domingo, 28 de agosto de 2016

ARENGA 309


A observação da vida pode dar sabedoria até mesmo à espécie de seres viventes mais desinteligente entre todas, a espécie do bicho povo. Há bastante sabedoria na afirmação popular de ser a teoria diferente da prática. Entretanto, como não poderia faltar desinteligência mesmo em observações inteligentes vindas de povo, deixou-se de ressalvar o “às vezes”, porque não é sempre que a teoria falha quando posta em prática. A falha ocorre quando escapa algum detalhe na elaboração da teoria. Um vasilhame calculado para caber quarenta litros falha se usado para medir grãos por não ter levado em conta os espaços vazios entre os grãos. Depois da conclusão da necessidade da vida coletiva, várias teorias foram elaboradas em torno da solução dos inúmeros problemas decorrentes deste tipo de vida, mas todas falharam redondamente pelo simples fato de não levar em conta a estupidez do ser humano decorrente do fato de ainda ser ele orientado mais pelo instinto do que pela racionalidade, como prova a necessidade de matar, roubar e enganar, práticas brutais comum entre os irracionais. Até cuspir no semelhante o ser humano cospe como fazem os bichos peçonhentos que lançam substância paralisante em suas presas. A brutalidade humana não escapa à sensibilidade dos poetas como demonstram estes versos do poeta Wilson Souto:

Oh homem estúpido e cruel,
Que culpa tem o inocente,
Matam em nome do Céu,
De forma tão inclemente.

Os homens são bestiais
Se dizem filhos de Deus
Não consta que os animais
Procedam assim com os seus.

Ao longo da história humana diversas teorias tentaram inutilmente aparar as arestas da brutalidade humana, permitindo uma vida comunitária menos atribulada. Houve quem defendesse um administrador nomeado por Deus que não devia ser contestado sob nenhuma hipótese, posto que indicado por Deus. Não deu certo e a escolha passou a ser feita pelo povo a ser administrado. Defendeu-se até que o administrador precisasse mentir, esconder dos administrados coisas da administração. Em torno desta questão desfilaram pela história humana centenas de teóricos e teorias sobre império, república, poder absoluto, liberalismo, democracia, socialismo, comunismo, o diabo a quatro, visando organizar a sociedade de modo que seus integrantes desfrutassem do conforto da tranquilidade, uma vez que, diferentemente dos irracionais, pode promover os maios necessários para tanto. Mas tudo resultou em nada. Falharam todas as tentativas como se pode ver pela barbaridade da qual resultam sofrimento, mortandade, balbúrdia e desorganização. O povo se recusa a superar a animalidade de bichos e se destroem mutuamente como disse o poeta.

Entre nós, por exemplo, os meios de comunicação embrenham-se numa discussão inútil que lembra o título do livro de Schopenhauer Como Vencer Um Debate Sem Precisar Ter Razão. Aliás, nos comentários sobre esse livro na internete, alguém afirma não se interessar em saber o que é individualismo porque só lhe interessa o que une as pessoas, mas não o que as separa. Não é por falta de inteligência tal opinião porque o desinteligente não se interessa por problemas sociais a ponto de ler e comentar matérias a respeito. Tal opinião é comum ao povo em virtude de lhe ter sido castrada a capacidade de pensar pela religiosidade segunda a qual não há que meditar sobre os mistérios divinos. É acatá-los simplesmente, e tá acabado. Mas isso é de uma estupidez monumental por ser daí que provém o analfabetismo político. Se aquele comentarista se desse ao trabalho de usar daquilo que faz a diferença entre nossa espécie e as demais, a capacidade de pensar, perceberia haver contradição naquela conclusão porque o individualismo pelo qual ele diz não se interessa é o que separa as pessoas, ao contrário do coletivismo ou socialismo que é a única maneira de se viver bem em sociedade, porque as une. É do individualismo que nasce a perversidade de não se poder dispor da comodidade de se ter luz, água, comida, alívio ao sofrimento físico ou psíquico que a natureza impõe, proteção contra a fera que habita cada ser humano, enfim, não se pode ter nada disso sem contribuir para o acúmulo de riqueza de alguém. Parte de cada conta que se paga, em função do individualismo, destina-se à agiotagem internacional dos infernos fiscais, quando, na verdade, como se faria no socialismo, nada se pagaria a mais do que o necessário para se produzir e distribuir os bens necessários. O fracasso na administração pública entre nós levou à existência de trinta e cinco partidos políticos consumindo fartos recursos públicos, cada um com sua teoria de organização social, e o resultado é isto que aí está sendo demonstrado pela Operação Lava Jato.

Não há o que estranhar no fato de nenhuma das modalidades de administração pública até hoje experimentadas ter conseguido realizar a função à qual se destina em função do instinto de rato sugado junto com leite materno aliado ao individualismo antissocial. Esta união satânica leva à roubalheira e nada mais. Não há, portanto, que se acomodar com esta situação e não procurar melhor modo de viver porque todo o mal que aflige a sociedade é de responsabilidade exclusiva de uma administração pública tão canhestra que é tida como a melhor apenas por não haver outra pior ainda do que esta que aí está cuja finalidade é repartir o erário entre bandos de ladravazes.  Que ninguém se engane, embora a juventude pareça eterna, um dia percebe-se ser diferente. O motivo pelo qual os velhos não são brincalhões é o fato de lhes ter chegado a realidade da vida. Portanto, melhor faria a juventude se começasse mais cedo a pensar sobre a orientação que lhe dá os mandatários do mundo porque ao se dispor a pensar fatalmente se chegará à conclusão de estar tudo errado como prova a inexplicável situação de cães e gatos tomarem sorvetes e seres humanos não disprem do básico feijão e arroz. O ministro Gilmar Mendes, dá uma amostra do fracasso de administração pública na seguinte declaração:A inexistência de refeitórios, chuveiros, banheiros, pisos em cimento, rede de saneamento, coleta de lixo é deficiência estrutural básica que assola de forma vergonhosa grande parte da população brasileira, mas o exercício de atividades sob essas condições que refletem padrões deploráveis e abaixo da linha da pobreza não pode ser considerado ilícito penal, sob pena de estarmos criminalizando a nossa própria deficiência”. Aí está, pois, a verdade nua e crua de nos encontrarmos na situação inusitada de sermos obrigados a viver na pobreza extrema apesar da quantidade de dinheiro da sociedade tragado pela fúria individualista.

O blog Outras Palavras, que deveria interessar à juventude se ela não fosse tão burra, dá conta da situação insustentável de estar nos infernos fiscais destinada à agiotagem quase metade PIB mundial de setenta e três trilhões de dólares, o que diz da necessidade de mudar esta situação porque é dela que resulta a violência que assola o mundo. Inté.

 




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