quarta-feira, 15 de outubro de 2014

ARENGA SESSENTA E TRÊS


É simplesmente maravilhoso pedir ao amigão Google para ouvir músicas e escolher Altemar Dutra e Ângela Maria cantando Gente humilde. Quando Chico Buarque criou a letra de Gente Humilde expôs o lado sentimental de quem tem sensibilidade bastante para pensar também nas outras pessoas, coisa que o Chico tem feito de modo incansável. A história contada na letra de O Meu Guri é sem tirar nem por a realidade maldita que submete os pobres jovens largados à própria sorte e criados como bichos, contra os quais os papagaios com microfone e a troco de salários altíssimos destilam ódio em vez de compreensão.  Em O Funeral De Um Lavrador, Chico se solidariza com quem sofre o que o diabo não quer sofrer para produzir um saco de café que vai render cerca de quatorze mil dólares nos Estados Unidos, mas o produtor é obrigado a vender por apenas quinhentos reais esse mesmo saco de café aqui no Brasil de triste sorte e povo.  Na letra de Gente Humilde, Chico conta a história de alguém que vai passando de trem por um subúrbio e pensando na situação daquela gente pobre e tão ingênua que escreve “Doce Lar” nos casebres. Vivem os poetas num mundo de fantasia onde é possível haver quem encontre beleza e romantismo na pobreza dos barracos e na ingenuidade de seus moradores pobres, o que é mais uma das muitas falsidades em que mergulha a humanidade, coisa que não escapa ao entendimento do grande poeta Chico Buarque. Nenhuma beleza pode haver na pobreza. O Gilberto Gil, apesar de não parecer mais se ligar nestes assuntos, também condenou a pobreza dos barracos em Os Barracos da Cidade.

Enquanto se é jovem e se dispõe de vitalidade para requebrar os quadris nos espetáculos musicais de péssima qualidade, e a ignorância for superior ao conhecimento, até aí a ilusão de que a vida é uma beleza alimenta uma falsa felicidade que acabará quando chegar a idade do condor, a necessidade de remédios e o choro no corredor do hospital. Quem observa como se processa a vida do ser humano tem os mesmos motivos que levaram o Chico a ver com tristeza a ingenuidade daqueles adultos com mentalidade de crianças que ainda não aprenderam o que é viver com dignidade em vez de se conformar apenas com pão e circo. Justifica-se plenamente sentir tristeza ante tal situação porque pessoas tão desprovidas da capacidade de raciocínio nunca serão capazes de formar uma sociedade onde se possa ter o sossego necessário para permitir aproveitar o pouco de bom que a vida tem para nos dar depois de passada a fase de soltar foguetes e de ser tão burro quanto burra pode ser uma juventude capaz de atravessar continentes para adorar em Roma pedacinhos de osso. Tal mentalidade, por si só, é a razão pela qual a sociedade está naufragando. Chegamos a um ponto de degradação tão grande que nem mesmo nossa língua pátria é poupada da canalhice dos canalhas apátridas famintos por dinheiro e em conluio com seus parceiros estrangeiros de canalhices que tem cifrões em vez de pupilas. A invasão de estrangeirismos em nosso vernáculo é outra coisa de entristecer quem gostaria de ver nosso país fazer com que se tivesse orgulho dele em vez de vergonha por se ter nascido por aqui como disse o mesmo Chico na letra de Partido Alto ao lamentar que “na barriga da miséria nasci brasileiro”. Como não se pode falar a verdade porque os ricos não querem, a censura mudou o “brasileiro” da letra de Chico para “batuqueiro”. Aliás, a mudança da palavra não mudou o sentido da coisa porque o batuque faz parte da personalidade do brasileiro ao lado da macaquice e da desonestidade que nos torna conhecidos como o único povo no mundo a roubar a Cruz Vermelha Internacional.

O jornal Folha de São Paulo censura qualquer comentário em suas matérias que contrarie interesses do mundo dos ricos. Entretanto, esse mesmo jornal, numa demonstração de falta de patriotismo, em matéria sobre o Estado Islâmico, emprega descaradamente uma palavra da língua inglesa (mainstream) como se fosse do nosso vernáculo. Sem qualquer alusão de se tratar de palavra alienígena. Não é suficiente entregar as riquezas naturais, mas é preciso entregar também a riqueza cultural como fizeram os subservientes ao substituir o som gostoso do Carimbó pelo “Rock and Roll.” Enquanto isso, a juventude a quem caberia a guarda da soberania da sua cultura pátria nem mesmo lê jornal, e se ler não entenderá jamais o significado danoso de tal prática aparentemente inofensiva.

Não tem outra finalidade a ação nefasta dos papagaios a recomendar os jovens a adorar futebola, axé, aparelhos de futucar, senão torná-los completos idiotas incapazes de perceber o triste destino a que tal procedimento desconexo da realidade os levará. É de botar em pé os cabelos de quem os tem a indiferença da juventude ante os perigos a que está exposta sem saber: O Estado Islâmico, o ebola, as secas, as enchentes, a fumaça, o veneno nos alimentos, na água e no ar, além do barulho. Nada disso é motivo para fazer o jovem idiota tirar o dedo do aparelho de futucar e pensar nos filhos. Ao contrário, escancham as inocentes criaturinhas no pescoço para herdarem a idiotice dos pais ao sentirem empolgação em ver idiotas correndo atrás de uma bola, ou carros dirigidos por outros idiotas a trezentos quilômetros, ou aviões bufando fumaça, ou a cor da fumaça que anuncia a eleição do papa, ou lotar templos onde espertalhões enriquecem. Enfim, há idiotas para todo tipo de idiotice. Só não há quem procure saber se é possível viver em paz e harmonia com as demais pessoas, coisa inteiramente possível, dependendo apenas de se experimentar a vantagem de viver sem guerra, coisa que nem passa pela cabeça de quem pensa com a ponta dos dedos e adora quem pensa com os pés e com a bunda para os requebros.

Se é que é verdade a afirmação de que a mudança vem das ruas, só as criancinhas que estão sendo feitas agora poderão ter alguma esperança de usufruir de uma vida social vivida em outro tipo de sociedade. Nem por isso se deve conformar em vez de lutar. Nenão? Inté.

  

 

   

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