O acúmulo
de aprendizado que a observação da vida nos proporciona se transforma em pura sabedoria.
Por quanto mais tempo e interesse se observa a vida e os acontecimentos dos
quais participamos ou temos notícia, mais sabedoria se adquire. Cheguei a esta
conclusão em virtude de um acontecimento que me fez ver que se eu vivesse um
milhão de anos terminaria a vida como gênio. Não teria outra classificação meu
raciocínio depois de acumular conhecimentos durante todo aquele tempo uma vez
que em apenas cinquenta anos adquiri conhecimentos suficientes para me dar ares
de verdadeiro gênio se comparado com uma pessoa que foi criada juntamente
comigo e meus irmãos. Tínhamos as mesmas atividades na fazenda do meu pai.
Entretanto, o mais importante é ter em mente a identidade de conhecimento entre
nós até a época em que contava eu com cerca de quinze anos. Até aí, o que um
sabia o outro sabia. A partir daí, fui levado pela vida para o caminho dos
estudos em vez de continuar a tirar leite, fazer requeijão e manteiga como
continuou essa pessoa a quem me refiro e que vai provar ter eu me tornado um
gênio. Fazendo um confronto entre os conhecimentos que adquiri nas atividades
que exigiam conhecimento literário, e o conhecimento desta pessoa que continuou
a tirar leite, fazer requeijão e manteiga, não se chega a outra conclusão senão
de ter eu adquirido um crescimento mental fabuloso porquanto aquela pessoa
continuava no mesmo nível de inocência ou desconhecimento das coisas da vida.
A história
se resume no fato de só ter a pessoa de quem falo aprendido a trabalhar com os
braços, enquanto eu fui levado para um mundo completamente diferente e convivi
com os mestres da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, entre
eles o Grande Mestre do Saber professor Alto de Castro. O certo é que ao chegar
à velhice eu que rezava o pai nosso do mesmo modo como fazia a pessoa de quem
falamos e de quem fiquei afastado por cinquenta anos, ao reencontrar esta
pessoa meio século depois, já bisavó, ela continuava pensando do mesmo modo
como pensava quando nosso trabalho era puramente braçal. Ao tomar conhecimento
do meu modo atual de pensar, me fez uma pergunta interessante cuja resposta
prova minha meu desenvolvimento mental. A pergunta foi a seguinte: “Ô, Zé
Mário, pruquê você está assim, se você não era assim?”
Esta
pergunta nunca me saiu da cabeça porque ela tem um alcance infinitamente maior
do que pode parecer. Tão grande que mostra não só a prova de ser a ignorância a
causa de todo o sofrimento do mundo, mas também mostra como evitá-los através
da instrução. A pessoa de quem falamos tinha realmente razão em me estranhar.
Ela continuava achando que é Deus que decide sobre nós. Continua sem saber ler,
enfim, continua não apenas cinquenta, mas centenas de anos atrasada em relação
a meu desenvolvimento mental no caminho da civilização. A constatação de que a
mentalidade dela se encontra séculos atrás é o fato dela entrar num ônibus e
viajar várias centenas de quilômetros por estradas perigosas para ir fazer
oração na Cidade da Lapa. Quando ela me fez aquela pergunta, foi com tristeza
que constatei haver um abismo entre nossas mentalidades e expliquei prá ela o seguinte:
Quando nós pensávamos do mesmo modo, tanto o meu quanto o seu conhecimento
cabia naquele dedal que você, minha mãe e minha irmã espetavam no dedo para empurrar
a agulha na costura. O fato de você ter permanecido no mesmo ambiente de
cinquenta anos passados e não ter sequer tido oportunidade de saber ler, nada
mudou na sua cabeça, de modo que seu conhecimento continua sendo suficiente
apenas para caber no dedal, enquanto meu conhecimento aumentou tanto em virtude
das coisas que aprendi desde aquela época em que nós pensávamos do mesmo jeito,
que o meu conhecimento atualmente não cabe dentro desta sua casa. Enquanto você
está certa de ser feliz por causa de Deus, eu estou certo de que você é infeliz
e não sabe. Quando você teve um piripaco cardíaco e só não ficou pior porque o
organismo reagiu, você não sabe que nenhum Deus lhe aliviaria as dores
terríveis no peito que só os medicamentos aliviam. Sei disso porque sem nenhum
Deus, tive enfarto e fiquei tão bom que já estou há muito vivendo além do
permitido pela estatística. Completei a resposta dizendo que ela nunca saberia
o significado da palavra erário, e muito menos que aquilo que ela está certa
vir de Deus, vem é dele, o erário, o único deus capaz de dar bem-estar.
Aí está a prova
material de que a instrução é a solução dos problemas sociais. Imaginemos que
não só esta pessoa de que falamos, mas se todas as pessoas do mundo tivessem
adquirido o conhecimento que eu adquiri sobre a vida e a sociedade, o mundo não
estaria em Guerras inacabáveis como definiu Arnaldo Jabor, simplesmente porque
nós nunca entraríamos em guerra nenhuma. Esta história esclarece perfeitamente
o mal proveniente da falta de oportunidade de se desenvolver os conhecimentos.
É desta falta que nascem os tormentos humanos. A ignorância da realidade por
parte da humanidade deixa tristeza em quem aprendeu algo com os Grandes Mestres
do Saber. Se apenas por aprender tão pouco que nem chega a saber escrever me deixa
alguém em situação desconfortável em relação a quem pensa que está bem graças a
Deus, faz entender a ojeriza que os Grandes Mestres do Saber declararam ter ao
povo de mentalidade do tipo que entra no ônibus prá ir fazer oração na Cidade
da Lapa.
Os adultos
continuam tão infantis a ponto de haver doutores comungando as mesmas idéias
dos analfabetos para os quais o mundo não tem mais de cinco ou seis mil anos.
Razão tinha quem disse que a ignorância é que astravanca o desenvolvimento, o
qual prefiro entender como desenvolvimento mental que a humanidade faz questão
de manter ao nível dos pés. Inté.
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