segunda-feira, 8 de setembro de 2014

ARENGA CINQUENTA E QUATRO


O exercício da atividade política não tem de envolver necessariamente desonestidade como sempre envolveu. Mais ali, menos acolá, mas a verdade é que sempre se desvirtuou o verdadeiro sentido da política a fim de beneficiar os privilegiados de sempre em detrimento do resto, considerado realmente um “resto” todos fora desse grupinho de privilegiados. E o curioso disso tudo é que é o “resto” que paga a conta porque os privilegiados fazem corpo mole na hora de dividir a despesa e sempre tem um pauzinho mágico que nunca os deixa perder no par ou ímpar. Uma olhadinha na desproporcionalidade entre a contribuição de um dos privilegiados que tem dez bilhões e a de um do “resto” que tem apenas dez mil, atestará que se o primeiro pagasse em cada cem unidades o mesmo valor que pagou o segundo, seria necessário dobrar o tamanho do cofre do erário.

Desde a eternidade, onde quer que houvesse, há, ou venha a haver alguém representando um grupo em atividade que envolvesse ou envolva dinheiro, é inevitável o roubo porque o ser humano nunca se livrou do medo dos tempos em que só se comia o que se achava, e esse medo que o obrigava a se apossar de qualquer coisa de qualquer jeito ainda permanece provocando uma necessidade inexistente nos tempos de agora quando há fartura de tudo. Esse comportamento primitivo de rato devia decrescer como decresceram outros comportamentos orientados também pelo instinto primitivo, como o comportamento de comer restos de carne. O mesmo não aconteceu com o comportamento de ajuntar coisa, que leva a avançar sobre quem tenha algo que pode ser tomado.

A dificuldade de se despertar para a realidade de se viver tempos novos exigindo novos comportamentos está na seguinte situação: Todo despertar precisa passar primeiro pelo convencimento. Mas todo convencimento precisa passar primeiro pelo cérebro. Mas todo cérebro precisa de alimento vindo do mundo espiritual para tomar decisões sábias, e é justo aqui que a coisa pega porque cérebro que se alimenta nas igrejas, no axé e no futebola não tem como ir além das orações, do requebramento de quadris e dos pés do jogador de futebola. A televisão é provedora eficiente do esterco com o qual são adubados os raciocínios medíocres com interesse em saber sobre os lugares onde a “famosa” já trepou. Tem uma propaganda pelaí que o cara pede à mulher para mudar da novela para o futebola. Não vai além disso a capacidade cerebral do povo. Cérebros sevados com religião, axé e futebola jamais subirão às alturas de uma espiritualidade elevada bastante para formar uma sociedade de gente civilizada. Raciocínio rasteiro produz um ambiente próprio para quem não enxerga nas laterais e por isso não pode perceber estar vivendo uma situação esquisita de se viver numa guerra que apesar de ser guerra ninguém dá atenção.

Esta situação é fruto da deturpação da política para a qual não há mais espaço na nova realidade. A velha política morreu. Teve a morte sentenciada com o procedimento que levou sua história a ser contada nas páginas policiais, com deputado indo dormir na cadeia e deputado procurado pela polícia. Não dá mais para remendar essa roupagem carcomida pelo tempo. Tão carcomida está que seus executores são odiados pelo povo e fogem dele, situação oposta à que devia ser porque ao se encontrar um ilustre guardião dos seus direitos, a atitude correta não podia ser outra senão a de grande simpatia por aquele que faz por você o que você não pode fazer por estar batalhando a comida dos inchadim. Esse negócio de animosidade entre povo e autoridades é uma coisa muito esquisita. Um general acaba de dizer que não vai dar informações ao inimigo, declarando o exército propriedade sua e inimigo do povo que pediu a informação e que paga pela manutenção do exército. Esta situação de descalabro é o limite até onde pode ir o desmando. Do outro lado desse limite está a guilhotina do governador de São Paulo.

Embora montado numa tartaruga, o esclarecimento segue a obscuridade montada numa lebre. Como a tartaruga não cansa, acaba chegando lá e iluminando o ambiente, com o que enfraquece a força da obscuridade. O poder que tinha o chefe político de matar alguém apenas por cismar com sua cara ou para lhe tomar a mulher, não existe mais.

Mas esse enfraquecimento da obscuridade mental não conta com a cooperação da política para ser enfraquecido, no que reside toda a falha do comportamento social humano porque a razão de ser da política é exatamente o contrário do que está sendo feito. Ela existe para proporcionar ao povo a melhor qualidade de vida que puder com os recursos de que dispõe. Como em primeiro lugar estão as necessidades reais e imaginárias do grupinho dos privilegiados, o que sobra para o “resto” deixa-o na situação em que se encontra esta sociedade de rezadores, chutadores e requebradores, da qual começa a despontar gato pingado despertando para a realidade de haver algo errado pelaí.

Da inversão do papel da política resultou que ela trabalha para evitar o incremento do esclarecimento. Mas, por mais força nesse sentido, a tartaruga acaba chegando com o esclarecimento. Aumenta o número dos que conseguem perceber o que se passa nas laterais, e o boato se espalha principalmente através dos Grandes Mestres do Saber, que devem ser a única fonte de inspiração para orientar no caminho da paz. Com eles se aprende que a vida pode ser agradável enquanto dura, não se restringindo apenas ao período que vai do primeiro carro ao primeiro casamento, tempo em que nem de longe se pensa no primeiro exame de próstata, e muito menos na primeira UTI. É isso aí. Inté.

 

 

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