terça-feira, 14 de outubro de 2014

ARENGA SESSENTA E DOIS


São infinitos os meios pelos quais se constata ser a vida vivida às avessas. Um deles é a ojeriza que o jovem sente pelo velho, quando, na realidade, o velho é que tem motivos de sobra para ter ojeriza do jovem pela sua ignorância ingênua decorrente do curto tempo em contato com a vida, razão pela qual o jovem ainda não adquiriu experiência suficiente para se tornar esclarecido sobre tanta coisa que ele nem imaginem existir. O jovem, em relação ao velho, entende a vida tanto quanto entende uma criancinha em relação ao jovem. Do mesmo modo como a inocência da criança tornaria sua companhia enfadonha ao jovem, assim também a presença do jovem enfada o velho. E isto acontece pela impossibilidade de comunicação entre a inocência e a experiência, principalmente quando a inocência se acha superior à experiência, como ocorre quando jovens que não sabem a diferença entre “come e “comer” se acham capazes de contradizer estudos científicos, o que demonstra a facilidade com que pode o jovem ser convencido a seguir esse ou aquele rumo, circunstância esta sobejamente aproveitada pelos papagaios que papagaiam em microfones por ordem de um monstro chamado Mercado, fruto de outro monstro chamado capitalismo, por conta do qual as pessoas se tornam tão más que são incapazes de um lapso sequer de preocupação com alguém que não seja consigo mesmo. É por isso que se torna perigosa a passividade do jovem inexperiente que o faz presa fácil da maldade do mundo. Não fossem tão inocentes, os jovens deveriam conversar com os velhos e prestar atenção no que eles tem a dizer. Este mal amanhado blog, meu Rocinante, mostra sempre aos jovens a burrice que é usar drogas e ser indiferente às coisas que acontecem em sua sociedade, verdade esta que os pobres diabos só irão perceber quando estiverem sofrendo na UTI as consequências de uma vida desinteligente. Se todos, absolutamente todos os jovens vão se arrepender por não terem se comportado como a experiência da velhice vai lhe mostrar como deveria ter sido, desse arrependimento nenhum jovem escapará, embora os mal-estares provenientes de procedimentos errôneos poderiam ser evitados se os jovens prestassem atenção no que acontece à sua volta e trocasse ideias com os velhos sobre suas observações da vida. Por menos que tenha se preocupado em observar a vida, a experiência do velho sempre o faz mais apto a compreender a realidade de que a maldade humana superou a barreira da neutralidade perante o sofrimento alheio e passou a promover este sofrimento.

A inocência do jovem permite aos papagaios que papagaiam nos microfones induzi-los a erro criando em suas mentes desavisadas mil e uma necessidades cujo atendimento visa unicamente atender à ganância dos vendedores de coisas desnecessárias, atitude negativa e prejudicial porque a produção indiscriminada de bugigangas para atender a um consumo desenfreado agride a natureza e dá origem às secas e à falta de água que já leva os paulistas a comerem em pratos limpos com papel higiênico e os cariocas a enfrentarem temperaturas que fritam ovo no asfalto. Os jovens foram transformados em consumidores e material humano e se sentem orgulhosos por fazer compras em Me Ame. Caso um dos jovens convencidos pelos conselhos dos papagaios de microfone a comprar isso e aquilo conversasse com um velho sobre este conselho, ouviria que de tal procedimento resultará a infelicidade dos seus descendentes. Caso ficasse intrigado com o fato de fazer compras ter algo a ver com o futuro do seu filho, o jovem que buscasse a verdade através dos conhecimentos científicos de quem os tem poderia compreender a cadeia que liga estas duas pontas. Certamente este jovem curioso aprenderia também da injustiça verificada na diferença entre a recompensa recebida por quem vende as coisas e a recompensa recebida por aqueles que suam a camisa para produzi-las. Sabendo ser a injustiça promotora de sofrimento e ódio, dois elementos incompatíveis com tranquilidade e bem-estar, não pode ter futuro promissor uma sociedade tão injusta que as crianças só recebem o tratamento que toda criança merece quando seus pais são ricos. As crianças dos pobres merecem menos atenção do que cães e gatos.

Embora o desligamento dos jovens os leve à convicção de que toda a infelicidade do mundo decorre da desobediência aos preceitos divinos, o que é uma grande bobagem porque a única coisa capaz de levar as pessoas ao nível necessário de sociabilidade para se viver bem em grupo é a educação que depende exclusivamente da boa aplicação do erário. Entretanto, como a cultura da fome de dinheiro só ensina como produzir dinheiro, decorre daí que os jovens são influenciados pelos papagaios de microfone a comprar, comprar e comprar sempre. Ainda hoje, na Rádio CBN, um desses papagaios papagaiava sobre uma excelente notícia que seria o incremento do sistema educacional através dos aparelhos de futucar. Na verdade, a única educação de que necessitam as pessoas para se viver sem tanto sofrimento seria uma educação que ensinasse civilidade, cidadania e solidariedade humana. É tão fora de propósito o papagaiamento destes papagaios que este mesmo anunciante da novidade educacional tendente a encher as burras dos fabricantes dos tais aparelhos para serem futucados anunciava outra grande novidade para economizar água com um chuveiro que recicla a água do seu banho, de modo que a água ensaboada e suja do banho faz um círculo e retorna limpa para completar o banho. Só mesmo na mente suja destes papagaios. Inté. 

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