sexta-feira, 12 de agosto de 2016

ARENGA 300


Definitivamente, nossa situação é mais atrapalhada do que o ambiente da Torre de Babel. Em dois artigos no Jornal do Brasil, um dos expoentes da nossa cultura jornalística, o mestre Mauro Santayana, deixa às tontas o raciocínio de quem se dispõe a pensar. Quando ele afirma ter havido conquistas nos últimos treze anos só podemos entender tratar-se de conquistas sociais. Sendo cientista social, trabalha com problemas sociais. A esta conclusão nos leva o raciocínio. Os avanços a que se refere, portanto, devem ser entendidos como algo positivo em decorrência de ação governamental, uma vez que em função da brutalidade humana não se pode dispensar a ameaça do cassetete ostentado por uma autoridade, no caso, o governo. Mas onde estaria alguma ação positiva tanto dos governos anteriores aos últimos treze anos como durante esse período no qual o jornalista vê avanços? Só se por estarmos acostumados a coisas tão ruins as menos piores nos afigurem como boas. Temos, portanto, o destino do casal inventado por Orwell no livro l984 para demonstrar a infelicidade proveniente de mau governo, quando, não obstante se encontrar num quarto quente e infestado de percevejos aquele casal se sentia a gosto porque do lado de fora a coisa ainda era pior. “Avanço” dá ideia de mudança para melhor, nós, definitivamente, estamos impedidos de avançar simplesmente por que nossa rapacidade não permite uma vez que numa sociedade de ladrões a vida se resume a roubar e ser roubado, o que elimina a possibilidade de se ter o sossego inerente a uma sociedade que passa pelo processo de avançar. No prefácio de Os Bruzundangas, Lima Barreto nos lembra que por volta de 1601, entre nossos avós culturais, os portugueses, foi atribuído ao padre jesuíta Manoel da Costa a autoria de um livro chamado A Arte De Roubar, sobre a várias modalidades de roubar e os ladrões. Mais modernamente, Laurentino Gomes nos mostra que nossos pais culturais nos transmitiram o instinto de rato. Assim, pois, a roubalheira generalizada em função da qual se encontram em calamidade a educação, saúde e segurança, elementos base para o avanço de uma sociedade, causa confusão o fato de uma pessoa como o grande jornalista Mauro Santayana ver avanço nos últimos treze anos.

Em outro artigo, o mestre o jornalismo volta a fundir o juízo de quem o lê. Condena a Operação Lava Jato afirmando que sua ação prejudica o desenvolvimento do país, citando como exemplo desse prejuízo o fato de ter a Odebrecht demitido mais de 120.000 pessoas no último ano em função da perseguição sofrida, criando, inclusive, com sua capacidade criativa, a figura de que em nome de consertar o país o que a Lava Jato faz na realidade é jogar o bebê pela janela junto com a água do banho. Mas, então, senhor jornalista, cadê a lucidez que o orientou naquele combate duro contra a corrupção demonstrada no artigo monumental de vossa senhoria chamado A Crise da Razão Política e a Maldição de Brasília? Para o senhor tenha razão é preciso que as construtoras não tenham cometido a improbidade denunciada pelo Ministério Público do mesmo modo como os advogados de Carlinhos Cachoeira afirmavam que ele nada fizera de recriminável. Disto se deduz estar errado combater os autores de corrução, o que é de dar um nó no pensamento de quem pensa.

Nesse mesmo artigo, o grande jornalista se refere à condenação do cientista brasileiro, um dos principais responsáveis pelo programa de enriquecimento de urânio, ganhador da Medalha do Pacificador. Quanto a ser injusta a condenação, não há o que estranhar por se tratar da mesma justiça que condenou o doutor Protógenes Queiroz e perseguiu o doutor Fausto de Sanctis. Contudo, causa estranheza o fato de ser merecedor do título de pacificador quem contribui para a fabricação das armas nucleares que a qualquer momento destruirão o mundo e as criancinhas que pais imbecis fabricam despreocupadamente, porque essa história de energia nuclear para fins pacíficos é história para boi dormir. Ou já tô caducando? Inté.

 

 

 

 

 

 

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