segunda-feira, 10 de agosto de 2020

ARENGA 557

 

A medicina e a política são atividades incompatíveis com a de empresário porquanto a sede de riqueza inerente ao empresário elimina a possibilidade de haver a nobreza do desprendimento necessário para que seja levado a bom termo o objetivo tanto do médico quanto do político em sua nobre responsabilidade de promover o bem-estar individual e social. A estupidez humana de colocar a necessidade de riqueza acima dos valores éticos e morais atinge níveis altíssimos ao conviver normalmente com médicos e políticos que são ao mesmo tempo empresários. A morbidez por dinheiro que leva médicos e políticos ajuntar fortunas com suas atividades rebaixa tão nobres profissões ao nível vulgar do parasitismo da agiotagem do sistema financeiro que sacrifica a população, principalmente a parte mais carente dela.

O problema, entretanto, é mais complicado porque ainda que podendo ser dotado de personalidade diferente, a educação capitalista transforma as crianças em brutamontes ganhadores de dinheiro a qualquer custo, ainda que aproveitando dos infortúnios que fragilizam ainda mais seus semelhantes, deixando-os à mercê do “podia ser pior” ou do “que jeito?”. Mas não tem de ser assim eternamente. Embora haja pais que se beneficiam da prostituição física das filhas e mental dos filhos, a maioria absoluta deles gostaria que seus filhos fossem honrados. O que eles não sabem é serem responsáveis pela desonra que corre nas veias dos brasileiros ao permitir que seus filhos recebam uma educação que em termos de sociabilidade prepara as crianças para serem adultos que se comportem exatamente ao contrário de como se deve comportar a fim de poder formar uma sociedade livre da avareza e do individualismo próprios da cultura vigente.

Houvesse a possibilidade de vir o pão e circo a permitir um mínimo de facilidade para entender o mundo no qual vivem, os seres humanos perceberiam encontrar-se envolvidos num engodo tão extraordinário que festejam sua desgraça, o que não é privilégio deste belo país de triste sorte e povo. Quando se reuniu na “civilizada” Áustria o Congresso de Viena, para, como hienas,  dividir os despojos auferidos com a vitória sobre Napoleão, eram tão esplendorosos os bailes que segundo consta do livro D. Leopoldina, de Paulo Rezzutti, um congressista, talvez o próprio imperador Francisco II, pai de D. Leopoldina e sogro de D. Pedro I,  fez a seguinte observação: “Se o congresso não trabalha, pelo menos dança bem”.   

 

 

 

 

 

 

 

 

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