A medicina e a política são
atividades incompatíveis com a de empresário porquanto a sede de riqueza inerente
ao empresário elimina a possibilidade de haver a nobreza do desprendimento
necessário para que seja levado a bom termo o objetivo tanto do médico quanto
do político em sua nobre responsabilidade de promover o bem-estar individual e
social. A estupidez humana de colocar a necessidade de riqueza acima dos
valores éticos e morais atinge níveis altíssimos ao conviver normalmente com
médicos e políticos que são ao mesmo tempo empresários. A morbidez por dinheiro
que leva médicos e políticos ajuntar fortunas com suas atividades rebaixa tão
nobres profissões ao nível vulgar do parasitismo da agiotagem do sistema
financeiro que sacrifica a população, principalmente a parte mais carente dela.
O problema, entretanto, é mais
complicado porque ainda que podendo ser dotado de personalidade diferente, a
educação capitalista transforma as crianças em brutamontes ganhadores de
dinheiro a qualquer custo, ainda que aproveitando dos infortúnios que
fragilizam ainda mais seus semelhantes, deixando-os à mercê do “podia ser pior”
ou do “que jeito?”. Mas não tem de ser assim eternamente. Embora haja pais que
se beneficiam da prostituição física das filhas e mental dos filhos, a maioria
absoluta deles gostaria que seus filhos fossem honrados. O que eles não sabem é
serem responsáveis pela desonra que corre nas veias dos brasileiros ao permitir
que seus filhos recebam uma educação que em termos de sociabilidade prepara as
crianças para serem adultos que se comportem exatamente ao contrário de como se
deve comportar a fim de poder formar uma sociedade livre da avareza e do
individualismo próprios da cultura vigente.
Houvesse a possibilidade de vir o pão
e circo a permitir um mínimo de facilidade para entender o mundo no qual vivem,
os seres humanos perceberiam encontrar-se envolvidos num engodo tão
extraordinário que festejam sua desgraça, o que não é privilégio deste belo
país de triste sorte e povo. Quando se reuniu na “civilizada” Áustria o
Congresso de Viena, para, como hienas, dividir os despojos auferidos com a vitória
sobre Napoleão, eram tão esplendorosos os bailes que segundo consta do livro D.
Leopoldina, de Paulo Rezzutti, um congressista, talvez o próprio imperador
Francisco II, pai de D. Leopoldina e sogro de D. Pedro I, fez a seguinte observação: “Se o congresso não
trabalha, pelo menos dança bem”.
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