Este
país de mais baixa espiritualidade no mundo parece condenado à balbúrdia
eterna. Pagar Delfim Neto para apresentar soluções aos infinitos problemas que
ele mesmo ajudou a criar é uma coisa só admissível por quem não tem o menor
interesse em ver esta terra infeliz ter algum alívio em sua infelicidade. O Brasil
sofre de um tipo perigoso de doença como a pressão alta cujos sinais exteriores
não são suficientes para levar à busca de tratamento. Por se recusar a manter a
pressão arterial sob controlo por meio de drogas muita gente se encontra agora
com a saúde tão fragilizada que depende de transplante renal. O analfabetismo
político leva à mesma indiferença quanto aos resultados da doença crônica que
aos poucos mina a saúde da sociedade brasileira desde a chegada das caravelas.
As riquezas naturais foram carreadas e a exploração do país é aceita com tanta
naturalidade pelos brasileiros que eles até se tornaram admiradores de seus
exploradores. A matança de jovens brasileiros em 1964 que o governo americano
obrigou os militares brasileiros a fazer é retaliada com uma paixão tão grande
pelos Estados Unidos que aviões lotados de brasileiros apaixonados por aquele
país partem diariamente do Brasil para lá. Os habitantes das repúblicas de
banana depenadas pelo governo americano sentem-se tão obrigados a visitar os
Estados Unidos quanto os muçulmanos em visitar Meca. Mas nada do que ocorre por
aqui lhes desperta atenção. As instituições foram transformadas em covil de
bandidos perigosos enquanto a turba vive em infindáveis festejamentos que fazem
crer se tratar de uma lugar onde tudo é boa-venturança. Que motivos para festas
pode ter um povo condenado a ser tosquiado antes mesmo de crescer a lã restante
da última tosquia?
Em nenhum
lugar do mundo pode ainda o ser humano prescindir de condução em virtude da
brutalidade da desunião. Não sendo possível viver senão em grupo porque isolado
o ser humano se sente como o peixe fora d’água, e uma vez que a vida em grupo exige
harmonia, faz-se necessária uma força para domar a fera que habita a
personalidade de cada ser humano. Como todos os seres humanos ainda se
encontram na fase de pré-macacos, orientados unicamente pelo instinto, resulta
na impossibilidade de haver seres humanos cuja espiritualidade tenha se elevado
o suficiente para dotá-los do desprendimento material indispensável para o
exercício de liderança inerente à personalidade de quem tem a responsabilidade
de conduzir uma sociedade. Não precisa ser inteligente para perceber esta
realidade. Basta olhar em volta e ver que as crianças foram transformadas em
bandidos e os presídios estão abarrotados de criminosos, pessoas que foram levadas
a esta situação pela necessidade das coisas indispensáveis que a sociedade lhes
nega. Portanto, a sociedade é responsável pela existência do banditismo. Por
mais que se iluda a massa ignorante com a promessa de boa-venturança no céu, a
exigência natural da busca pela comodidade própria de todo ser vivo leva à revolta
manifestada pelos bandidos, incentivada pela demonstração de opulência dos
biltres espirituais na revista Forbes.
Da
orientação seguida por frequentadores de igreja, axé e futebola, resulta ser mais
importante saber o que havia na urina do jogador do que saber o que se passa de
estranho nos bastidores de uma administração pública denominada de mafiocracia
e plutocracia. Nada pode justificar a substituição de escolas por terreiros
para brincadeiras, nem a indisposição de estancar o choro e o sofrimento nos
corredores de hospital. Em vez disso, a massa estúpida se interessa pela
notícia de que a biografia de
Andressa Urach, que foi de vice Miss Bumbum e prostituta a evangélica teve 400
mil cópias vendidas em pouco mais de um mês. Uma biografia de Joaquim
Barbosa, Sergio Moro, Heloisa Helena ou Eliana Calmon, teria a mesma apreciação?
Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário