Tirando fora a restrição imposta pela
pandemia, mesmo sem ela, haveria no mundo motivo para tanta alegria, tamanha
exorbitância em gastos com festividades, espetáculos esportivos endeusados pela
papagaiada de microfone, farras monumentais e esplendorosas mansões de
“famosos” e “celebridades” inúteis? Pencas de belíssimas mulheres de pernas abertas
para reis de pau oco, coroados pelo pão e circo? De quem se deve esperar
opinião sincera, de líderes religiosos e políticos ávidos por riqueza ou de filósofos
desprendidos e sinceros? Bingo para a terceira opção. O Grande Mestre do Saber
Nietzsche nos legou sábia orientação ao observar que o homem chega à maturidade
quando encara a vida com a mesma seriedade com que uma criança encara sua
brincadeira. Portanto, considerando a seriedade com que as crianças encaram
suas brincadeiras, é de se pensar e repensar o porquê da falta de seriedade com
que os adultos encaram a atividade de viver, dedicando seu curto período de
existência à atividade de juntar uma riqueza cujo excedente do necessário ou vai
virar motivo de briga entre herdeiros ou chamariz para ladrões, haja vista a disputa
ferrenha que a imensa fortuna dos erários provoca entre os ocupantes do cargo
de administrá-las e pretendentes ávidos por substituí-los no direito de gastá-la
em enriquecimento pessoal, montar poderosas forças militares com as quais
promover fratricídio entre jovens em busca de mais riqueza nos despojos das
guerras.
A realidade de ser este o modo como a
vida é encarada, apesar de passar longe da seriedade recomendada pelo filósofo,
tal situação é indicativo da necessidade de buscar uma nova era isenta da
loucura de transformar em indiferença ou obediência aos desatinos a rebeldia e
sagacidade que caracterizam uma juventude mentalmente sadia.
Se a seriedade com que a vida deve
ser encarada não exclui os divertimentos, exclui o exagero deles e inclui a
necessidade do conhecimento de que o vigor físico esvai e dá lugar a uma
velhice com exigência de cuidados cada vez maiores, até o exaurimento total e
morte. Mas a única preocupação que esta realidade deve levantar é quanto a
conveniência de se preservar alguma vitalidade a fim de se desfrutar de uma
velhice menos atribulada, como a minha, por exemplo, que aos oitenta e quatro, passados
os primeiros momentos da cirurgia para revigorar o coração, estou aqui feliz a
meditar e teclar este papo com os gatos pingados que superaram a fase de povo, curtindo
um uísque de boa qualidade, esperando que satanás leve de volta para os quintos
dos infernos sua pandemia que é para eu sair mundo afora pilotando com muita
competência meu carrão já ansioso de tanto esperar na garagem por seu competente
comandante habilitado com maestria há sessenta e seis anos.
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