ingenuidade aqueles que afirmam que os politiqueiros estão errados em não por ordem na sociedade que administram. Embora realmente estejam errados os politiqueiros, ainda muito mais errados estão os que esperam deles mudanças no sentido de corrigir os erros que eles próprios providenciam por ser impossível agir de outra maneira desde que não se pode esperar que pessoas imbuídas da cultura do levar vantagem sempre venham a abrir mão espontaneamente de mordomias que lhes permitem nem sequer saber o que é ter necessidade de nenhuma das coisas pelas quais as pessoas do povo precisam buscar com grande sacrifício, morrendo, muitas vezes, por não conseguir. As reformas que os bobos encaram como uma cura milagrosa para os males sociais a ser levada adiante pelos próprios causadores destes males nunca haverão de curar coisa nenhuma pela obviedade de não largar do osso quem está a roê-lo. A expressão “Quem quer, vai, quem não quer, manda” (embora eu não tenha certeza se precisa tantas vírgulas) esclarece bem esse assunto e contém tanta sabedoria que nem parece. Esta frase mostra não só a causa da falta de solução dos problemas que afligem todos os aflitos do mundo, que é o fato de ficarem eles a esperar que alguém os livre de suas aflições, transferindo para outros a execução da tarefa de cuidar do futuro de seus filhos. Pode esperar sentada a sociedade, que as autoridades não vão transferir para o povo qualquer parcela do bem-bom de sua vida mansa, onde basta dizer que não fez o que fez para realmente não ter feito.

Embora já tenha passado do tempo, ainda não se percebeu que nunca dará certo esse negócio de entregar uma montanha de dinheiro a um ser ainda incivilizado e esperar que ele compre bem-estar para outra pessoa que não ele mesmo. Mas é isso que o povo faz e a montanha de dinheiro é removida para os infernos fiscais por alguma fé muito má.

Fecha justo com a realidade a afirmação de que aquele que em vez de ir lá e fazer o que precisa ser feito manda alguém fazer acaba ficando prejudicado de alguma forma, verdade esta que pode ser percebida até nas coisas corriqueiras como o sujeito que chegou ao guichê e pediu uma passagem para Biçuli, ao que o atendente lhe disse que não havia passagem para Biçuli, e o comprador foi direto a uma pessoa que o aguardava fora da estação e disse: “Óia, Biçuli, o home disse que num tem passage procê, não”. Não se pode negar a sabedoria contida no “quem quer, vai. Quem não quer, manda”. Mas a certeza de caber à própria sociedade tomar a iniciativa de promover a mudança necessária a fim de fazer a vida ficar agradável para que as pessoas não sejam tão barulhentas e infelizes, contradiz com a estupidez humana que leva o povo a fazer mudança para pior. A humanidade já atravessou várias fases no seu roteiro de involução espiritual. Quem não for tão ingênuo a ponto de pensar que sempre fomos do jeito que somos agora, e quiser ter uma ideia de como éramos antes de sabermos como iniciar o fogo, veja o filme “A Guerra do Fogo” e preste atenção no assombro e emoção que sentimos quando percebemos ser possível iniciar um fogo. É realmente impressionante e comovente comtemplar a expressão de espanto e alegria do ser quase humano ao perceber ser possível iniciar um fogo, no que tinham absoluta razão por ser o fogo seu único meio de defesa contra inimigos infinitamente mais fortes. Outra constatação que tiramos do filme é entender que a ignorância da época de bicho era tanta, e não podia ser diferente por se tratar de bichos, apesar de ter diminuído continua em nossa personalidade fazendo com que inexista em nossa espécie o sentimento da solidariedade humana coletiva necessária para reconhecer a grande verdade de sermos iguais na vida real e não apenas na letra fria e falsa da lei.

Não se podem dispensar os administradores, é verdade. Mas também não se pode deixá-los como únicos responsáveis pela chave do cofre pelas razões que levaram o governador de São Paulo a brandir guilhotinas. Enquanto perdurar o instinto sobre a espiritualidade, seria sensato acompanhar o trabalho das autoridades, recusando aceitar uma administração que não proporcionasse tranquilidade necessária para não se ter medo nas ruas, mas é aqui que a porca torce o rabo porque não há ninguém pensando em mudar nada. Embora iniciasse recentemente a juventude uma exigência de mudança, logo achou melhor voltar aos aparelhos de futucar e as coisas ficaram ainda piores com a nomeação dos piores tipos de seres humanos para compor o congresso. Com a juventude que temos, estaremos em pior situação a cada dia. Inté.

 

 

 

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