sexta-feira, 24 de outubro de 2014

ARENGA SESSENTA E OITO


Dizem pelaí que havia um veizim chamado Jeremias que chegava nas altas festas palacianas onde os soberanos reinavam com pompa ainda maior do que os soberanos de hoje. Não tinham necessidade de dar a impressão de estar fazendo tudo certo. Pois, o Jeremias, mesmo estando na época de rei/deus, implicou que estava errado esse negócio de conviver palácio e pobreza, fato que nem era ainda pensado por ninguém, e depois de tomar umas e outras, botou a boca no mundo mostrando ao povo que era a maior bobagem ter de trabalhar para sustentar toda aquela opulência que ele passava então a descrever, parando só quando a segurança que sempre protegeu toda riqueza no mundo e que nunca é de quem chega a dar a vida em sua proteção, esses senhores carregavam o pobre e teimoso Jeremias, verdadeiro Don Quixote de antanho, debaixo de muita porrada, mas ele sempre repetia o discurso e a surra.

Olhando direitinho essa bronca do Jeremias, conclui-se que realmente a existência de suntuosos palácios sustentados por um povo pobre é algo que não pode ser logicamente explicado, embora não faltem teorias e papagaios que as papagaiam em todo tipo de imprensa com mil e uma justificativas para tal desatino. Está completamente fora de esquadro quem encara com naturalidade uma sociedade formada por zero vírgula alguma coisa do total de sua população com direito a todos os benefícios que os avanços tecnológicos conquistaram, enquanto outra parte já bem maior dá graças a Deus por ter um emprego que a ajude a ajudar na formação da riqueza dos zero vírgula alguma coisa, por fim, uma derradeira parte que é a maior de todas, vivendo de tomar dos que tem emprego uma parte do ganho, situação que sempre resulta em refrega e morte quando a parte a ser tomada pelos despossuídos é tomada na marra porque há outra parte tomada pacificamente através das bolsas de todo tipo, entre as quais já se cogitou de incluir uma para o estupro, sugestão que levou meu irmão Bira a observar que ia ter muita mulher dando um jeito para ser estuprada.

O lado da violência provocado pela necessidade de tomar o que precisa deixa dezenas de milhares de mortos todo ano, o que caracteriza uma situação de guerra civil guerreada em meio a festas de requebros, de coices em pobres bolas, e de santidades, e de milagres, e de exorcismos, e de fabricação de santos que tanto podem ser fabricados com minérios quanto feitos com a memória de pessoas mortas e consideradas gente boa, sendo que estes derradeiros passarão a ter também sua figura materializada num pedaço de ferro, argila, plástico ou madeira, para que as pessoas de todo o mundo comprem (e elas realmente compram) e levem para casa aquele objeto para servir de interlocutor entre a satisfação do seu desejo e Deus. O que explicará tal comportamento? Como pode alguém ser tão bobo em tempos de século atual?

Atualmente, aliás, a irracionalidade é maior do que no tempo do velho Jeremias porque as pessoas daquele tempo não sabiam que tinham o direito de retribuição pelo desembolso com as despesas de administrar a sociedade, coisa que atualmente todo mundo sabe, mas é como se não soubesse, carecendo, portanto, de um Jeremias para esclarecer de modo que todos entendessem direitinho aquela história de não comer o fruto que dava conhecimento do bem e do mal, fazendo saber que não tem nada de santidade no meio daquela baboseira. A grande jogada daquilo é fazer com que não se adquira o conhecimento do que seja erário e sua importantíssima finalidade. Tão importante é esta figura, que se bem usado proporciona educação que proporcionará por sua vez comida, água e ar de boa qualidade, paz, irmandade, sendo que tudo isso pode ser resumido na felicidade sempre procurada, mas falta um Jeremias para ensinar onde encontrá-la. Com certeza ele vai dizer que não é nas igrejas porque ela, a felicidade, só pode existir junto com a paz, mas a paz, apesar de ser muito falada na religião, é inexistente na sua história. Só o fato de haver tantas religiões é indicativo de dissidência e desarmonia que não combinam com ambiente pacífico. E por viver contradições é que a sociedade está tão acostumada a ser insignificante que parece andar de costas por temer encarar um futuro honrado, o que só poderá acontecer quando andar de frente e tendo motivo para andar de cabeça erguida em vez de ser tão subserviente quanto subserviente se pode ser ao despencar em grande pose e às enxurradas para fazer compra em Me Ame e falar que vai estar telefonando em vez de falar que vai telefonar.

Está faltando outro Jeremias, um que seja engenheiro e faça um balão de retorno na estrada da vida para que ela tome a posição correta e deixe a contramão, posição errada em qualquer viagem. A notícia noticiada na imprensa de que a prisão de pessoas por má gestão do dinheiro público fez crescer a filiação ao partido ao qual eram filiados os presos demonstra também uma situação inexplicável. Que diabo de raciocínio tem o pai que vai se filiar a um partido por solidariedade a pessoas que malversaram o dinheiro de cuidar do seu filho? E ainda diz muito mais a notícia. Também diz que no Facebook foram divulgadas mensagens de mobilização e apoio aos presos. Não é possível que ninguém veja nada de errado nisso aí, e ainda é pior quem vê e nada faz em defesa do futuro das criancinhas rechonchudas porque a sociedade está andando às avessas e pode a qualquer momento dar num desastre. Parece mentira: Sempre na contramão a nossa sociedade, o Supremo Tribunal Federal, aquele que persegue a figura moralmente inabalável do doutor Joaquim Barbosa, deu um jeito de condenar o delegado Protógenes Queiroz. Pelo que a imprensa divulgou, o doutor Queiroz foi um benfeitor da sociedade por ter desbaratado quadrilha que roubava o erário. Então, como explicar que o juiz prenda e mocinho e solte o bandidão? Não dá prá explicar. Nenão? Inté.

 

 

 

 

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