quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ARENGA 179




A afirmação do filósofo Bertold Brecht de que as pessoas indiferentes à política são os responsáveis pelos desmandos sociais, e mais a afirmação de Rui Barbosa de que todos os males do mundo têm a ignorância como causa, estas duas afirmações se transformam em realidade cristalina materializada na situação social de miserabilidade em que chafurda esse povinho de merda no qual, infelizmente, a natureza me colocou. Por vezes chego a ser levado a ser indiferente ao sofrimento daquele amontoado de chorões que a televisão mostra nos corredores dos hospitais porque sei perfeitamente que aquela situação é causada pelos próprios sofredores com sua estúpida incapacidade de perceber não haver motivo para nada daquilo. A indignação assume ares de ódio quando vejo estúpidos pais levando seus filhos para as igrejas onde aprenderão a se tornarem também futuros chorões infelizes. Os monstros espirituais que ensinam monstruosidade espiritual a seus filhos estão convencidos erradamente de que o bem-estar deles estará garantido pela posse de bens materiais, no que incorrem no erro monumental de ensinar a seus filhos nada mais do que dinheiro e lamber as botas de Deus. Vinha eu remoendo estas tristezas quando parou em minha frente um espécime de povo esfregando euforicamente as mãos e exclamando com entusiasmo: “Hein, Zé, e o Corinthians hoje Zé, digaí Zé?

 Nesta cena espiritualmente macabra está a confirmação daquilo que disseram o filósofo Bertold Brecht e o jurista Rui Barbosa. Trata-se de uma só opinião escrita com palavras diferentes porque a ignorância citada por Rui Barbosa como fonte de todos os males é a mesma ignorância da qual resulta o analfabetismo político citado por Brecht. Já ouvi alguém dizer que o político não rouba nada dele, razão pela qual não vê o porquê de se preocupar com roubo na política. Quanta verdade há nas palavras daqueles sábios! O comportamento daquele infeliz pai de família eufórico com a perspectiva de um jogo de futebola manipulado pela corrupção dos esportes será repassado para seus filhos, os filhos dos seus filhos, aprendizado que levará à choradeira nos corredores dos hospitais. É apavorante a realidade de ser esta irrealidade fomentada pelas próprias autoridades a fim de manter o povo incapaz de se elevar mentalmente que é para ter o comportamento do burro de carroça que se sente recompensado com uma moita de capim à noitinha quando lhe são retirados os arreios do lombo.

Do que aprendem as crianças resulta a incapacidade mental. Ao saber que eu chegara dirigindo de Brasília, um profissional liberal, portanto pessoa estudada, me disse que Deus foi generoso comigo ao me permitir estar tão vigoroso aos setenta e nove anos de idade. Que motivo teria Deus para cuidar deste velho ateu e abandonar crianças para morrerem em águas geladas ou enjauladas em cárceres imundos por terem sido abandonadas pela sociedade que lhes dispensa tratamento inferior ao dispensado às feras nos zoológicos? O mudo, na verdade, está de cabeça prá baixo, mas alguns Arquimedes já despontam por aí à procura de um ponto de apoio a partir do qual movê-lo para a posição certa. Os doutores Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Heloisa Helena e Eliana Calmon são alguns destes Arquimedes. Dê-lhes um ponto de apoio e uma alavanca que tudo entrará nos eixos bonitinho. Inté.

 
 
 


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