terça-feira, 7 de julho de 2020

ARENGA 626


À medida que cresce o número de livros na minha estante, mais evidencia o inexplicável desinteresse dos intelectuais em ajudar a humanidade a perceber a necessidade de achar um caminho que a leve para uma cultura que lhe possibilite viver com menos sofrimento. Que papagaios de microfone tenham por missão evitar que o povo se esclareça, isto se compreende porque além de incultos, eles o fazem em troca da despensa abastecida. Por volta de 4:30 desta manhã, ouvi no rádio um papagaio de microfone dizer que da Revolução Francesa resultou em uma nação livre, o que não é verdade uma vez que contestações têm pipocado por lá a exemplo de l968. Mas e os intelectuais, o que será que justifica sua omissão em ajudar a remir da indigência intelectual o pobre povo em seu comportamento de manada? Em linguagem tão distante do pobre povo, os intelectuais parecem escrever só para intelectuais. O primeiro volume de OS DONOS DO PODER, do intelectualíssimo Raimundo Faoro começa assim: “Nicht nur der Vernunft von Jahrtausenden – auch hr Wahnsinn bricht an uns aus. Gefärlich ist es, Erbe zu sein.”, passando em seguida a discorrer até com enaltecimento  o fato de ter sido o reino de Portugal fruto de vitórias obtidas em guerras, como se houve mérito em “ter nascido com uma espada na mão”. Heroísmo haveria na capacidade de superar os questionamentos sem sacrificar as famílias desfalcando-as dos filhos mortos nas guerras.
No livro ERA DOS EXTREMOS, outro intelectualíssimo, Eric Hobsbawn, refere-se às décadas de 1950 e 1960 como anos dourados face à estabilização do capitalismo, a expansão econômica e profundas transformações sociais, afirmando que a chegada dos anos 1990 teria trazido o começo de uma nova era. Mas a verdade é que o único evento que poderia ter sido realmente auspicioso para o país ocorrido na década de 1950, a fundação da Petrobrás, como também o capitalismo e a expansão econômica vieram a se mostrar uma forma de tirar o pouco que de quem tem pouco para aumentar o muito de quem já tem muito. Pasadena, malas, cuecas, pastas, bolsos e meias abarrotados de dinheiro são exemplos desta realidade.
Daí não se necessitar de intelectualismo estéril sobre sexo dos anjos, mas da praticidade de um trabalho visando substituir a indiferença coletiva pelo interesse em saber, por exemplo, a quantidade de dinheiro das emendas parlamentares que tem aplicação correta porque o que fica pelo caminho deve ser algo espantoso porquanto em 2010 o jornalista Carlos Amorim, na página 32 de ASSALTO AO PODER, diz que naquela época a corrupção correspondia a 200 bilhões de reais (20% do PIB). A quanto não andará isto atualmente? Faz-se necessário, portanto, não poupar esforço na tentativa de fazer ver à massa bruta de povo que enquanto ela faz oração, baila no axé e no futebola, não atenta para o fato de se esvair numa sangria incontida o dinheiro que se bem aplicado proporcionaria bem-estar social e individual. Inté.


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