quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

ARENGA 354


A notícia publicada no Jornal do Brasil de que se São Paulo fosse um país estaria entre as cinquenta potências mundiais evidencia a realidade de só haver desvantagem em ser potência mundial. A história mostra que as sociedades empenhadas na grandiosidade de impérios fabulosos sucumbiram todas em consequência da fobia por grandeza. A humanidade ainda não conseguiu elevar a mente de modo a permitir um comportamento diferente do comportamento que tinha quando a vida dependia de achar o que comer. A presença do fantasma da necessidade é que justifica a falsa crença de haver na riqueza a paz da segurança. Buscar tranquilidade na riqueza é tão falso que a riqueza demanda aparato de proteção para si mesma. A sentença de ser a democracia a melhor forma de governo apenas por não existir outra forma pior, também se aplica à vida na Cidade de São Paulo, tão ruim que nos fins de semana sua população foge de lá como o capeta foge da cruz. Até as lendas, as histórias de maldição em torno de tesouros, múmias, sarcófagos, refletem negatividade nos ambientes de riqueza. A realidade, entretanto, é a atração despertada nos necessitados por tais lugares onde são escravizados porquanto se faz necessária a escravidão para fazer as riquezas porquanto elas não são feitas por seus donos. Estes apenas usam da maldade inerente ao ser humano para se aproveitar da necessidade do necessitado e tomar dele o que Marx chamou de Mais Valia, com o que formam suas riquezas. Tanto é negativo o ato torpe de explorar o necessitado quanto o acúmulo de seres humanos no mesmo lugar porque disto resulta no surgimento de doenças e desentendimentos dos quais provêm mil formas de violência em função do instinto de bicho presente na personalidade humana, ser mais vil entre todos os seres vivos por praticar maldade deliberadamente.

A fome de riqueza em São Paulo é tão grande que a fim de atender maior número de pacientes ao custo mil e quinhentos reais uma consulta de dez ou quinze minutos o ortopedista examina o paciente e vai logo avisando não ser mais necessária sua presença porque os laboratórios enviam para ele o resultado dos exames e ele telefona para dar as recomendações, o que faz em um ou dois minutos. O fato de ser considerado normal beber água com bosta e comida com veneno é suficiente para mostrar a infelicidade de quem vive naquele ambiente. Se o cavalo bebe água suja é por não distinguir entre água suja e limpa. Além disso, a natureza paramenta o organismo do cavalo com proteção de que não dispõem os moradores da Cidade de São Paulo, sendo, portanto, inaceitável ser considerada normal determinada quantidade de bosta na água de beber. Como ser normal beber água com bosta como se bebe em São Paulo?

À humanidade cabe o dever de superar o conservadorismo das tradições que mantêm a brutalidade dos primeiros tempos. As mudanças são necessárias e inevitáveis. Entretanto, inexplicavelmente, os seres humanos se apavoram ante a possibilidade de mudança como acontece em relação à passagem da existência na vida para a inexistência de depois da morte, sem se dar conta de que a ninguém incomoda a inexistência de antes de viver, não obstante ser a mesma inexistência de depois da morte. Falta à humanidade conexão com a realidade de ser o ato de viver merecedor de maior atenção do que o ato de acumular riqueza considerado tão necessário que a prática de esconder tesouros enterrando-os ainda está presente, tendo mudado apenas os buracos pelas caixas-fortes dos infernos fiscais. Matéria no blog Outras Palavras dá conta de que o número de suicídios no mundo cresceu sessenta por cento nas últimas décadas, provenientes de fatores como insegurança social e pressões competitivas, o que desmente o senhor Kissinger ao recomendar a competição como melhor modo de viver. É tudo só uma questão de pensar porque viver apenas, o asno também o faz. Inté.   

 

   

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário