sábado, 6 de setembro de 2014

A PRESIDENTE E A BÍBLIA II


A candidata que os fuxiquentos afirmam ganhar a eleição é de indiscutível honestidade. Embora tenhamos tido quem se apresentasse com cara de santinho por ter vindo de lá de baixo e se mostrasse satanás, já da honestidade de dona Marina não se pode duvidar. Entretanto, como através de todos os tempos a política nunca foi além da meia verdade por preferir os subterfúgios da obscuridade, a honestidade de dona Marina vai ter de ter um jogo de cintura maior que o do gato para manter-se limpa em meio ao lamaçal. Caso ela consiga realmente impor-se pela honestidade, mesmo sendo inteligente como realmente é, pode vir a ser prejudicada pela sua comprovada inocência em relação à vida e à realidade do mundo, por ser característico do religioso. Ela demonstrou este desligamento da realidade (Na interpretação de quem observa a vida) quando repetiu feito papagaio e com muita convicção uma frase atribuída a Jesus Cristo, personagem que talvez nem tenha existido, como afirmam estudiosos da história da humanidade. Entretanto, dona Marina nem desconfia disso e repelirá veementemente quem avisá-la que um historiador lá das bandas da Inglaterra escreveu um livro afirmando que Cristo nada mais foi do que uma invenção do governo romano. E dona Marina sabe bem de que o governo é capaz. Mas, como para o religioso não há necessidade de se desconfiar de nada que vem da religião, dona Marina tascou com toda convicção o seguinte: A VERDADE VOS LIBERTARÁ.

Ao dizer isso, dona Marina expôs seu despreparo para a arte de viver porque a vida necessita de atitudes baseadas no raciocínio e é por isso que por mais Maria-vai-com-as-outras que alguém pode ser, chega um tempo em que é obrigado a tomar uma atitude de sua própria lavra, e ninguém toma atitude sem que ela saia do raciocínio. Mas a afirmação de dona Marina foi afirmada sem raciocínio porque na política o que mostra a historia é que se vê em palpos de aranha aquele que busca a verdade. O mundo da política é o contrário do mundo dos seres humanos. Lá, quando entra em recesso, em vez de diminuir, aumenta a despesa, não obstante não se trabalhar. Se dona Marina não estivesse enfeitiçada como a garota também de origem humilde como ela e como ela também de infância difícil e que tinha certeza de estar comprando um lugar no céu com o dinheiro que levava para a igreja, já teria percebido o engodo que é a religião, conclusão a que chegaram todos aqueles que dedicaram anos a estudar profundamente o assunto através da comparação entre o que diz a religião e o que dizem os acontecimentos vividos e registrados pela história dos povos. Qualquer pessoa que fizer o mesmo chegará à mesma conclusão. Mas são raríssimos os que se dispõem a esta tarefa em virtude da correria atrás de dinheiro. Alguns para sobreviver, outros para mostrar na Revista Forbes, mas todos correm atrás dele. Ainda que pudesse, dona Marina dispensaria a revista Forbes com certeza. Mas como sempre lutou pela sobrevivência, ainda não teve tempo para esquecer a proibição de conhecer o outro lado e dar uma lida nos ilustres Grandes Mestres do Saber.

Enfim, se dona Marina me permite, lembro a ela que na política a verdade condena em vez de libertar porque quem quer que busque a verdade na política encontra o destino trágico de Wladimir Herzog e de tantos jovens cujas ossadas se descobrem a cada dia. A história está cheia de provas materiais desta realidade, mas como os religiosos não se dão ao trabalho de pesquisar sobre o que se ouve, o tapa-olho da obstinação não lhes permite enxergar a realidade contrária, embora escancarada.

O que aconteceu com o Martin Luther King é prova material de que a verdade condena em vez de libertar. O que queria aquele negão do coração de ouro? Queria que todos reconhecessem que a cor da pele não é indicativo de superioridade nem de inferioridade. Pode haver maior verdade? Pois ele foi assassinado por defender isso. Assim, como dizer que a verdade liberta? É da infantilidade humana, incapaz de levantar a cabeça para enxergar além do monte de dinheiro ou do aparelho de futucar que nascem todos os males. Isso precisa ser escrito em todos os muros do mundo, como disse o mestre do saber e do bigodão. É preciso espernear contra esta ingenuidade que impede o desenvolvimento espiritual necessário para que os seres humanos deixem de se considerar inimigos uns dos outros, e não é isso que a religião mostra. Na história da religião deixa o mesmo rastro de sangue e destruição que se for seguido vai levar também às grandes nações de povo religioso que faz pose por desfrutar de grande conforto, mas que nem imagina quantas vidas foram sacrificadas para que ele possa apertar o botão e fazer o ambiente ficar a gosto.    

Se Lamarca e Marighela eram demônios, como se explica que o Frei Tito estivesse do lado deles e que também fosse assassinado por defender a verdade? Ou não é verdade que o objetivo deles estava mais certo do que o objetivo dos que portavam a bandeira da mentira de deixar o bolo crescer prá dividir depois? É interessantíssima a falta de interesse do religioso na realidade. A mistura da religiosidade injetada junto com as vacinas do tempo dos cueiros produz o efeito colateral de castrar o raciocínio. Assim, se estiverem certos os arengueiros, estaremos como pêndulo entre a vantagem da honestidade e a desvantagem da inocência que é ainda mais acentuada em quem teve a infância ligada a ambiente religioso, principalmente quem era obrigado a conviver com sofrimentos porque eles amolecem o cérebro deixando-o a mercê de quem quiser, sendo abocanhado pela religião que o inutiliza como provedor de raciocínio. Os raciocínios provenientes de cérebros sadios e soberanos dos sociólogos chegaram à conclusão de que o lugar onde há muita religiosidade é também o mais atrasado, o que pode ser constatado apenas olhando em volta. Então, para que serve a religiosidade, se quanto maior ela é também é maior o atraso? Onde as crianças morrem mais, num ambiente religioso paupérrimo ou num ambiente de ateus ricos? Se assim é, o que pode ser senão falta de maturidade para justificar a religiosidade? E se dona Marina é imatura poderá ser boa presidente, mas a possibilidade maior é que não o seja. E aí, como ficamos nós? Como sempre: arranjando um consolo. Desta vez pode ser o de que poderíamos ainda ficar pior, seja lá qual for a condição em que estivermos. Né, não? Inté.

 

 

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