A notícia
publicada no Jornal do Brasil de que se São Paulo fosse um país estaria entre
as cinquenta potências mundiais evidencia a realidade de só haver desvantagem em
ser potência mundial. A história mostra que as sociedades empenhadas na
grandiosidade de impérios fabulosos sucumbiram todas em consequência da fobia
por grandeza. A humanidade ainda não conseguiu elevar a mente de modo a
permitir um comportamento diferente do comportamento que tinha quando a vida
dependia de achar o que comer. A presença do fantasma da necessidade é que
justifica a falsa crença de haver na riqueza a paz da segurança. Buscar
tranquilidade na riqueza é tão falso que a riqueza demanda aparato de proteção
para si mesma. A sentença de ser a democracia a melhor forma de governo apenas
por não existir outra forma pior, também se aplica à vida na Cidade de São
Paulo, tão ruim que nos fins de semana sua população foge de lá como o capeta
foge da cruz. Até as lendas, as histórias de maldição em torno de tesouros,
múmias, sarcófagos, refletem negatividade nos ambientes de riqueza. A
realidade, entretanto, é a atração despertada nos necessitados por tais lugares
onde são escravizados porquanto se faz necessária a escravidão para fazer as
riquezas porquanto elas não são feitas por seus donos. Estes apenas usam da
maldade inerente ao ser humano para se aproveitar da necessidade do necessitado
e tomar dele o que Marx chamou de Mais Valia, com o que formam suas riquezas. Tanto
é negativo o ato torpe de explorar o necessitado quanto o acúmulo de seres
humanos no mesmo lugar porque disto resulta no surgimento de doenças e
desentendimentos dos quais provêm mil formas de violência em função do instinto
de bicho presente na personalidade humana, ser mais vil entre todos os seres
vivos por praticar maldade deliberadamente.
A fome de
riqueza em São Paulo é tão grande que a fim de atender maior número de
pacientes ao custo mil e quinhentos reais uma consulta de dez ou quinze minutos
o ortopedista examina o paciente e vai logo avisando não ser mais necessária
sua presença porque os laboratórios enviam para ele o resultado dos exames e
ele telefona para dar as recomendações, o que faz em um ou dois minutos. O fato
de ser considerado normal beber água com bosta e comida com veneno é suficiente
para mostrar a infelicidade de quem vive naquele ambiente. Se o cavalo bebe
água suja é por não distinguir entre água suja e limpa. Além disso, a natureza
paramenta o organismo do cavalo com proteção de que não dispõem os moradores da
Cidade de São Paulo, sendo, portanto, inaceitável ser considerada normal
determinada quantidade de bosta na água de beber. Como ser normal beber água
com bosta como se bebe em São Paulo?
À
humanidade cabe o dever de superar o conservadorismo das tradições que mantêm a
brutalidade dos primeiros tempos. As mudanças são necessárias e inevitáveis.
Entretanto, inexplicavelmente, os seres humanos se apavoram ante a
possibilidade de mudança como acontece em relação à passagem da existência na
vida para a inexistência de depois da morte, sem se dar conta de que a ninguém
incomoda a inexistência de antes de viver, não obstante ser a mesma
inexistência de depois da morte. Falta à humanidade conexão com a realidade de
ser o ato de viver merecedor de maior atenção do que o ato de acumular riqueza
considerado tão necessário que a prática de esconder tesouros enterrando-os
ainda está presente, tendo mudado apenas os buracos pelas caixas-fortes dos
infernos fiscais. Matéria no blog Outras Palavras dá conta de que o número de
suicídios no mundo cresceu sessenta por cento nas últimas décadas, provenientes
de fatores como insegurança social e pressões competitivas, o que desmente o
senhor Kissinger ao recomendar a competição como melhor modo de viver. É tudo
só uma questão de pensar porque viver apenas, o asno também o faz. Inté.
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