Entre os acontecimentos que encerram um período histórico a dão início
a outro está o episódio do João de Deus. Ele tirou a máscara que encobria a
farsa do milagre de forma tão perfeita que a palavra “milagre” deve ser
substituída por pela palavra “inexplicável”. Milagre é nada mais nem menos que acontecimento
de explicação ainda desconhecida. Em casa de uma família muito rica de São
Paulo (ambiente preferido dos embusteiros), minha irmã viu Thomas Green Morton
espremer a mão sem nada dentro e pingar gotas de cheiro agradabilíssimo,
semelhante à essência pura de uma rosa das mais perfumadas. Milagre? De jeito
nenhum. Um Mister M mostraria não passar tudo de mera ilusão. Mas como a
explicação é desconhecida, torna-se mistério para quem é gente e milagre para
quem é povo que escreve “presente de deus” no carrinho peba, se emociona quando
a bola toca a rede e quando o Papa limpa o chulé de algum pé para beijá-lo
depois.
Embora nunca tenha havido milagre nenhum, a inocência das pessoas as deixa
vulneráreis ao assédio de malandros de todos os tipos. O comportamento de comprar
carro e não receber, enriquecer pilantras pagando dízimo, fomentar a indústria
do turismo em Lourdes, Juazeiro e Aparecida justifica o “neste mundo tem bobo
prá tudo”. E realmente tem. Está aí na imprensa o resultado de pesquisa
colocando Fernanda Montenegro e Ivete Sangalo como as duas mulheres em primeiro
e segundo lugares na preferência do bicho povo. Com perdão da Fernanda, em
termos de contribuição para a evolução mental de uma política correta cuja
falta dá origem à tormenta da massa bruta de povo, as duas mulheres vivas mais
importantes entre nós são Heloisa Helena e Eliana Calmon, trocadas pelo
analfabetismo político pelos mesmos promotores de escândalos de sempre. Tem
bobo até para questionar a veracidade da teoria da evolução afirmando que se fosse
verdade que macaco virasse homem ele estaria até hoje virando homem, o que não
mais acontece. Vai ser burro assim no inferno, pô. Ouvir tamanho disparate
corresponde a um chute no saco da mentalidade. Tenham paciência, ó babacas. A evolução
do primata ao homem de hoje demandou bilhões de anos. BILHÕES. É possível
imaginar o que sejam bilhões de anos? Se não, como é que pode alguém ver um
macaco se tornando homem? Tamanha é a inocência humana que quase a totalidade
dos seres humanos são religiosos e pensam ter sido o universo surgido por ordem
do deus deles apenas seis mil anos atrás.
Mas o foco desta “prosa” é a importância da figura do João de Deus
desmascarando a mentira do milagre. Ele representa o derradeiro espetáculo
mundial de demonstração da INOCÊNCIA, única responsável pela crendice. A
religiosidade se sustenta na desnecessidade de pensar, sob a alegação de que os
“mistérios de deus” não são para serem discutidos, mas simplesmente acatados
sem mais nem menos. Esta armadilha é defendida a ferro e fogo pela pilantragem
dos representantes de deus porque no momento em que alguém se dispuser como eu
fiz a procurar conhecer a verdade sobre as religiões descobrirá inevitavelmente
não passar de uma grandiosíssima sacanagem cujo objetivo, ao lado da política,
é atochar o ferro no rabo da massa bruta de povo. Pensar leva à conclusões
assim, por exemplo: Se esse tal de deus é um ser de inimaginável sabedoria e pureza
espiritual não é admissível que atribuísse a um criminoso como João de Deus poderes
e posição de milagreiro, facilitando-lhe o trabalho de cometer crimes. Seria o
mesmo que a polícia fornecesse o revólver ao assaltante para fazer assaltos em
vez de tirá-lo do meio social. As únicas vezes em que deus agiu por conta
própria, teria sido quando falou a Abrão antes de transformá-lo em Abraão (Gênesis
17:5), com Moisés (Êxodo 3:1; 4:1 e 7:1), quando deus teria aparecido em forma
de labaredas que ardiam sem consumir o material inflamado, quando do batizado
de Cristo, ocasião em que deus apareceu na forma de uma pomba que esvoaçava em
devorteios trovejando lá do alto ESTE É MEU FILHO e quando ressuscitou Lázaro.
Todos as demais ações de deus foram executadas por um intermediário humano.
Portanto, não seria verdade que o espírito puríssimo de deus onisciente iria
facilitar as coisas para que o estuprador João de Deus pudesse satisfazer sua
libido bestial estuprando rebotalhos mentais a procura de milagre, a não ser
que para deus estuprar e enriquecer às custas da malta ignorante de frequentadora
de igreja, futebola e axé seja uma pratica isenta de condenação, o que é
provável porquanto tem sido comum que seus representantes barbarizem crianças
para também dar vasão a instintos bestiais e também encherem as burras de
riqueza. O poder do deus todo poderoso da malta ignorante é de um ridículo tão
grande que embora desejando o bem, predomina o mal.
Como para tudo há explicação, a ignorância que dá origem à crendice
está na lentidão com que se processa a evolução mental, infinitamente atrasada
em relação à evolução física. É daí que vem a estupidez humana mencionada pelo
historiados Henry Thomas. Se a evolução física que é mais rápida demorou
bilhões de anos para que o corpo do homem chegasse à fase atual, é provável que
a evolução mental precise de mais alguns bilhões de anos antes de vir a
humanidade a desenvolver-se mentalmente, civilizar-se e deixar de se preocupar
com as coisas sem explicação e dedicar sua atenção para as coisas das quais
depende seu bem-estar. Mas para que isto aconteça é preciso perceber que parte
do atraso do desenvolvimento mental é propositadamente arquitetado por espertalhões
fantasiados de líderes que através do instituto milenar do pão e circo mantêm a
mente humana envolvida em futilidades. Um dos jornais mais importantes do país,
a Folha de São Paulo tem uma coluna sobre putaria denominada O X do Sexo cuja
última sugestão é para que as mulheres enfeitem suas xoxotas com joias.
Uma vez envolvida a mente com vulgaridades, fica impossibilitada de
elevar-se a assuntos relevantes. É por isto que pelo fato de promoverem
brincadeiras e espetáculos chulos, principalmente relacionados com sexo, toupeiras
mentais adquirem fama e riqueza inimaginável por pessoas que prestam relevantes
serviços à sociedade, como, por exemplo, os professores. Embora indiscutível
tal insensatez, é a realidade vivenciada e cuja explicação não é outra senão a
dificuldade encontrada pela evolução mental cuja falta condiciona os seres
humanos à condição de massa que legitima ladrões como autoridades. Tão chula é
ainda a mentalidade popular no mundo inteiro que não se cogita da atividade de meditar
sobre a realidade de que a vida merece certos cuidados e preparos sem os quais
é inevitável sofrer ao ser surpreendido pela inevitável velhice, prenúncio da
morte, como se esta fosse alguma novidade em vez de benvinda por trazer a única
e verdadeira paz que é o destino de tudo que é vivo, paz que poderia ser desfrutada
ainda em vida, não fosse a estupidez humana ainda dominante. Inté.
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