quinta-feira, 2 de julho de 2020

ARENGA 622


À notícia de que a Basílica de Aparecida vai ser aberta para receber fiéis, na Folha de São Paulo, fiz o seguinte comentário que não foi publicado: “Abrem-se porteiras para entrar a manada”. Absolutamente nenhum igrejistas, axesista ou futebolista é capaz de entender o motivo da censura, assim como não acreditará que se fosse capaz de entender não haveria tanta miséria e sofrimento no mundo. Como não temo ser ridicularizado pelos “sabichões” que discorrem brilhantemente sobre a questão de saber se Jesus é deus, que Platão e Aristóteles divergiam quanto à eternidade da ideia de uma coisa e sua perecibilidade material, e nem as razões dos almofadinhas das letras para não se poder escrever chícara em vez de xícara, mas que nada veem de errado em se escrever “fake news” em vez de notícias falsas, vou ensinar a esta triste juventude a importância negativa que representam para sua vida coisas aparentemente simples, mas que, na verdade dão causa à violência, pobreza, falta de investimento em educação, gastos extraordinários com igrejas e terreiros para axé e futebola. Vamos lá?
Todos sabemos ser o bem-estar a maior aspiração de todo ser vivo, e que não se pode ter bem-estar sem ter dinheiro. Constatada esta realidade indiscutível, por que, então, apenas algumas pessoas da sociedade humana podem ter dinheiro com o qual ter acesso a bem-estar? Aristóteles tinha percebido o erro de tal situação porque ingenuamente propôs distribuição de dinheiro para que pobres pudessem superar a pobreza por meio de alguma atividade. Trata-se de ingenuidade porque a existência de impossibilitados de satisfazer suas necessidades também impossibilita que o agrupamento humano, ou sociedade, tenha sucesso porquanto sua finalidade é justamente criar condições que permitam a todos a possibilidade de poder satisfazer as necessidades, não deixando de fora nenhum deles. Portanto, a existência de esmoleres, de quem necessite de ajuda alheia, é indício de sociedade que não alcançou seu verdadeiro objetivo, uma sociedade desorganizada.
São capciosos os argumentos dos ajuntadores de riqueza de ser a pobreza fruto da inépcia porque como justificativa não enche barriga, com justificação ou sem justificação a inquietação de quem tem a barriga vazia provocará, de qualquer jeito, a inquietação de quem a tem aos roncos, inviabilizando a harmonia social com a violência indispensável à ação de solapar o que lhe falta de quem tem em excesso.
Daí é que se nunca deixou de haver pobreza no mundo é porque o mundo sempre foi desorganizado. E assim continuará enquanto não se compreender estar nesta desorganização a causa dos males que infelicitam a humanidade iludida por um engendramento terrivelmente maldoso montado para esconder a realidade atrás de mentiras monumentais. Como disse quem pensa, a mentira muito repetida passa a ser verdade. A intocabilidade da farsa religiosa protege o fanatismo religioso, braço direito do pão e circo com o qual os ajuntadores de riqueza engabelam a manada de modo tão espetacular que lhe vende feijão santo. Inté.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário