A afirmação
do filósofo Bertold Brecht de que as pessoas indiferentes à política são os
responsáveis pelos desmandos sociais, e mais a afirmação de Rui Barbosa de que
todos os males do mundo têm a ignorância como causa, estas duas afirmações se transformam
em realidade cristalina materializada na situação social de miserabilidade em
que chafurda esse povinho de merda no qual, infelizmente, a natureza me
colocou. Por vezes chego a ser levado a ser indiferente ao sofrimento daquele
amontoado de chorões que a televisão mostra nos corredores dos hospitais porque
sei perfeitamente que aquela situação é causada pelos próprios sofredores com
sua estúpida incapacidade de perceber não haver motivo para nada daquilo. A
indignação assume ares de ódio quando vejo estúpidos pais levando seus filhos
para as igrejas onde aprenderão a se tornarem também futuros chorões infelizes.
Os monstros espirituais que ensinam monstruosidade espiritual a seus filhos
estão convencidos erradamente de que o bem-estar deles estará garantido pela
posse de bens materiais, no que incorrem no erro monumental de ensinar a seus
filhos nada mais do que dinheiro e lamber as botas de Deus. Vinha eu remoendo
estas tristezas quando parou em minha frente um espécime de povo esfregando
euforicamente as mãos e exclamando com entusiasmo: “Hein, Zé, e o Corinthians
hoje Zé, digaí Zé?
Nesta cena espiritualmente macabra está a
confirmação daquilo que disseram o filósofo Bertold Brecht e o jurista Rui
Barbosa. Trata-se de uma só opinião escrita com palavras diferentes porque a
ignorância citada por Rui Barbosa como fonte de todos os males é a mesma
ignorância da qual resulta o analfabetismo político citado por Brecht. Já ouvi
alguém dizer que o político não rouba nada dele, razão pela qual não vê o porquê
de se preocupar com roubo na política. Quanta verdade há nas palavras daqueles
sábios! O comportamento daquele infeliz pai de família eufórico com a
perspectiva de um jogo de futebola manipulado pela corrupção dos esportes será
repassado para seus filhos, os filhos dos seus filhos, aprendizado que levará à
choradeira nos corredores dos hospitais. É apavorante a realidade de ser esta
irrealidade fomentada pelas próprias autoridades a fim de manter o povo incapaz
de se elevar mentalmente que é para ter o comportamento do burro de carroça que
se sente recompensado com uma moita de capim à noitinha quando lhe são
retirados os arreios do lombo.
Do que
aprendem as crianças resulta a incapacidade mental. Ao saber que eu chegara
dirigindo de Brasília, um profissional liberal, portanto pessoa estudada, me
disse que Deus foi generoso comigo ao me permitir estar tão vigoroso aos
setenta e nove anos de idade. Que motivo teria Deus para cuidar deste velho
ateu e abandonar crianças para morrerem em águas geladas ou enjauladas em
cárceres imundos por terem sido abandonadas pela sociedade que lhes dispensa
tratamento inferior ao dispensado às feras nos zoológicos? O mudo, na verdade,
está de cabeça prá baixo, mas alguns Arquimedes já despontam por aí à procura
de um ponto de apoio a partir do qual movê-lo para a posição certa. Os doutores
Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Heloisa Helena e Eliana Calmon são alguns destes
Arquimedes. Dê-lhes um ponto de apoio e uma alavanca que tudo entrará nos eixos
bonitinho. Inté.
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