terça-feira, 6 de outubro de 2015

ARENGA 169


 
 Este país de mais baixa espiritualidade no mundo parece condenado à balbúrdia eterna. Pagar Delfim Neto para apresentar soluções aos infinitos problemas que ele mesmo ajudou a criar é uma coisa só admissível por quem não tem o menor interesse em ver esta terra infeliz ter algum alívio em sua infelicidade. O Brasil sofre de um tipo perigoso de doença como a pressão alta cujos sinais exteriores não são suficientes para levar à busca de tratamento. Por se recusar a manter a pressão arterial sob controlo por meio de drogas muita gente se encontra agora com a saúde tão fragilizada que depende de transplante renal. O analfabetismo político leva à mesma indiferença quanto aos resultados da doença crônica que aos poucos mina a saúde da sociedade brasileira desde a chegada das caravelas. As riquezas naturais foram carreadas e a exploração do país é aceita com tanta naturalidade pelos brasileiros que eles até se tornaram admiradores de seus exploradores. A matança de jovens brasileiros em 1964 que o governo americano obrigou os militares brasileiros a fazer é retaliada com uma paixão tão grande pelos Estados Unidos que aviões lotados de brasileiros apaixonados por aquele país partem diariamente do Brasil para lá. Os habitantes das repúblicas de banana depenadas pelo governo americano sentem-se tão obrigados a visitar os Estados Unidos quanto os muçulmanos em visitar Meca. Mas nada do que ocorre por aqui lhes desperta atenção. As instituições foram transformadas em covil de bandidos perigosos enquanto a turba vive em infindáveis festejamentos que fazem crer se tratar de uma lugar onde tudo é boa-venturança. Que motivos para festas pode ter um povo condenado a ser tosquiado antes mesmo de crescer a lã restante da última tosquia?

Em nenhum lugar do mundo pode ainda o ser humano prescindir de condução em virtude da brutalidade da desunião. Não sendo possível viver senão em grupo porque isolado o ser humano se sente como o peixe fora d’água, e uma vez que a vida em grupo exige harmonia, faz-se necessária uma força para domar a fera que habita a personalidade de cada ser humano. Como todos os seres humanos ainda se encontram na fase de pré-macacos, orientados unicamente pelo instinto, resulta na impossibilidade de haver seres humanos cuja espiritualidade tenha se elevado o suficiente para dotá-los do desprendimento material indispensável para o exercício de liderança inerente à personalidade de quem tem a responsabilidade de conduzir uma sociedade. Não precisa ser inteligente para perceber esta realidade. Basta olhar em volta e ver que as crianças foram transformadas em bandidos e os presídios estão abarrotados de criminosos, pessoas que foram levadas a esta situação pela necessidade das coisas indispensáveis que a sociedade lhes nega. Portanto, a sociedade é responsável pela existência do banditismo. Por mais que se iluda a massa ignorante com a promessa de boa-venturança no céu, a exigência natural da busca pela comodidade própria de todo ser vivo leva à revolta manifestada pelos bandidos, incentivada pela demonstração de opulência dos biltres espirituais na revista Forbes.

Da orientação seguida por frequentadores de igreja, axé e futebola, resulta ser mais importante saber o que havia na urina do jogador do que saber o que se passa de estranho nos bastidores de uma administração pública denominada de mafiocracia e plutocracia. Nada pode justificar a substituição de escolas por terreiros para brincadeiras, nem a indisposição de estancar o choro e o sofrimento nos corredores de hospital. Em vez disso, a massa estúpida se interessa pela notícia de que a biografia de Andressa Urach, que foi de vice Miss Bumbum e prostituta a evangélica teve 400 mil cópias vendidas em pouco mais de um mês. Uma biografia de Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Heloisa Helena ou Eliana Calmon, teria a mesma apreciação? Inté. 

 

 
 

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