sexta-feira, 9 de outubro de 2015

ARENGA 172




Seu Manuelito, um trabalhador rural dos melhores, me contou um acontecido com ele que é o retrato retocado do ideal político do politiqueiro. O interesse social do politiqueiro corresponde exatamente ao interesse socialista de seu Manuelito, demonstrado na seguinte história: Convidado a se juntar a um grupo que ia ocupar uma terra a ser dividida entre os ocupantes, seu Manuelito, a princípio, recusou. Como o amigo que o convidara insistisse na chance de ter seu pedaço de terra, sonho de quem nasceu e cresceu trabalhando as terras de outras pessoas, resolveu ir junto, mas muito desconfiado.  – Quá... Esse negócio num vai dá certo, não. – Remoía seu Manuelito em pensamentos. – Chegando ao local, o desânimo se juntou ao bafo quente da lona preta da barraca, e nosso bolchevique desanimado deu no pé de volta prá casa. O entusiasmo de seu Manuelito por uma reforma agrária é sem tirar nem pôr o mesmo entusiasmo que leva a cambada de politiqueiros a digladiar por um cargo na administração pública e que outro não é senão mancomunar com a cambada de falcatrueiros ora posta a descoberto pela Lava Jato. A notícia de que um terço das crianças com menos de 2 anos bebe refrigerante demostra bem a farsa da turma de canalhas quando fazem pose para demonstrar preocupação com o social. Qual será o destino de uma população que vive de mentiras e cinismo? Ouvem-se mentiras nas igrejas, nos livros de escritores assalariados, na tagarelice da papagaiada de microfone quando se refere à bíblia como o livro mais vendido no mundo, omitindo o fato altamente significativo de ser ela comprada até por analfabetos como amuleto. Bíblias emboloradas, criadouro de ácaros e fungos são vistas sobre móveis toscos nos casebres em meio a crianças. Vive-se, portanto, mentira. Só mentira, falta de vergonha e inteligência, situação que não é privilégio das repúblicas de banana porque os países tidos como os mais civilizados do mundo não passam de agiotas safados que compactuam com ladrões que roubam junto com dinheiro de outros países também o direito das crianças de tomarem o seu leitinho, escondendo o produto do roubo para especular no maldito Mercado Financeiro, monstruosidade própria do sistema capitalista que escritores assalariados garantem ser a melhor forma de administração pública. Tudo mentira. Só mentira, safadeza e falta de senso comum.

A farsa é alimentada por cérebros privilegiados e preparados nas mais famosas universidades do mundo para distorcer a verdade. A única chance de sair do atoleiro em que afunda o mundo das mentiras é ter capacidade de percepção. Acontece que para se ter esta capacidade se faz necessário haver interesse em tê-la. Acontece, por outro lado, que o interesse das pessoas no mundo inteiro vai em direção oposta àquela da qual resultaria seu próprio benefício. Tornou-se obrigatória a desonestidade em função da falsa crença de ser necessário possuir mais coisas do que realmente se necessita, farsa inegável em razão da necessidade de se viver em sociedade, o que é incompatível com a desarmonia inevitável quando as pessoas procuram através de ardis enganar umas às outras para tomar-lhes o que têm. É por esse meio que fazem as grandes fortunas, razão pela qual todo rico não passa de reles ladrão. São pessoas sem noção do que seja viver em sociedade. Alguém que pensa mostrou esta realidade em uma charge na qual, em sonho, um macaco se vê portanto um porrete. Depois, já menos macaco, portando arco e flecha. Depois, menos macaco ainda, se vê de armadura e espada. Depois com fuzil e, finalmente, já como ser humano, com uma metralhadora. Desperto, sentiu-se tão entristecido que se enforcou na mesma árvore em que se recostara para descansar. Inté.

 
 
 

















      










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