“Os dados são oficiais: de 2000 a 2010, foram assassinados 230 mil
jovens no Brasil. Duzentos e trinta MIL, senhores!” Esta exclamação indignada diante de tal
monstruosidade é do jornalista Alex Ferraz do jornal Tribuna da Bahia. Mas, por
que apenas o jornalista se sente indignado? Ninguém mais se incomoda ante o
esfacelamento da sociedade onde viverão seus filhos? Para a turba em marcha
rumo às igrejas e aos campos de futebola estes jovens morreram porque
mereceram. Quem mandou deixar o caminho certo e seguir pelo errado na
encruzilhada do livre arbítrio? Pois agora tem o que merecem! Criancinhas
afogando em águas geladas, pessoas com a cabeça cepada fora do corpo, pedaços
de cadáver espalhados pelas ruas, rios apodrecidos, comida, água e ar
envenenados, corredores de hospitais abarrotados de chorões, pocilgas com nome
de presídios servindo de abrigo para crianças, podridão no lugar de política.
Tudo isso para os frequentadores de igreja e futebola decorre em função da
opção errada ao se tomar deliberadamente o rumo do pecado lá na encruzilhada do
livre arbítrio, onde devia haver uma seta orientadora. A imbecilidade chega ao
extremo de Tribunais de Justiça se ocupando da tarefa de decidir sobre
inconstitucionalidade da obrigação de haver bíblias nas bibliotecas de um país
que se diz laico. Mas não há do que se espantar porque a justiça é encarregada
também de decidir se a bola passou ou não passou entre as pernas do jogador de
futebola, ou então se a quantidade de droga encontrada na urina dele é
suficiente para deixá-lo mais animado que os demais. Afora estas atividades
importantíssimas num mundo de “celebridades”, também tem a justiça a tarefa
nobilíssima de proteger ladrões ricos. É
para isto que a malta ignorante se estafa na correria para ganhar o dinheiro de
pagar impostos? A ninguém parece ocorrer que a sociedade está resumida a um
bando de otários a fazer figa na revista Forbes com suas montanhas de riqueza,
e, de outro lado, idiotas destinados a por máquinas em funcionamento e serem
esmagados por escombros de igrejas ou desastres de ônibus na busca por proteção
divina. É tão patética a expressão de alguém proseando com estátua quanto
patética é a expressão de quem se posta em frente a um bolo de aniversário escutando
o coro de quem canta Parabém prá Você. A patetice está na inocência de ser tudo
aquilo maquinado por especialistas em propaganda, a arte de explorar a
estupidez humana, para levar às compras tanto os que cantam quanto o que ouve o
“... nesta daaaaaata querida”. Nenhum festejador dos vários tipos de
festejamento tem a atenção despertada pelas notícias sobre construção de
esplendorosos templos para se brincar como se ainda fossem crianças, ou para
orar inúteis orações, ao lado de notícias dando conta do fechamento de escola e
hospital. A fonte geradora desta indiferença é o desconhecimento ou a
ignorância a que se referiu Rui Barbosa como causa de todos os males do mundo.
É por tudo isso que no meu túmulo estará grafado: “Esta vidinha medíocre que a
natureza me deu para trabalhar, comer e trepar, eu devolvo para ele enfiar”.
Inté.
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