sexta-feira, 2 de outubro de 2015

ARENGA 165




As pessoas têm necessidades reais ou primárias como também as tem todos os outros seres vivos de qualquer espécie, o que iguala uns e outros, provando ser falsa a ideia de criação do homem como perfeita por ser obra prima e preferida do Deus criador. A natureza que tudo criou não faz distinção entre suas criaturas. A hiena e o mais refinado ser humano em nada diferem no que diz respeito a estas necessidades. Por mais requintadas que sejam as mansões, não podem abrir mão das latrinas, como lembrou o personagem de Jorge Amado no livro Subterrâneos da Liberdade. A impossibilidade de se atendar a estas necessidades produz inquietação física e mental capaz de impedir a concentração, impossibilitando o bem-estar que os frequentadores de igreja, axé e futebola denominam de felicidade. Ao lado das necessidades primárias também existem as necessidades suntuárias provenientes do instinto de pavão cultivado pela mediocridade espiritual dos seres humanos ainda apegados aos tempos em que os selvagens espichavam os beiços como se espicha couro e espetavam ossos neles, nas orelhas e nariz, do mesmo modo como fazem ainda hoje os jovens imbecis, procedimento que se torna mais ridículo em senhores grisalhos.  Sabendo-se que a impossibilidade de se satisfazer as necessidades primárias resulta na impossibilidade de desenvolveram as atividades espirituais, e sendo necessário dinheiro para satisfazer as necessidades primárias, seria obrigatório que todos tivessem dinheiro. Mas não é o que acontece. As pessoas responsáveis pela administração das sociedades estão certas de haver quem não tenha necessidades a serem atendidas. Que há quem não sinta fome, frio, sede, doença, falta de tranquilidade e lazer, não necessitando, portanto, do dinheiro com o qual se obtém estas coisas. Estão redonda e perigosamente erradas. Quem tem sede, frio e fome vai buscar água, agasalho e comida onde quer que eles estejam. A busca de comodidade foi o elemento que impulsionou o ser humano ao movimento e não vai deixar de fazê-lo nunca. Como são muitos os necessitados, arma-se a confusão que aí está. Papagaios de microfone e escritores e filósofos assalariados procuram a todo custo, a mando dos ricos donos do mundo, fazer crer que as coisas de que se necessitam são conseguidas através do “Deus proverá”, mas não se pode encontrar a paz e a tranquilidade quando se tem fome, sede ou frio e a comida que as igrejas servem é hóstia, bebida lá é vinho que só os padres bebem e o cobertor é a promessa da proteção divina que não aparece nunca.
A origem dos sofrimentos humanos está na impossibilidade de todos irem aos empórios buscar as coisas das quais depende seu bem-estar. Enquanto as massas excluídas estiverem indiferentes às causas das quais resulta sua exclusão e permanecerem conformadas com a falta de bem-estar proveniente da forma como é administrada a riqueza pública, enquanto for assim, a humanidade será cada vez mais infeliz. Portanto há de se repetir à exaustão a necessidade de haver por parte dos governados sobre o que fazem os governantes interesse maior do que o interesse dos próprios governantes porque só o dinheiro que se entrega a eles para administrar pode proporcionar o bem-estar social indispensável à paz e tranquilidade de que o ser humano não pode nem deve abrir mão. Inté.
 

 
 



    

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