terça-feira, 25 de agosto de 2020

ARENGA 425

 

Entrevistando o filósofo Edgar Morin no programa Roda Viva, o entrevistador Heródoto Barbeiro perguntou ao sábio se acreditava em deus. Como sempre acontece, o filósofo tergiversou e terminou se declarando, como fez outro sábio, o Einstein, acreditar no deus impessoal de Baruch Espinosa. O tabu da religiosidade é tão poderoso que embora inteiramente incompatível com a realidade, submete sábios à irrealidade de agir a natureza com inteligência, não obstante o câncer, a malformação, a cegueira, a loucura, enfim, ante a realidade de não haver como atender às necessidades sem que se tenha dinheiro, não se poder prescindir de atendê-las, e não ter dinheiro.

Entre os sábios, raros foram aqueles que a exemplo de Nietzsche tiveram coragem e se insurgiram contra a farsa da religiosidade, mostrando tratar-se de crendice infundada, facilmente percebível quando se verifica ser mais acentuada nas pessoas mais desprovidas de conhecimento. É que as crenças, como as rochas, estratificam ao longo dos tempos, e, como as rochas, depois de formadas, se tornam aparentemente indestrutíveis. Mas, só aparentemente visto que o inevitável esclarecimento decorrente da experiência destruiu as crenças das mitologias e elas passaram de religiosidade a nada mais que entretenimento cultural como esta gostosa historiazinha inventa por Virgílio, na Eneida, e lembrada na página 138 de História Geral E Do Brasil, de Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo sobre a fundação de Roma:  o filho de Vênus, Eneias, fugiu para o Lácio depois da destruição de Tróia levando seu filho Ascânio que veio a fundar a cidade de Alba Longa. Posteriormente, quando outra já era o rei de Alba Longa, Reia Silvia, sua filha, destinada pelo pai a se tornar Vestal, engravida do deus Marte e pare os gêmeos Rômulo e Remo. Por ter quebrado a promessa do pai de ser virgem e servir à deusa Vesta, Reia Silvia foi condenada à morte, e os gêmeos, abandonados às margens do Rio Tibre para morrer. Amamentados por uma loba, recolhidos e criados pelo pastor Fausto, vieram a fundar uma cidade no local onde tinham sido achados. Rômulo mata Remo e dá à cidade o nome de Roma.

O mesmo destino de entretenimento literário em que incorreram as mitologias espera pelas religiões atuais e seus ritos parafernálicos. Provocarão risos as práticas de lavar e beijar pés de mendigos, conversar com estátua, comprar feijão milagroso, ritual sagrado de lavar escadas de igrejas e entregar dinheiro a representantes de deus.

Entretanto, como fazer a humanidade saber que a religiosidade é um meio de fomentar humildade e conformismo necessários para passar necessidade num mundo cheio de riqueza? 

 

 

 

 

 

 

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