domingo, 18 de outubro de 2015

ARENGA 177

“Os dados são oficiais: de 2000 a 2010, foram assassinados 230 mil jovens no Brasil. Duzentos e trinta MIL, senhores!” Esta exclamação indignada diante de tal monstruosidade é do jornalista Alex Ferraz do jornal Tribuna da Bahia. Mas, por que apenas o jornalista se sente indignado? Ninguém mais se incomoda ante o esfacelamento da sociedade onde viverão seus filhos? Para a turba em marcha rumo às igrejas e aos campos de futebola estes jovens morreram porque mereceram. Quem mandou deixar o caminho certo e seguir pelo errado na encruzilhada do livre arbítrio? Pois agora tem o que merecem! Criancinhas afogando em águas geladas, pessoas com a cabeça cepada fora do corpo, pedaços de cadáver espalhados pelas ruas, rios apodrecidos, comida, água e ar envenenados, corredores de hospitais abarrotados de chorões, pocilgas com nome de presídios servindo de abrigo para crianças, podridão no lugar de política. Tudo isso para os frequentadores de igreja e futebola decorre em função da opção errada ao se tomar deliberadamente o rumo do pecado lá na encruzilhada do livre arbítrio, onde devia haver uma seta orientadora. A imbecilidade chega ao extremo de Tribunais de Justiça se ocupando da tarefa de decidir sobre inconstitucionalidade da obrigação de haver bíblias nas bibliotecas de um país que se diz laico. Mas não há do que se espantar porque a justiça é encarregada também de decidir se a bola passou ou não passou entre as pernas do jogador de futebola, ou então se a quantidade de droga encontrada na urina dele é suficiente para deixá-lo mais animado que os demais. Afora estas atividades importantíssimas num mundo de “celebridades”, também tem a justiça a tarefa nobilíssima de proteger ladrões ricos.  É para isto que a malta ignorante se estafa na correria para ganhar o dinheiro de pagar impostos? A ninguém parece ocorrer que a sociedade está resumida a um bando de otários a fazer figa na revista Forbes com suas montanhas de riqueza, e, de outro lado, idiotas destinados a por máquinas em funcionamento e serem esmagados por escombros de igrejas ou desastres de ônibus na busca por proteção divina. É tão patética a expressão de alguém proseando com estátua quanto patética é a expressão de quem se posta em frente a um bolo de aniversário escutando o coro de quem canta Parabém prá Você. A patetice está na inocência de ser tudo aquilo maquinado por especialistas em propaganda, a arte de explorar a estupidez humana, para levar às compras tanto os que cantam quanto o que ouve o “... nesta daaaaaata querida”. Nenhum festejador dos vários tipos de festejamento tem a atenção despertada pelas notícias sobre construção de esplendorosos templos para se brincar como se ainda fossem crianças, ou para orar inúteis orações, ao lado de notícias dando conta do fechamento de escola e hospital. A fonte geradora desta indiferença é o desconhecimento ou a ignorância a que se referiu Rui Barbosa como causa de todos os males do mundo. É por tudo isso que no meu túmulo estará grafado: “Esta vidinha medíocre que a natureza me deu para trabalhar, comer e trepar, eu devolvo para ele enfiar”. Inté.



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