quarta-feira, 6 de março de 2019

ARENGA 545


O Tolo vê o sábio como um Tolo no que diz respeito à criação do universo. Independentemente de especulações filosóficas a respeito desta afirmação, para o tolo responsável por estas mal traçadas não passam de tolos todos os sábios que enchem páginas e mais páginas, principalmente de “best-sellers” sobre os problemas sociais dos quais decorre o mal-estar que aflige os seres humanos sem exceção nenhuma. Os que se imaginam exceções por se acreditarem superiores o fazem em virtude da ignorância tanto do passado histórico quanto dos acontecimentos presentes de saques por meio dos quais fizeram e mantêm riqueza apenas material. Espiritualmente, porém, continuam tão brutos quanto aqueles de quem se julgam superiores. Fenômenos tão ridículos quanto João de Deus e o beijo do Papa no pé do sofredor atraem também as pessoas do mundo que se acha civilizado, não obstante a realidade de demonstrarem tais fenômenos o mesmo primitivismo espiritual do tempo em que se orava para o espírito do rio furioso que precisava ser atravessado. A curiosidade demonstrada pelas crianças e que acompanha o ser humano para sempre exige explicações para tudo. Como a falta de conhecimento não permite as explicações desejadas, inventam-se explicações. Mas os sábios ainda não perceberam que o atraso mental seja a fonte de onde emanam todos os problemas. Este atraso impossibilita perceber faltar na composição da sociedade humana o ingrediente essencial que é a CONVIVÊNCIA. A falta da percepção da necessidade de convivência pode ser notada desde os quitais das casas humildes nos quais um festival de latidos de cães demonstra que os moradores destas casas são indiferentes não só ao barulho dos seus cães, mas também das motos e carros de propaganda que estrondam em suas ruas. A ausência do elemento convivência torna essa gente infensa ao barulho indiferente também à possibilidade de haver pessoas que meditam e que precisam de silêncio. Este comportamento significa proximidade com as bestas que atendem às suas necessidades bestiais indiferentemente às pessoas ao lado.

Entretanto, tal bestialidade não é privilégio das casas humildes habitadas pelo elemento reles de povo cujo laborar junto com a ação nefasta do pão e circo que torna toupeiras mentais em “famosos” e “celebridades” não permite meditar sobre a vida. Nem só a ralé humana, mas também expoentes da cultura se mostram alheios à necessidade do elemento CONVIVÊNCIA. O escritor Michael J. Sandel nos dá excelente demonstração desta realidade no capítulo terceiro do livro Justiça – O Que é Fazer a Coisa Certa –, onde estão registradas opiniões de pessoas como Friedrick A. Hayek, Milton Friedman e Robert Nozic, todos defendendo a indefensável teoria de não ser antissocial a riqueza individual exorbitante. Analisada do ponto de vista da indispensável CONVIVÊNCIA, o argumento daqueles expoentes do saber se mostram capciosos. Afinal, Schopenhauer mostrou que para vencer um debate não é preciso ter razão. A ninguém em sã consciência pode ser dado o direito de desconhecer que a retenção por uma só pessoas dos recursos materiais necessários ao atendimento das necessidades de milhões de pessoas seja motivo impediente de sucesso do objetivo de proporcionar bem-estar social, razão de ser da sociedade humana.

A tendência natural tem de ser necessariamente afastar o obstáculo que impede à sociedade humana alcançar seu objetivo porque, afinal, é para isto que ela foi instituída. Esta tendência levará os necessitados à percepção de ser conversa fiada a crença de uma vida feliz ao lado de deus depois de morto e sepultado, não obstante a infantilidade que faz velhos de notório saber jurídico acreditarem em milagres. Os seres humanos são tão emocionalmente vulneráveis que podem ser convencidos de qualquer coisa por mais absurda que seja. Michael Jackson demonstra esta realidade com total perfeição ao levar multidões ao êxtase e lágrimas de emocionada satisfação espiritual pelo gesto de lhes apontar o saco, normalmente obsceno fora daquele ambiente espetacular. É a esta facilidade de se deixar levar que se deve a conformação em contemplar e até admirar as imensas fortunas privadas para puro deleite de ignorantes de sociabilidade indiferentes ao elemento CONVIVÊNCIA. Inté.  



           

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