O exercício
da atividade política não tem de envolver necessariamente desonestidade como
sempre envolveu. Mais ali, menos acolá, mas a verdade é que sempre se
desvirtuou o verdadeiro sentido da política a fim de beneficiar os privilegiados
de sempre em detrimento do resto, considerado realmente um “resto” todos fora
desse grupinho de privilegiados. E o curioso disso tudo é que é o “resto” que
paga a conta porque os privilegiados fazem corpo mole na hora de dividir a
despesa e sempre tem um pauzinho mágico que nunca os deixa perder no par ou
ímpar. Uma olhadinha na desproporcionalidade entre a contribuição de um dos
privilegiados que tem dez bilhões e a de um do “resto” que tem apenas dez mil,
atestará que se o primeiro pagasse em cada cem unidades o mesmo valor que pagou
o segundo, seria necessário dobrar o tamanho do cofre do erário.
Desde a
eternidade, onde quer que houvesse, há, ou venha a haver alguém representando
um grupo em atividade que envolvesse ou envolva dinheiro, é inevitável o roubo porque
o ser humano nunca se livrou do medo dos tempos em que só se comia o que se
achava, e esse medo que o obrigava a se apossar de qualquer coisa de qualquer
jeito ainda permanece provocando uma necessidade inexistente nos tempos de
agora quando há fartura de tudo. Esse comportamento primitivo de rato devia
decrescer como decresceram outros comportamentos orientados também pelo
instinto primitivo, como o comportamento de comer restos de carne. O mesmo não
aconteceu com o comportamento de ajuntar coisa, que leva a avançar sobre quem
tenha algo que pode ser tomado.
A
dificuldade de se despertar para a realidade de se viver tempos novos exigindo
novos comportamentos está na seguinte situação: Todo despertar precisa passar
primeiro pelo convencimento. Mas todo convencimento precisa passar primeiro
pelo cérebro. Mas todo cérebro precisa de alimento vindo do mundo espiritual
para tomar decisões sábias, e é justo aqui que a coisa pega porque cérebro que
se alimenta nas igrejas, no axé e no futebola não tem como ir além das orações,
do requebramento de quadris e dos pés do jogador de futebola. A televisão é provedora eficiente do
esterco com o qual são adubados os raciocínios medíocres com interesse em saber
sobre os lugares onde a “famosa” já trepou. Tem uma propaganda pelaí que o cara
pede à mulher para mudar da novela para o futebola. Não vai além disso a
capacidade cerebral do povo. Cérebros sevados com religião, axé e futebola
jamais subirão às alturas de uma espiritualidade elevada bastante para formar
uma sociedade de gente civilizada. Raciocínio rasteiro produz um ambiente
próprio para quem não enxerga nas laterais e por isso não pode perceber estar
vivendo uma situação esquisita de se viver numa guerra que apesar de ser guerra
ninguém dá atenção.
Esta situação
é fruto da deturpação da política para a qual não há mais espaço na nova
realidade. A velha política morreu. Teve a morte sentenciada com o procedimento
que levou sua história a ser contada nas páginas policiais, com deputado indo
dormir na cadeia e deputado procurado pela polícia. Não dá mais para remendar
essa roupagem carcomida pelo tempo. Tão carcomida está que seus executores são
odiados pelo povo e fogem dele, situação oposta à que devia ser porque ao se
encontrar um ilustre guardião dos seus direitos, a atitude correta não podia
ser outra senão a de grande simpatia por aquele que faz por você o que você não
pode fazer por estar batalhando a comida dos inchadim. Esse negócio de
animosidade entre povo e autoridades é uma coisa muito esquisita. Um general
acaba de dizer que não vai dar informações ao inimigo, declarando o exército
propriedade sua e inimigo do povo que pediu a informação e que paga pela
manutenção do exército. Esta situação de descalabro é o limite até onde pode ir
o desmando. Do outro lado desse limite está a guilhotina do governador de São
Paulo.
Embora
montado numa tartaruga, o esclarecimento segue a obscuridade montada numa
lebre. Como a tartaruga não cansa, acaba chegando lá e iluminando o ambiente,
com o que enfraquece a força da obscuridade. O poder que tinha o chefe político
de matar alguém apenas por cismar com sua cara ou para lhe tomar a mulher, não
existe mais.
Mas esse
enfraquecimento da obscuridade mental não conta com a cooperação da política
para ser enfraquecido, no que reside toda a falha do comportamento social
humano porque a razão de ser da política é exatamente o contrário do que está
sendo feito. Ela existe para proporcionar ao povo a melhor qualidade de vida
que puder com os recursos de que dispõe. Como em primeiro lugar estão as
necessidades reais e imaginárias do grupinho dos privilegiados, o que sobra
para o “resto” deixa-o na situação em que se encontra esta sociedade de rezadores,
chutadores e requebradores, da qual começa a despontar gato pingado despertando
para a realidade de haver algo errado pelaí.
Da inversão
do papel da política resultou que ela trabalha para evitar o incremento do
esclarecimento. Mas, por mais força nesse sentido, a tartaruga acaba chegando
com o esclarecimento. Aumenta o número dos que conseguem perceber o que se
passa nas laterais, e o boato se espalha principalmente através dos Grandes
Mestres do Saber, que devem ser a única fonte de inspiração para orientar no
caminho da paz. Com eles se aprende que a vida pode ser agradável enquanto
dura, não se restringindo apenas ao período que vai do primeiro carro ao
primeiro casamento, tempo em que nem de longe se pensa no primeiro exame de
próstata, e muito menos na primeira UTI. É isso aí. Inté.
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