terça-feira, 16 de agosto de 2016

ARENGA 303


Do apego às tradições não escapam nem mesmo seres humanos capazes de nos orientar com sábias observações sobre o processo de viver. Apesar de se encontrarem à frente da mente comum de povo, mostram-se apegados a tradições milenares a serem abandonadas e dar lugar a pensamentos dos quais resultem novos comportamentos. Não se deve continuar a caminhar por caminho apenas por se encontrar nele. Cabe, antes de prosseguir na caminhada, verificar se o caminho leva aonde se pretende chegar. O livro PORQUE SOFREMOS, do filósofo Huberto Rohden, que é brasileiro apesar do nome, entre outros livros, é um exemplo perfeito da realidade de como pessoas espiritualmente superiores se deixam trair por tradições a serem superadas. Ali encontram-se citações de grande sabedoria como o esclarecimento de que o principal não é sofrer, mas é como saber sofrer. Realmente, tal conclusão só não leva grandes benefícios à humanidade em função da incapacidade de pensar e raciocinar sobre o que se ouve. Mentalidades capazes da euforia verificada nos espetáculos grotescos em que um ser humano acerta um soco na mandíbula de outro ser humano e lhe tira a consciência ainda se encontram a anos luz do esclarecimento de sociabilidade necessário para que alguém possa deixar a fase bruta de povo e se elevar espiritualmente. Aqueles com capacidade de absorver o sentido da observação a que chegou o filósofo muito se beneficiarão com o aprendizado porque sendo inevitável o sofrimento, há sabedoria em se adaptar a ele em vez de repudiá-lo com o estardalhaço comum nas pessoas ainda incompletas na formação mental ao se encontrarem em situação difícil. O absurdo do descontrole emocional aparece de forma mais visível na loucura do suicídio por paixão. Aqueles que não chegam a tal exagero, dia chegará em que até brincarão ao perceberem o absurdo que é colocar sua paz espiritual na dependência de alguém que nada tem a ver com ela uma vez que também tem sua paz espiritual para cuidar. Também longe da realidade se encontram aqueles que se deixam dominar por um mal-estar altamente prejudicial ante a morte de um ente querido por ser grande contrassenso opor-se à marcha inexorável e sem rumo da natureza. Além de tudo, sofrimentos provenientes das nossas próprias ações são em número infinitamente maior do que os provenientes de quaisquer outras causas, razão pela qual o filósofo nos ensina que o remédio para os sofrimentos deve começar antes deles. Algo assim como a vacina contra determinada doença que deve ser aplicada quando se está em plena saúde. Nesse sentido de uma preparação prévia, cita o filósofo a seguinte frase de Napoleão Bonaparte, em resposta à pergunta a respeito da idade apropriada para se começar a educar uma criança, ao que o general teria respondido: “Pelo menos vintes anos antes de nascer”. Aliás, aqui também nos deparamos com a contradição entre a sabedoria e o comportamento de pouca sabedoria comprovando o poder dominador da cultura de cada época. Não obstante a genialidade comprovada historicamente de tantos generalíssimos, dedicaram-se eles à brutalidade das guerras, comportamento nada inteligente e cuja necessidade, assim como a religiosidade, decresce à medida que também decresce a força da cultura que impulsiona umas e outra.

No que se refere à contradição observada no livro Porque Sofremos, a afirmação de que o sofrimento é uma reação das leis cósmicas contra o pecador, ou aquele que desarmonizou estas leis vai de encontro à tranquilidade dos sábios registros ali constantes por ser uma informação que deixa dúvida quanto ao seu alcance. “Pecado” remete à religiosidade que, como as guerras, nada mais são do que fases culturais ultrapassadas como mostra o constante desgaste e enfraquecimento de ambas. Da mesma forma, também fica dúvida quanto a provir o sofrimento da desarmonia das leis cósmicas ante a realidade do sofrimento dos animais predados nas garras dos predadores, o que é uma imposição das leis que regem o universo, as leis cósmicas. Inté.

  

 

  

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