Definitivamente,
nossa situação é mais atrapalhada do que o ambiente da Torre de Babel. Em dois
artigos no Jornal do Brasil, um dos expoentes da nossa cultura jornalística, o
mestre Mauro Santayana, deixa às tontas o raciocínio de quem se dispõe a
pensar. Quando ele afirma ter havido conquistas nos últimos treze anos só
podemos entender tratar-se de conquistas sociais. Sendo cientista social, trabalha
com problemas sociais. A esta conclusão nos leva o raciocínio. Os avanços a que
se refere, portanto, devem ser entendidos como algo positivo em decorrência de
ação governamental, uma vez que em função da brutalidade humana não se pode dispensar
a ameaça do cassetete ostentado por uma autoridade, no caso, o governo. Mas onde
estaria alguma ação positiva tanto dos governos anteriores aos últimos treze
anos como durante esse período no qual o jornalista vê avanços? Só se por
estarmos acostumados a coisas tão ruins as menos piores nos afigurem como boas.
Temos, portanto, o destino do casal inventado por Orwell no livro l984 para
demonstrar a infelicidade proveniente de mau governo, quando, não obstante se
encontrar num quarto quente e infestado de percevejos aquele casal se sentia a
gosto porque do lado de fora a coisa ainda era pior. “Avanço” dá ideia de
mudança para melhor, nós, definitivamente, estamos impedidos de avançar
simplesmente por que nossa rapacidade não permite uma vez que numa sociedade de
ladrões a vida se resume a roubar e ser roubado, o que elimina a possibilidade
de se ter o sossego inerente a uma sociedade que passa pelo processo de
avançar. No prefácio de Os Bruzundangas, Lima Barreto nos lembra que por volta
de 1601, entre nossos avós culturais, os portugueses, foi atribuído ao padre
jesuíta Manoel da Costa a autoria de um livro chamado A Arte De Roubar, sobre a
várias modalidades de roubar e os ladrões. Mais modernamente, Laurentino Gomes
nos mostra que nossos pais culturais nos transmitiram o instinto de rato.
Assim, pois, a roubalheira generalizada em função da qual se encontram em
calamidade a educação, saúde e segurança, elementos base para o avanço de uma
sociedade, causa confusão o fato de uma pessoa como o grande jornalista Mauro
Santayana ver avanço nos últimos treze anos.
Em outro artigo,
o mestre o jornalismo volta a fundir o juízo de quem o lê. Condena a Operação
Lava Jato afirmando que sua ação prejudica o desenvolvimento do país, citando
como exemplo desse prejuízo o fato de ter a Odebrecht demitido mais de 120.000
pessoas no último ano em função da perseguição sofrida, criando, inclusive, com
sua capacidade criativa, a figura de que em nome de consertar o país o que a
Lava Jato faz na realidade é jogar o bebê pela janela junto com a água do
banho. Mas, então, senhor jornalista, cadê a lucidez que o orientou naquele
combate duro contra a corrupção demonstrada no artigo monumental de vossa
senhoria chamado A Crise da Razão Política e a Maldição de Brasília? Para o
senhor tenha razão é preciso que as construtoras não tenham cometido a
improbidade denunciada pelo Ministério Público do mesmo modo como os advogados
de Carlinhos Cachoeira afirmavam que ele nada fizera de recriminável. Disto se
deduz estar errado combater os autores de corrução, o que é de dar um nó no
pensamento de quem pensa.
Nesse mesmo
artigo, o grande jornalista se refere à condenação do cientista brasileiro, um
dos principais responsáveis pelo programa de enriquecimento de urânio, ganhador
da Medalha do Pacificador. Quanto a ser injusta a condenação, não há o que
estranhar por se tratar da mesma justiça que condenou o doutor Protógenes
Queiroz e perseguiu o doutor Fausto de Sanctis. Contudo, causa estranheza o
fato de ser merecedor do título de pacificador quem contribui para a fabricação
das armas nucleares que a qualquer momento destruirão o mundo e as criancinhas que
pais imbecis fabricam despreocupadamente, porque essa história de energia nuclear para fins pacíficos é história para boi dormir. Ou já tô caducando? Inté.
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