Entrevistando o filósofo Edgar Morin no programa Roda Viva, o
entrevistador Heródoto Barbeiro perguntou ao sábio se acreditava em deus. Como
sempre acontece, o filósofo tergiversou e terminou se declarando, como fez
outro sábio, o Einstein, acreditar no deus impessoal de Baruch Espinosa. O tabu
da religiosidade é tão poderoso que embora inteiramente incompatível com a
realidade, submete sábios à irrealidade de agir a natureza com inteligência,
não obstante o câncer, a malformação, a cegueira, a loucura, enfim, ante a
realidade de não haver como atender às necessidades sem que se tenha dinheiro, não
se poder prescindir de atendê-las, e não ter dinheiro.
Entre os sábios, raros foram aqueles que a exemplo de Nietzsche
tiveram coragem e se insurgiram contra a farsa da religiosidade, mostrando
tratar-se de crendice infundada, facilmente percebível quando se verifica ser
mais acentuada nas pessoas mais desprovidas de conhecimento. É que as crenças,
como as rochas, estratificam ao longo dos tempos, e, como as rochas, depois de
formadas, se tornam aparentemente indestrutíveis. Mas, só aparentemente visto que
o inevitável esclarecimento decorrente da experiência destruiu as crenças das
mitologias e elas passaram de religiosidade a nada mais que entretenimento
cultural como esta gostosa historiazinha inventa por Virgílio, na Eneida, e
lembrada na página 138 de História Geral E Do Brasil, de Cláudio Vicentino e
Gianpaolo Dorigo sobre a fundação de Roma: o filho de Vênus, Eneias, fugiu para o Lácio
depois da destruição de Tróia levando seu filho Ascânio que veio a fundar a
cidade de Alba Longa. Posteriormente, quando outra já era o rei de Alba Longa, Reia
Silvia, sua filha, destinada pelo pai a se tornar Vestal, engravida do deus
Marte e pare os gêmeos Rômulo e Remo. Por ter quebrado a promessa do pai de ser
virgem e servir à deusa Vesta, Reia Silvia foi condenada à morte, e os gêmeos,
abandonados às margens do Rio Tibre para morrer. Amamentados por uma loba,
recolhidos e criados pelo pastor Fausto, vieram a fundar uma cidade no local
onde tinham sido achados. Rômulo mata Remo e dá à cidade o nome de Roma.
O mesmo destino de entretenimento literário em que incorreram
as mitologias espera pelas religiões atuais e seus ritos parafernálicos. Provocarão
risos as práticas de lavar e beijar pés de mendigos, conversar com estátua,
comprar feijão milagroso, ritual sagrado de lavar escadas de igrejas e entregar
dinheiro a representantes de deus.
Entretanto, como fazer a humanidade saber que a religiosidade é um meio de fomentar humildade e conformismo necessários para passar necessidade num mundo cheio de riqueza?
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