Do apego às
tradições não escapam nem mesmo seres humanos capazes de nos orientar com
sábias observações sobre o processo de viver. Apesar de se encontrarem à frente
da mente comum de povo, mostram-se apegados a tradições milenares a serem
abandonadas e dar lugar a pensamentos dos quais resultem novos comportamentos.
Não se deve continuar a caminhar por caminho apenas por se encontrar nele.
Cabe, antes de prosseguir na caminhada, verificar se o caminho leva aonde se
pretende chegar. O livro PORQUE SOFREMOS, do filósofo Huberto Rohden, que é
brasileiro apesar do nome, entre outros livros, é um exemplo perfeito da
realidade de como pessoas espiritualmente superiores se deixam trair por
tradições a serem superadas. Ali encontram-se citações de grande sabedoria como
o esclarecimento de que o principal não é sofrer, mas é como saber sofrer.
Realmente, tal conclusão só não leva grandes benefícios à humanidade em função
da incapacidade de pensar e raciocinar sobre o que se ouve. Mentalidades
capazes da euforia verificada nos espetáculos grotescos em que um ser humano acerta
um soco na mandíbula de outro ser humano e lhe tira a consciência ainda se
encontram a anos luz do esclarecimento de sociabilidade necessário para que
alguém possa deixar a fase bruta de povo e se elevar espiritualmente. Aqueles
com capacidade de absorver o sentido da observação a que chegou o filósofo
muito se beneficiarão com o aprendizado porque sendo inevitável o sofrimento,
há sabedoria em se adaptar a ele em vez de repudiá-lo com o estardalhaço comum
nas pessoas ainda incompletas na formação mental ao se encontrarem em situação
difícil. O absurdo do descontrole emocional aparece de forma mais visível na
loucura do suicídio por paixão. Aqueles que não chegam a tal exagero, dia
chegará em que até brincarão ao perceberem o absurdo que é colocar sua paz
espiritual na dependência de alguém que nada tem a ver com ela uma vez que
também tem sua paz espiritual para cuidar. Também longe da realidade se
encontram aqueles que se deixam dominar por um mal-estar altamente prejudicial
ante a morte de um ente querido por ser grande contrassenso opor-se à marcha
inexorável e sem rumo da natureza. Além de tudo, sofrimentos provenientes das
nossas próprias ações são em número infinitamente maior do que os provenientes
de quaisquer outras causas, razão pela qual o filósofo nos ensina que o remédio
para os sofrimentos deve começar antes deles. Algo assim como a vacina contra
determinada doença que deve ser aplicada quando se está em plena saúde. Nesse
sentido de uma preparação prévia, cita o filósofo a seguinte frase de Napoleão
Bonaparte, em resposta à pergunta a respeito da idade apropriada para se
começar a educar uma criança, ao que o general teria respondido: “Pelo
menos vintes anos antes de nascer”. Aliás, aqui também nos deparamos com a contradição entre a
sabedoria e o comportamento de pouca sabedoria comprovando o poder dominador da
cultura de cada época. Não obstante a genialidade comprovada historicamente de
tantos generalíssimos, dedicaram-se eles à brutalidade das guerras,
comportamento nada inteligente e cuja necessidade, assim como a religiosidade,
decresce à medida que também decresce a força da cultura que impulsiona umas e
outra.
No que se refere à contradição observada no
livro Porque Sofremos, a afirmação de que o sofrimento é uma reação das leis
cósmicas contra o pecador, ou aquele que desarmonizou estas leis vai de
encontro à tranquilidade dos sábios registros ali constantes por ser uma informação
que deixa dúvida quanto ao seu alcance. “Pecado” remete à religiosidade que,
como as guerras, nada mais são do que fases culturais ultrapassadas como mostra
o constante desgaste e enfraquecimento de ambas. Da mesma forma, também fica
dúvida quanto a provir o sofrimento da desarmonia das leis cósmicas ante a
realidade do sofrimento dos animais predados nas garras dos predadores, o que é
uma imposição das leis que regem o universo, as leis cósmicas. Inté.
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