sábado, 21 de janeiro de 2017

ARENGA 359


Disse um dos Grandes Mestres do Saber que o homem nasce livre, mas vive agrilhoado pelos quatro cantos do mundo. Grande verdade que espanta ao se constatar que ninguém agarra o homem para lhe por os grilhões como se fazia quando dos navios negreiros. É o próprio homem que se oferece espontaneamente para ser subjugado pela força escravizadora. As guerras são demonstração maior da escravidão consentida. Ninguém vai à casa dos jovens como faziam os nazistas para arrancar de lá quem estivesse orando, lendo um livro ou namorando e levá-lo arrastado para ser morto. Mediante um chamado, o jovem veste uma roupa apropriada para o trabalho de matar, como faz o operário para o trabalho de produzir remédio e, convencido de serem inimigas pessoas que nenhum mal lhe fez, mata outros jovens até também tombar morto, quando então será devolvido à família em solenidade que envolve toque de corneta, disparo de fuzil e rudia de flores, aparato capaz de conformar os pais que amaram aquele jovem, mas que, no entanto, por força da força escravizadora, voltam para casa conformados em trazer numa caixinha uma moeda no lugar do filho que tanto trabalho lhes dera e tantas esperanças despertou. Ainda hoje, lá pelas bandas dos povos supostamente civilizados, a imprensa noticia uma destas solenidades em que o primeiro ministro britânico leva flores ao memorial das vítimas de atentados terroristas. A ninguém ocorre perscrutar ou esmiuçar em que se fundamenta a aceitação de uma situação em que jovens são levados a se estraçalharem em explosões de todo tipo sem nem mesmo saber o motivo pelo qual trocam suas vidas por uma medalha. É o poder da força escravizadora que leva os jovens à situação do cão que avança à ordem do caçador. Embora não saibam, os que brigam por causa de Deus, na verdade, brigam por causa de dinheiro porque assim como os nossos pobres diabos mentais são convencidos de dar dinheiro em troca proteção divina, do mesmo modo, outras orientações religiosas levam outros jovens ao fanatismo de cepar fora a cabeça de outros jovens, sem saber que por trás de tudo isso há um fanático por dinheiro.

Contrastando com a condição de total impotência, está a condição de poder mover montanhas. O que será que faz de capacho quem pode mover nem que seja um murundu? É o hábito de mandar e o hábito de obedecer simplesmente por obedecer a fonte geradora da força que faz acreditar ser a melhor das vidas trabalhar em Madureira, viajar na cantareira e morar em Niterói. Como disse o poeta Adoniran Barbosa, só vendo como é que dói. Conclui o grande compositor. Então, se dói, prá que fazer uma coisa que dói? O hábito de simplesmente obedecer dá sumiço na curiosidade sobre o resultado do que se vai fazer em obediência à ordem recebida. Como não pode haver nada melhor para mentalidades antissociais do que levar vantagem, contando com manadas inteiras para ordenhar, os que estão habituados a mandar deitam e rolam. Como tanto uns quanto outros estão equivocados, é bom que despertem desta falsa realidade e abram os olhos para outra realidade diferente desta de ser o mundo propriedade de um bando de bundas brancas. O resultado desse apossamento foi transformar o mundo numa imensa bomba. Dizem pelaí que há três navios americanos cutiando a China de longe, de lá do mar, cada um com poder de fogo equivalente a todo o fogo queimado na Segunda Guerra. E por acaso alguém se interessa em saber por quê? Não! Nem a quem manda e nem a quem obedece ocorre questionar ser obrigado a matar ou ser obrigado a obrigar a matar. O raciocínio do qual resultam as decisões que vão orientar o comportamento da sociedade humana não pode mais depender de cabeça que esteja apenas em corpo de rico. Há de se fazer um caldeamento de modo a que um meio-termo venha aparar as arestas desta esculhambação em que transformaram a organização da sociedade humana. Falar-se em súditos hoje em dia é grande palhaçada além de total contrassenso.  Como se falar ainda de reis e súditos sem se meditar a respeito? Pois, lá na terra dos bundas brancas que pensam serem civilizados, acontece o seguinte fato digno da Idade Média: “Um mar de súditos tingiu Amsterdã de laranja ontem para se despedir de Beatrix, rainha da Holanda nos últimos 33 anos, e celebrar a coroação do seu filho, o novo rei Willem-Alexander”.

Se qualquer Zemané aprendeu que não deu certo a forma de conduzir sociedade humana, o quê, então, está faltando para que sejam revistos e atualizadas dentro de nova realidade os hábitos de mandar e obedecer? Não pode haver dúvida de estar tudo errado. Nenhum argumento justifica que uma vampira do FMI ronde o mundo a sugar a humanidade, nem está certo que a humanidade se deixe sugar. Por muito menos que mordida de vampiro, garanto e assino em baixo que meu cavalo Roxoforte antes de ser mordido por uma simples mutuca tascava o rabo nela sem dó nem piedade. Meu cavalo Roxoforte era mais gente do que povo é. O resultado do vampirismo que carreia toda a riqueza para o lado dos bundas brancas e deixa exauridas as outras bundas de todos os matizes, é que os papagaios de microfone e de escrita enchem o saco falando da Grécia, mas não falam as verdadeiras razões pelas quais só falam da Grécia em termos de dinheiro, sem que lhes passe pela cabeça vazia que a Grécia foi a mãe dos primeiros homens a valorizaram tanto o ato de pensar que passaram a ensinar não só as vantagem de se pensar, mas também como fazê-lo, mas ninguém aprendeu. Inté. 

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