Cheguei a
uma pequena indústria e perguntei a dois jovens trabalhadores que trabalhavam
numa máquina, por um terceiro trabalhador com quem em precisava falar. Com um
rizinho de gozação, responderam que tinha ido fazer exame de próstata, ao que
lhes indaguei qual o motivo do riso, visto que chegaria a vez de também eles
fazerem aquele exame necessário na maturidade da vida, o que foi uma surpresa
desagradável e até repulsiva para eles. Refutaram a idéia, afirmando
categoricamente que nunca iriam precisar disso. É assim que a juventude é
preparada para enfrentar a vida e é exatamente por falta de preparação que a
sociedade está indo para o brejo. Sendo a sociedade o reflexo das pessoas que a
formam, uma sociedade formada por idiotas que não tem a menor noção de uma
coisa tão simples quanto a decadência do seu próprio corpo, diferenciando-se
dos bichos apenas por saber falar onde está doendo, será uma sociedade como a
nossa onde é normal se encontrar pedaços de corpo humano pelas ruas, forma
perigosa de se viver porque distante da realidade, e não se pode viver de
fantasias como a do mundo encantado das autoridades onde tudo é realmente um
encanto antes de se transformar em tormento como já aconteceu pelaí afora. No
mundo das famílias a despesa se limita à receita. Mas no mundo das autoridades
não é assim. Lá, o negócio é tão encantador que mesmo com a economia crescendo
como rabo de cavalo, a arrecadação e os gastos continuam aumentando.
Uma questão
à qual é indiferente a juventude supostamente esclarecida: o processo de
escolha das autoridades que vão governar o país precisa envolver fortunas,
aviões, caminhões, barcos, canoas, automóveis, ônibus, telhas, sacos de
cimento, assassinatos, disenterias e dentaduras? Uma coisa tão simples de se
chegar à urna e digitar um número, no entanto, envolve coisas do arco da velha.
Os setenta por cento de jovens politicamente esclarecidos que a imprensa encontrou
no Brasil, por acaso, sabem o motivo de tanta confusão em torno das eleições? Claro
que não sabem. Quando houver realmente setenta jovens esclarecidos entre cem deles,
estes setenta saberão que a euforia das eleições é a mesma que tomaria conta
das pessoas de determinado grupo querendo cada uma chegar primeiro a determinado
lugar onde se encontra um gênio com uma lâmpada fumacenta proporcionando a quem
chegar lá um modo de vida tão maravilhoso que afastaria para sempre qualquer
possibilidade de não poder realizar os sonhos por mais perdulários que fossem. Um
mundo tão maravilhoso onde não se precisa ser careca, e onde as cuecas quando
ficam cheias, é de dinheiro. Há até quem acredite ser presente de Deus a
ventura de alcançar uma posição de mando no mundo embaralhado das autoridades
com acesso à chave do cofre. O embaralhamento é propositadamente orquestrado
para não ser entendido como é que funciona a coisa no interior dos palácios
onde pastas 007 navegam impunemente enquanto a juventude supostamente
esclarecida, mas boba na realidade, que paga a conta, é convencida a ir para a
igreja ou para algum terreiro de axé ou futebola, preferencialmente levando os
filhos para que já cresçam idiotizados e sem interesse em saber porque se
afirma que todos são iguais perante a lei, mas não existe um só rico entre os infelizes
amontoados nos presídios como sacos de lixo, num sofrimento tão grande que os
está transformando em esquizofrênicos desassistidos, enquanto alastram clínicas
psiquiátricas para cães e gatos das madames e seus madamos frequentadores de
igreja.
O ato de
votar entre pessoas esclarecidas é manifestar sua preferência pelo melhor
pretendente ao cargo público, manifestação esta cuja eficiência depende de se
conhecer o passado, o caráter e as convicções do candidato e suas propostas de
como melhor organizar a sociedade com menor custo, o que equivale a ser
estadista, coisa que jovens futucadores de telefone incapazes de saber que vão
envelhecer e ter de fazer exame de próstata estão a anos luz de distância,
razão pela qual estão aí com promessa de forte votação palhaço e jogador de futebola,
enquanto uma personalidade política do tipo de Eloisa Helena os bobos
desconhecem, ao passo que deveriam carregá-la nos braços e colocá-la no
primeiro posto de mando e tomar conta dela para não ser perseguida como tem
sido e são tantos quantos se empenhem em trabalhar honestamente para que do seu
trabalho resulte real benefício para a sociedade. Estes são preteridos em favor
de quem usa o cargo como ponte para o mundo da fantasia das farturas,
principalmente de dinheiro, virando as costas para os interesses da massa
amorfa de ignorantes que nem mesmo sabem a diferença entre “como” e “comer”, e
nem querem perder tempo com isso porque vai começar o jogo.
Nesse exato
momento os senadores anularam uma decisão da agência encarregada de proteger a
sociedade através da fiscalização dos remédios, fazendo retornar às farmácias
um medicamento que aquela agência houve por bem proibir por ser perigoso
conforme constatação científica. É esse desinteresse que leva a fazer festas
com o dinheiro público. Por interesses escusos das autoridades os jovens que
tiverem de tomar o medicamento vão correr o risco do efeito colateral grave
anunciado pela ciência, coisa a que não aceitariam se fossem realmente
esclarecidos para desconfiar de mutreta por trás disso aí.
Prá
qualquer lado que se vire lá estão os desmandos próprios de sociedade de
pessoas sem esclarecimento e que sofrem por isso. A juventude está vivendo
perigosamente em função de sua alienação. É como alguém num campo minado sem
saber das minas. Com o sistema capenga de educação, o resultado são
profissionais também capengas como os médicos e a juíza pagos para proteger a
sociedade, mas ocasionaram a morte de um jovem ao considerar apto ao convívio
social e colocar em liberdade um religioso e assassino louco que apenas três
anos antes havia matado o também religioso Glauco e o filho.
A balbúrdia
em que transformaram a administração pública pode ser vista em dois artigos
escritos recentemente por quem entende sobejamente de sociedade. Um deles é um
exame pelo ex-ministro Ernane Galvêas sobre a conjuntura econômica do país, onde
à pergunta se o Brasil vai bem ou mal, diz que a reposta depende da pessoa a
quem é feita a pergunta. Isto é falsidade porque quem faz uma pergunta espera
ouvir a verdade e a verdade é só uma. Será falsa a resposta a quem quiser saber
se o Brasil vai bem ou mal se respondida pelo fabricante de armas, donos dos
planos de saúde, das farmácias e das funerárias porque estes são itens
necessários à guerra civil que abastece suas contas bancárias. O outro artigo é
de autoria do grande jornalista Mauro Santayana, intitulado “As Escolhas de
Dona Marina”. Ali, além das observações do grande entendedor de problemas
sociais, também se pode tomar conhecimento de uma total parafernália de mistura
de economia, sociologia, estatística e coisa e tal, de compreensão dificílima, confusão
adredemente preparada para esconder as coisas que o governador de São Paulo
afirma serem capazes de fazer reaparecer muitas guilhotinas. Mas como essa
prosa já vai longe, inté.
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