sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

ARENGA 364


Na introdução do livro O LIVRO DA ECONOMIA, Editora Globo, está dito que muita gente começa a se conscientizar da influência da economia sobre a riqueza e o bem-estar. Acontece, porém, que esse “muita gente” é nada ante a necessidade de haver interesse em peso, coletivo, sobre esse assunto. Considerando que a economia é a arte de gerir recursos, a economia política seria a atividade de gerir o dinheiro público ou erário, portanto, atividade da maior relevância por depender dela o bem-estar social, do qual depende o bem-estar individual, vez que este requer o consumo de bens que dependem desse dinheiro ou erário, dinheiro que os membros da sociedade juntam exatamente para atender suas necessidades de consumo. E ajuntam uma riqueza fabulosa porquanto resulta da contribuição que mais de sete bilhões de pessoas fazem diariamente. Todo santo dia pinga dinheiro, e muito dinheiro, no cofre público. É uma riqueza incalculável, suficiente para que absolutamente todos os seres humanos possam satisfazer todas as necessidades exigidas pela vida. Estranhamente, entretanto, acontece que em função do desinteresse coletivo pela administração desta riqueza, circunstância esta que vai se juntar ao fato de serem todos os seres humanos orientados pelo egoísmo, ao “primeiro eu e os meus”, o que resulta em ser a satisfação pessoal a primeira preocupação de todas as pessoas no mundo, não sendo diferentes as pessoas às quais a coletividade entrega a exclusiva responsabilidade pela gestão da imensa riqueza pública ou erário, tem-se como resultado desta equação que em obediência à cultura milenar do “primeiro eu” estas pessoas lancem mão do erário para si, os seus e os que os colocam nos postos de mando exatamente para lhes “facilitar” o cumprimento do dever de enriquecimento exigido pela cultura do TER. A indiferença pública em relação à administração do erário é tão grande que as pessoas afirmam preferir ficar longe dela por ser a coisa suja ou indigna, quando, na realidade, é o contrário. Com tal comportamento, os seres humanos desprezam a única fonte real de felicidade como “coisa suja” e transferem para as orações a esperança de ter saúde, quando ela depende de bons hospitais e eficientes profissionais da área. Da mesma forma, a educação e a segurança, elementos sem os quais se torna impossível o bem-estar, na verdade o que para os seres humanos é algo indescritível a que chamam de felicidade.

Enquanto a humanidade não tiver a economia política como primeiríssima coisa a merecer atenção de cada ser humano ao abrir os olhos pela manhã será infrutífera a busca por uma felicidade impossível de ser encontrada porquanto os seres humanos sempre agiram de modo a promover a própria infelicidade como decorrência de se recusarem a reconhecer não mais haver necessidade do medo de ficar sem ter o que comer e serem compelidos a tomar as provisões das outras pessoas porque isto impossibilita a harmonia sem a qual se torna impossível haver a tranquilidade indispensável ao bem-estar também chamado de felicidade. Não se pode estar tranquilo e ao mesmo tempo com medo da fome, da doença sem tratamento, de ladrões, de qualquer coisa a ser temida como, por exemplo, a incapacidade de se alcançar determinado objetivo do qual depende a sobrevivência, razão pela qual ela, a sobrevivência, não seria motivo de anseios ou apreensão caso dependesse de todos em vez de depender apenas da própria pessoa.

Daí ser irritante pela inutilidade, o papagaiamento dos papagaios de microfone e ridículos comentaristas políticos e econômicos em torno de quem vai ocupar determinado cargo, se o modo de exercê-lo visa o enriquecimento de poucos e o empobrecimento de muitos, dois polos negativos. Os seres humanos só dão foras. O maior deles é temer a morte e almejar a longevidade. Passada a frugalidade dos festejamentos, o que resta, como observou o Grande Mestre do Saber Schopenhauer, o que resta é um caco a ser cuidado pelas outras pessoas. Na verdade, uma “coisa”, para a qual nenhum interesse despertam os sítios, os iates, as compras em Me Ame. Sinal de ter chegado um pouco de sabedoria, enfim. Inté.    

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