terça-feira, 10 de janeiro de 2017

ARENGA 347


A teimosia em permanecer na mentalidade que orientava o comportamento dos habitantes da caverna não se reflete apenas na brutalidade de matar. Ela se faz presente também na necessidade de embelezamento que faz as crianças ficarem embevecidas ante algo luminoso ou de cor exuberante, e não se limita à fase de criança. Leva adultos a pintar unhas, abrir buracos nas orelhas, nariz e beiços (inclusive os de baixo, para quem os tem), para neles enfiar argolas de ouro. Não é também senão a inocência da vaidade que leva às cirurgias plásticas que enriquecem a bruxaria do bisturi e da técnica de fazer o tempo andar para trás na pele dos ignorantes da vida. Até a comida que tem por único objetivo fornecer vigor ao organismo, e que por isso mesmo deve ser consumida calmamente, com demorada mastigação, a infantilidade dos adultos faz crer ser importante haver beleza do prato artisticamente montado. Tudo isso decorre da infantilidade dos primeiros tempos ainda presente nos ridículos seres humanos que se recusam a envelhecer.

As informações que os paleontólogos encontram nos fósseis dão notícia da preocupação com o embelezamento dos toscos utensílios de que se serviam os seres esquisitos que aprenderam a usá-los. Não deixa de ser extraordinariamente curioso que depois de decorridas dezenas de milhares de anos a humanidade de recusa a amadurecer, estando na religiosidade a mais contundente evidência desta recusa. Todas as explicações para a existência da religiosidade levam inevitavelmente à inocência, à ausência de conhecimento, realidade facilmente percebível no simples fato de se observar as multidões que se aglomeram em torno dos representantes de Deus. Apenas a aparência física de seus componentes leva o observador a perceber sua simplicidade. Uma pesquisa sobre quantos livros qualquer um deles teria lido resultaria na resposta NENHUM.

Mas a infantilidade dos ainda brutos seres humanos se manifesta com total perfeição é no medo da morte. Os inocentes religiosos que se julgam superiores em conhecimento fogem dela como o diabo foge da cruz. Para os realmente superiores em conhecimento, a morte não causa temor. Na página 30 do livro Da morte – Metafísica do Amor – Do Sofrimento do Mundo, Editora Martin Claret, o Grande Mestre do Saber Arthur Schopenhauer se refere à morte da seguinte maneira: “Pouco a pouco, com a velhice, extinguem-se as paixões e os desejos, ao mesmo tempo em que a capacidade de sofrer a ação dos objetos embota; os afetos não encontram mais nenhum estímulo, porque a força de representação vai se debilitando cada vez mais, suas imagens vão ficando cada vez mais descoradas, as impressões não aderem mais em nós, passando sem deixar traços, os dias precipitam o seu curso, os eventos perdem sua importância e tudo se reveste de um matiz pálido. O ancião carrega o peso dos anos, andando de cá prá lá com seus passos vacilantes, ou repousa num canto, uma sombra, um fantasma do que era antes. Que resta nele para ser destruído ainda pela morte?”

Há muito tempo os seres humanos já deveriam ter superado a infantilidade mental que faz deles objeto de uso por outros seres humanos também tão infantis que encontram motivos para parasitar seus semelhantes. O Jornal do Brasil de 10/01/2017, publica matéria onde se lê: Na política brasileira, a mentira está sempre a serviço da manutenção do poder. Só é descoberta depois. No momento em que é transmitida, ela vem com uma roupagem de esperança. já existe uma tradição na política brasileira de que, através da mentira eleitoral, é mais fácil ganhar votos.

A mentira na política não é privilégio do povo mais povo do mundo, os brasileiros. Em função da infantilidade humana, no mundo inteiro aproveitadores reles levam vida regalada às custas dos eternos enganados. Está aí na imprensa a notícia de ter sido ampliado o número de robôs a serviço dos enganadores a disputar as próximas Copas do Mundo. Já não estamos velhos o bastante para pensar em deixar de ser palhaço? Inté.

 

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