A candidata
que os fuxiquentos afirmam ganhar a eleição é de indiscutível honestidade.
Embora tenhamos tido quem se apresentasse com cara de santinho por ter vindo de
lá de baixo e se mostrasse satanás, já da honestidade de dona Marina não se
pode duvidar. Entretanto, como através de todos os tempos a política nunca foi
além da meia verdade por preferir os subterfúgios da obscuridade, a honestidade
de dona Marina vai ter de ter um jogo de cintura maior que o do gato para manter-se
limpa em meio ao lamaçal. Caso ela consiga realmente impor-se pela honestidade,
mesmo sendo inteligente como realmente é, pode vir a ser prejudicada pela sua
comprovada inocência em relação à vida e à realidade do mundo, por ser característico
do religioso. Ela demonstrou este desligamento da realidade (Na interpretação
de quem observa a vida) quando repetiu feito papagaio e com muita convicção uma
frase atribuída a Jesus Cristo, personagem que talvez nem tenha existido, como
afirmam estudiosos da história da humanidade. Entretanto, dona Marina nem
desconfia disso e repelirá veementemente quem avisá-la que um historiador lá
das bandas da Inglaterra escreveu um livro afirmando que Cristo nada mais foi
do que uma invenção do governo romano. E dona Marina sabe bem de que o governo
é capaz. Mas, como para o religioso não há necessidade de se desconfiar de nada
que vem da religião, dona Marina tascou com toda convicção o seguinte: A
VERDADE VOS LIBERTARÁ.
Ao dizer
isso, dona Marina expôs seu despreparo para a arte de viver porque a vida
necessita de atitudes baseadas no raciocínio e é por isso que por mais
Maria-vai-com-as-outras que alguém pode ser, chega um tempo em que é obrigado a
tomar uma atitude de sua própria lavra, e ninguém toma atitude sem que ela saia
do raciocínio. Mas a afirmação de dona Marina foi afirmada sem raciocínio
porque na política o que mostra a historia é que se vê em palpos de aranha
aquele que busca a verdade. O mundo da política é o contrário do mundo dos
seres humanos. Lá, quando entra em recesso, em vez de diminuir, aumenta a
despesa, não obstante não se trabalhar. Se dona Marina não estivesse
enfeitiçada como a garota também de origem humilde como ela e como ela também
de infância difícil e que tinha certeza de estar comprando um lugar no céu com
o dinheiro que levava para a igreja, já teria percebido o engodo que é a
religião, conclusão a que chegaram todos aqueles que dedicaram anos a estudar
profundamente o assunto através da comparação entre o que diz a religião e o
que dizem os acontecimentos vividos e registrados pela história dos povos. Qualquer
pessoa que fizer o mesmo chegará à mesma conclusão. Mas são raríssimos os que se
dispõem a esta tarefa em virtude da correria atrás de dinheiro. Alguns para
sobreviver, outros para mostrar na Revista Forbes, mas todos correm atrás dele.
Ainda que pudesse, dona Marina dispensaria a revista Forbes com certeza. Mas como
sempre lutou pela sobrevivência, ainda não teve tempo para esquecer a proibição
de conhecer o outro lado e dar uma lida nos ilustres Grandes Mestres do Saber.
Enfim, se
dona Marina me permite, lembro a ela que na política a verdade condena em vez
de libertar porque quem quer que busque a verdade na política encontra o
destino trágico de Wladimir Herzog e de tantos jovens cujas ossadas se
descobrem a cada dia. A história está cheia de provas materiais desta
realidade, mas como os religiosos não se dão ao trabalho de pesquisar sobre o
que se ouve, o tapa-olho da obstinação não lhes permite enxergar a realidade
contrária, embora escancarada.
O que aconteceu
com o Martin Luther King é prova material de que a verdade condena em vez de
libertar. O que queria aquele negão do coração de ouro? Queria que todos
reconhecessem que a cor da pele não é indicativo de superioridade nem de
inferioridade. Pode haver maior verdade? Pois ele foi assassinado por defender
isso. Assim, como dizer que a verdade liberta? É da infantilidade humana,
incapaz de levantar a cabeça para enxergar além do monte de dinheiro ou do
aparelho de futucar que nascem todos os males. Isso precisa ser escrito em
todos os muros do mundo, como disse o mestre do saber e do bigodão. É preciso
espernear contra esta ingenuidade que impede o desenvolvimento espiritual
necessário para que os seres humanos deixem de se considerar inimigos uns dos
outros, e não é isso que a religião mostra. Na história da religião deixa o
mesmo rastro de sangue e destruição que se for seguido vai levar também às
grandes nações de povo religioso que faz pose por desfrutar de grande conforto,
mas que nem imagina quantas vidas foram sacrificadas para que ele possa apertar
o botão e fazer o ambiente ficar a gosto.
Se Lamarca
e Marighela eram demônios, como se explica que o Frei Tito estivesse do lado
deles e que também fosse assassinado por defender a verdade? Ou não é verdade
que o objetivo deles estava mais certo do que o objetivo dos que portavam a
bandeira da mentira de deixar o bolo crescer prá dividir depois? É
interessantíssima a falta de interesse do religioso na realidade. A mistura da
religiosidade injetada junto com as vacinas do tempo dos cueiros produz o
efeito colateral de castrar o raciocínio. Assim, se estiverem certos os
arengueiros, estaremos como pêndulo entre a vantagem da honestidade e a
desvantagem da inocência que é ainda mais acentuada em quem teve a infância
ligada a ambiente religioso, principalmente quem era obrigado a conviver com
sofrimentos porque eles amolecem o cérebro deixando-o a mercê de quem quiser,
sendo abocanhado pela religião que o inutiliza como provedor de raciocínio. Os
raciocínios provenientes de cérebros sadios e soberanos dos sociólogos chegaram
à conclusão de que o lugar onde há muita religiosidade é também o mais
atrasado, o que pode ser constatado apenas olhando em volta. Então, para que
serve a religiosidade, se quanto maior ela é também é maior o atraso? Onde as
crianças morrem mais, num ambiente religioso paupérrimo ou num ambiente de
ateus ricos? Se assim é, o que pode ser senão falta de maturidade para justificar
a religiosidade? E se dona Marina é imatura poderá ser boa presidente, mas a
possibilidade maior é que não o seja. E aí, como ficamos nós? Como sempre:
arranjando um consolo. Desta vez pode ser o de que poderíamos ainda ficar pior,
seja lá qual for a condição em que estivermos. Né, não? Inté.
Nenhum comentário:
Postar um comentário